Lembro que há uns oito anos atrás eu estava em uma sala de cinema assistindo a estreia de um filme, Alice dizia que pensava em seis coisas impossíveis antes do café da manhã, e agora nesse instante eu fazia o mesmo.
Veja bem, eu não tenho que matar um Jaguadarte, mas enfrentar uma Londres sem um carro é no mínimo parecido, não?
Respiro fundo e em seguida solto o ar lentamente enquanto encaro o teto branco do quarto por alguns minutos, talvez eu estava apenas com preguiça de levantar, afinal teria que atravessar a cidade para chegar na oficina do tal John Deacon.
Na noite anterior ele me ligou para acertarmos tudo sobre o concerto da Linda e também para me passar o endereço da oficina, e era para lá que eu estava indo.
O táxi para na minha frente logo que faço o sinal, entro e partimos. O trajeto durou em torno de 30 minutos e eu já estava com a expressão fechada, odiava que dirigissem pra mim.
Quando chegamos eu puder notar que a pequena oficina do Deacon na realidade não tinha nada de pequena. Haviam carros dos mais variados modelos espalhados por todo canto, ao que parece as classes média e alta gostavam do trabalho dele e de seus ajudantes.
Me aproximo do meu carro enquanto acendo um cigarro e sinto meu corpo relaxar instantaneamente. A Linda não estava tão linda como de costume, o seu para-choque havia sido removido, mas de resto parecia tudo estar em ordem, inclusive um farol novo estava no lugar do que foi danificado. Deslizo a mão pelo capô como quem diz "Estou aqui, querida." e solto mais uma vez a fumaça depois de tragar.
- Você deve ser o Roger. - Sou pego de surpresa por uma voz baixinha e me viro sendo surpreendido por um rapaz que parece ser mais novo que eu, usava um macacão jeans e uma camiseta um pouco encardida. - Meu nome é Deacon, John Deacon. Bem vindo à oficina.
Ele fala tudo de maneira tímida, mas gentil.
- Uhh, sim sou eu. - Falo e aperto sua mão em cumprimento. - É um prazer, John. Como está a Linda?
O mais novo dá uma risadinha ao ouvir o nome do carro, mas não diz nada, afinal já estava acostumado com alguns clientes que tinham tanto apreço pelo seu automóvel que os tratava como gente.
- O Impala 1967? é um belo carro, de fato. Se você estivesse com a velocidade um pouco mais acima o estrago seria bem maior, e você teria de brinde não apenas um corte na testa. - O rapaz dirige o olhar rapidamente para o curativo parcialmente escondido pelos meus fios de cabelo. - De qualquer forma, acho que ainda hoje você pode levar, só preciso repor o novo para-choque.
Ele dá dois tapinhas no capô e se afasta avisando que tinha que dar uma olhada em outros veículos, mas que logo voltaria para os últimos ajustes no meu carro.
Tomo a liberdade de explorar um pouco o local enquanto meu cigarro vai sendo consumido aos poucos.
As paredes da oficina contrastavam em preto e uma estranha cor meio prateada, e alguns ajudantes de John andavam ocupados pelo ambiente, em uma parede mais ao fundo haviam diversos pôsteres de antigas bandas de rock.
- É proibido fumar aqui sabia, Taylor?
Levo um pequeno susto quando a voz fala perto de mim, ao me virar vejo um Brian com expressão divertida.
Reviro os olhos.
- Quão pacata é a sua vida pra ter que cuidar da minha? - Rebato e ele me olha com surpresa, mas não deixa de sorrir. - Afinal, o John não me disse nada a respeito.
- Querido, o Deaky é muito educado pra dizer quando algo incomoda. - Freddie chega já falando alto e puxa o resto de cigarro por entre meus lábios e joga na lixeira próxima me arrancando um resmungo irritadiço. - Não briguem crianças, hoje eu quero manter o dia bem zen.
O rapaz junta os polegares aos seus respectivos indicadores e faz o exato som de uma pessoa que medita, eu solto uma risadinha mesmo sem perceber.
- Ah, vocês chegaram! - John aparece limpando suas mãos em um pano que parecia já ter aquela finalidade. - Roger, seu carro está pronto, quer ir dar uma olhada?
Recebo uma piscadela e não consigo parar de sorrir ao me dirigir até onde Linda se encontrava, e tenho que dizer que nunca vi o meu carro tão bonito antes, parecia novinho em folha.
Entro no veículo e coloco as mãos no volante enquanto fecho os olhos, havia sido um dia longe mas pareceu bem mais pra mim. Eu nunca mais ia correr tanto.
- Parece que você tá tendo um orgasmo, sabia? - Freddie fala atrapalhando meu momento, como sempre sem papas na língua, mas recebe um tapa de Deacon no seu ombro como repreensão. - Estávamos indo almoçar, gostaria de ir Roger? Tenho certeza que Bri iria adorar sua companhia.
Sinto um tom de divertimento, a face como de quem vai aprontar, cerro os olhos, eu estava com fome, além do mais que mal faria?
Eu já havia me feito essa pergunta antes, e como resultado sofri um acidente. Acho que dessa vez não pode acontecer algo tão pior quanto, né? Por fim, concordo com a cabeça e dou de ombros chamando John para poder pagá-lo pelo serviço, um de seus ajudantes já havia colocado meu carro para fora da oficina e este se encontrava estacionado em todo seu charme.
Quando retornamos ao local onde os outros dois rapazes estavam, uma discussão pouco acalorada se fazia.
- Eu já disse, Bulsara! Não irei no carro dele, você só tem idéias ridículas, cabeça de bagre.
- MERCURY! Ora Brian, o que custa? Você sabe que eu não tenho tanto tempo a sós com o Deaky. Por favor... - Freddie faz uma voz fofa no final.
Os fatos eram que Brian não conseguiria negar aquilo ao seu amigo, mesmo que isso significasse ter de dividir um carro com Roger Taylor. Sozinhos.
- Eu sabia que você ia concordar! - Acaba dando pulinhos por ali. - Roger, o Brian vai com você no seu carro e o Deaky comigo. Por favor, não se matem.
John sorri, Brian acaba revirando os olhos e cruzando seus braços na altura do peito.
- Certo, vamos lá, não temos o dia todo!
Um Roger rabugento sai na frente seguido pelo mais alto, os outros dois se direcionaram a um carro popular que estava estacionado do lado da oficina e passaram por nós buzinando.
Entro no carro e espero que Brian faça o mesmo para que eu possa girar a ignição e dar partida. O ronco alto do motor ecoa e me sinto feliz por breves minutos.
- Carrão, Taylor.
Ele diz e o encaro de soslaio enquanto dirijo, The Who toca ao fundo e como de costume acompanho a batida da música no volante.
- Como é possível você saber meu nome sendo que nunca havíamos nos conhecido antes? - Solto a questão que estava me perturbando.
Vejo o cacheado olhar pra mim, sua cabeça pende um pouco pro lado em um movimento adorável, e quase o comparo com um filhotinho de cachorro por ter feito aquilo.
Ao que me surpreende Brian sorri e vira o rosto para sua janela.- Eu sei muito mais sobre você do que seu nome, Roger Taylor.
Talvez aquilo não tenha sido o que eu esperava ouvir, mas de uma coisa eu tinha certeza, saí do carro com mais perguntas do que respostas.
•••
Pessoal, essa é a primeira fanfic que eu tô escrevendo, ainda tô aprendendo então tenham um pouquinho de paciência. Seria legal ter um retorno de vocês pra saber o que eu posso melhorar, se a escrita está boa e afins... 💕
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FIRST | maylor
Fanfic[CONCLUÍDA] Depois de um trauma quando mais jovem, a vida de Roger Taylor nunca mais foi a mesma. Mas um incidente turbulento traz para sua vida não só um para-choque danificado, mas um pouco de luz no meio da sua escuridão, respostas para um pas...