Capítulo 8

387 43 52
                                    

Sou tirado dos meus devaneios quando escuto o despertador berrar ensadecido.

Encaro o céu através da janela, e vejo os tons de rosa e laranja irem tomando a imensidão escura pouco a pouco. Os raios tímidos do sol lambiam lentamente as poucas nuvens que se empenhavam em decorar essa manhã de quarta-feira.

Respiro fundo antes de levantar da cama, eu não havia dormido nada, me sentia cansado mas ao mesmo tempo ansioso para sair logo.

Não perco tempo em ir fazer minha higiene matinal, poucos minutos depois já estou tomando um café forte para que eu me mantenha acordado durante o percurso até a casa da minha mãe.

Saio de casa levando a mochila apoiada apenas em um ombro, confiro duas vezes se tranquei tudo e entro no carro.

A brisa gélida do começo da manhã bate com força no meu rosto, meus dedos acompanham a batida da música que toca pelos auto-falantes da Linda.

Foi assim pelas duas horas que se passaram, dirigir até o sul da Inglaterra era nostálgico, observar a mudança de paisagens, sentir o ar mais frio e litorâneo entrando pelas minhas narinas. Mal percebi quando já estava dirigindo por uma das avenidas principais de Brighton.

Algumas pessoas caminhavam pelas calçadas conversando entre si, lojas estavam abertas e consigo ver mais a frente um grupo de jovens com mochilas adentrando num prédio de tijolos acinzentados. Franzo as sobrancelhas ainda encarando aquela cena, era tudo tão familiar.

Escuto uma buzina alta atrás do meu carro seguida de xingamentos e só assim percebo que parei no meio da rua, bufo e acelero em direção à Edith Avenue, não demora muito até eu estacionar na frente da casa dos Taylor e tocar o interfone.

Cruzo os braços numa tentativa falha de me fazer parar de balança-los por puro nervosismo quando alguém me responde.

- Residência dos Taylor.

- Ãh... oi, Marie? é o Ro...

- ROGER? Céus, menino! O que você tá fazendo aqui?

- Marie fala baixo, por favor.

Dou um tapinha na minha testa quando percebo que fui deixado no vácuo, mas logo o portão se abre e vejo a senhorinha de cabelos grisalhos vindo em minha direção com um grande sorriso estampado em seu rosto.

Sorrio com a visão e a deixo apertar minhas bochechas e depositar beijos estalados em cada uma, como sempre fazia desde que eu era menino.
Marie é a governanta da nossa família desde que me entendo por gente, era ela que encobria minha peripécias ou me dava bolo de chocolate escondido da minha mãe.

- Você já não deveria ter se aposentado, Marie?

- Bobagem, menino! Minha saúde é de ferro e veja o que seria dessa casa sem mim, um grande saco de merda.

Gargalho e a abraço de lado enquanto caminhamos para dentro.

- Estava com saudades de você e da sua boca suja. Onde está minha mãe?

- No banho, já ela desce. Gostaria de tomar café da manhã, querido?

Mesmo sem esperar minha resposta, a senhorinha sai me arrastando em direção à mesa posta perto da área de lazer da casa enquanto reclama que estou magricela.

FIRST | maylorOnde histórias criam vida. Descubra agora