Prólogo

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Olivia Cooper conferiu as horas no relógio do seu computador e constatou que ainda faltava cerca de meia hora para a chegada do seu novo chefe. Soltou um suspiro de satisfação e abriu o décimo quarto bombom da caixa apoiada em seus joelhos. Colocou o chocolate de uma só vez na boca e se deliciou com o sabor concentrado de maracujá.

Naquele momento, não se importava com absolutamente nada no mundo. Nem mesmo com sua mais recente decepção afetiva.

James Donavan, na verdade, era somente  mais um cara. Mais um entre uma vasta coleção de decepções. A história da vez? Um advogado charmoso beirando os trinta, que havia se aproximado de Olivia sorrateiramente na academia, emanando sinais óbvios de interesse.

Isso até conhecer uma de suas amigas, Natasha.

Pensando a respeito da última semana, Olivia sentiu-se envergonhada pela expectativa frustrada que havia pulsado em suas veias.

Céus! Ela havia tagarelado sem parar na cabeça das amigas! Relatando cada mísero detalhe acerca do flerte, assim como o tão esperado convite para o encontro num pub na sexta-feira à noite.

Olivia compareceu acompanhada das amigas e James do primo. Contudo, no instante em que as devidas apresentações foram realizadas, o interesse de James em Natasha ficou tão claro como a luz do dia. A morena curvilínea de longos cabelos negros, que não era boba nem nada, sabia perfeitamente como fazer bom uso de todo o seu poder de beleza e sedução, aprisionando a atenção do advogado loiro de olhos verdes e acabando de vez com a esperança de Olivia.

Ao final da tarde de domingo, dois dias depois, Nathy entrou em contato para pedir permissão para encontra-lo. Alegou que já estava de olho no cara há certo tempo e que não disse nada antes para não magoa-la. Segundo a "amiga", ambos se conheciam de vista desde os tempos da faculdade, período em que já havia uma troca de olhares pelos corredores. Considerando que James, na última sexta, finalmente declarou o seu interesse por Natasha, a mesma queria ser justa ao pedir o consentimento de Olivia, antes de tomar qualquer atitude mais drástica.

Como se Olivia pudesse ser capaz de impedir uma coisa assim!

Ela engoliu o orgulho ferido e a decepção de quebrar a cara mais uma vez e deu a maior força para a outra. Mesmo que Treena, amiga de ambas e melhor amiga de Olivia, a aconselhasse a ser honesta com Natasha e expressar o quanto estava chateada com a situação.

Algo que Olivia, obviamente, não teve coragem de fazer.

Após se permitir passar o final de semana se entupindo de porcarias, ela acordou na segunda-feira decidida a não criar expectativas com absolutamente mais ninguém.

Arrumando-se para o trabalho, vestiu um terninho cinza escuro comportado, prendeu os cabelos castanhos num coque apertado e calçou um salto médio.

No que diz respeito as tarefas, executou seu trabalho no período da manhã com perfeita maestria, assim como acontecia todos os dias desde que pisara no Grupo Stone, quase oito anos atrás.

Depois de quase passar mal de tanto comer macarrão no seu restaurante italiano favorito na hora do almoço, Olivia passou numa loja de chocolates e comprou uma caixa com vinte e quatro bombons. Retornou para a empresa mais cedo e devorou mais da metade daqueles doces suculentos com recheios sortidos.

A maioria das pessoas quando está frustrada e deprimida perde totalmente o apetite, o que acarreta em emagrecimento. Olivia, muito pelo contrário, se sente compelida a devorar tudo o que encontra pela frente. Um comportamento que torna o aumento de peso algo inevitável. E para alguém que, obviamente, já está uns bons vinte quilos acima do peso, pode-se dizer que é o mesmo que dar corda no círculo vicioso entre a culpa e a compulsão

Culpa que gera tristeza, que gera compulsão, que gera culpa novamente e assim sucessivamente.

Ela então tentou afugentar os pensamentos desagradáveis e se concentrar nos doces suculentos à sua frente. Então engoliu o chocolate que estava na boca e abaixou os olhos para a caixa parcialmente vazia. Soltou um longo e cansado suspiro e desembrulhou um novo bombom do papel, jogando-o na boca.

O sabor azedinho do morango contrastando com o doce do chocolate entrou em contato com suas papilas gustativas e fez seus olhos se fecharem de prazer.

Olivia soltou um gemido involuntário e limpou com a ponta da língua o cantinho da boca. Ela estava tão absorta no prazer do momento que não ouvia mais nada além dos seus gemidos e suspiros.

Foi quando alguém muito próximo limpou a garganta.

Assustada, Olivia abriu os olhos castanhos e se deparou com um homem enorme parado em frente à sua mesa. Imediatamente, ela reconheceu aquele rosto perfeito que estampava tantas revistas e notícias de fofocas.

O cabelo castanho-claro, mais curto nas laterais e maior em cima, estava penteado impecavelmente para o lado. Uma barba bem aparada envolvia um maxilar quadrado muito masculino. Os lábios bem esculpidos estavam franzidos em contrariedade, ao mesmo tempo em que os olhos castanhos cor-de-mel a escrutinavam com arrogância.

― Senhor Stone! ― Olivia colocou a caixa de bombons sobre a mesa e se levantou num sobressalto. ― Boa tarde e seja bem-vindo! Eu não estava esperando o senhor tão cedo.

Ela esticou a mão para um cumprimento formal, mas percebeu tarde demais que a mesma estava suja de chocolate.

Nicholas Stone também notou o deslize. Seu olhar recaiu para o membro estendido em sua frente e ele nem ao menos fez menção em aperta-la.

― Eu posso perceber. ― respondeu seco em sua voz de barítono, erguendo o canto dos lábios num meio sorriso debochado. Antes de levantar os olhos intimidantes para o rosto de Olivia outra vez. ― Senhorita Cooper, eu presumo?

Sem graça, a mesma recolheu a mão. Ele era tão alto, musculoso e imponente que ela se sentia uma formiguinha perto dele.

Uma formiguinha gorda, é claro.

― Sim... Sou eu. Eu... sinto muito. Estava terminando meu horário de almoço e... não ouvi o barulho do elevador. ― justificou sem graça.

― Eu vim pelas escadas. ― antes que Olivia pudesse questionar o fato de que estavam no trigésimo quarto andar, o homem justificou. ― Fiz uma parada no trigésimo terceiro.

― Oh, agora faz sentido.

― Não que eu precise me explicar. ― o tom ríspido não escondeu o quanto seu novo chefe estava insatisfeito.

― É claro. ― Olivia assentiu, embora incomodada com toda aquela rispidez desnecessária.

Nicholas Stone parecia tão diferente do pai. Tanto fisicamente, como em personalidade.

Ainda com uma cara de poucos amigos, o mesmo girou nos calcanhares e deu início a caminhada até sua sala.

― Minha sala, em cinco minutos. ― havia percorrido a metade do caminho, quando disse por cima dos ombros. Fez uma parada e ergueu um dedo, ainda de costas. ― Depois de lavar suas mãos, é claro. ― completou sarcástico.

Sem esperar por uma resposta, o pedaço de mau caminho mal-humorado, terminou por atravessar as portas duplas. Deixando para trás apenas um rastro do seu perfume caro e masculino.

Olivia soltou o ar que nem sabia que estava segurando. Ao mesmo tempo, sentiu seu coração bater freneticamente em sua caixa torácica.

Era evidente que não havia causado uma boa impressão para o novo chefe.

Que merda!

Ademais, Nicholas Stone parecia tão detestável quanto deslumbrante. Uma combinação que, certamente, tornaria seus dias no Grupo Stone um verdadeiro inferno.



Uma Esposa para o CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora