INIMIGO DO ESTADO (DEGUSTAÇÃO)

06

Bárbara

Eu sou aquela pessoa que tem mais que o pé no azeite, mas tá fora de compromisso sério com a religião. Vou vez ou outra, mas nada sério!

Meu avô, pai de Santo da minha mãe fala direito pra mim que eu to correndo não sei do que, que o meu caminho é esse e eu me faço de doida mais ainda.

Gente, to fora! Orixá não é brincadeira, religião não é hobby. Você tem que ter compromisso e responsabilidade e eu tenho zero!

Corri na hora da festa, fiquei no quartinho lá no celular só falando com os contatinhos, mas não é que  a entidade mandou me buscar?

Pra que? Esculachar, é claro! Kkkk só reclamação pra mim, explanou meus podres e até ameaça de surra levei. Ouvi tudo quieta, cabeça baixa, falei nadinha.

Faço muito merda mesmo, brinco mais que a brincadeira, mas agora eu vou mudar, ser uma nova criatura, a menina dos olhos... papo retão.

Acabou que eu fiquei no barracão mesmo, quando a festa encerrou voltei com a Isabel pra casa, nem dormimos lá.

Barbara: Vou mudar. - falei seria.

Isabel: Tá com medo? - disse rindo. - Tu não é fodona? Continua no teu ritmo. Paga pra ver! - debochou.

Bárbara: Kkkkkk medo? Nada a ver... - tirei de tempo. - Eu nem faço nada demais, cara. Mas já que todo mundo tá reclamando, toda essa cobrança eu vou me aquietar, fazer mais nada da vida.

Isabel: Tu some, mente, apronta abeça e depois ainda fica com essa cara de santa. Não é nada demais né? Aiai... Teu pai tú engana, ele compra a sua cena, a mim não!

Bárbara: Tu fala parecendo que eu conto grandes mentiras né? Faço o caralho a quatro! - balancei a cabeça em negativa ofendida.

Não minto pra ninguém gente, só omito muita coisa... jogo um sete aqui, se colar, ótimo. Dou uma fugidinha aqui, enrolo lá...

Afinal se eu for viver da forma que eles querem já pode me canonizar, seria uma santa porque não querem que eu faça porra nenhuma na vida!

Pra eu brotar em um baile aqui é todo um enredo, maior sufoco, o que eu acho um absurdo. Então prefiro falar que vou pra pista, algum eventinho light e de lá dou meus pulos.

Não to morta! To na idade de curtir a minha vida, desbravar o mundo. Deixa pra parar, frear e seguir regras quando estiver velha, agora é a idade de chutar o balde mermo!

Isabel: Quer que eu enumere? Só teu pai pra crer em você. Mas se bem que pelo que eu conheço ali, de bobo não tem nada! Quando tu menos esperar vai cair do cavalo.

Bárbara: Aí, Deus me livre! - me benzi.

Isabel: E eu só não quero ser envolvida!

Cheguei em casa fui dormir, fiquei tão impressionada com o que eu ouvi que até sonhei, maior merdelê com maluquice! Kkkkk

Domingo desses, sol de dar moca eu desci pro posto 12 com minha tropenha. Chegamos lá pegamos as cadeiras, passei minha misturinha discreta pra acender mais ainda minha marquinha e fui torrar no sol.

Detesto essas marquinhas de fita, acho horrível, prefiro mil vezes as naturais. Tem coisa melhor que marquinha natural? Não tem, gente! Aquele bagulho nada ignoraste e quadrado, só coisas leves, fininho, me amarro mesmo.

Bárbara: Vai fazer marquinha não, sapatão? - perturbei.

Andrele: Ih, garota! Me erra. - falou todo machinho.

Sapatão com camisa uv, gente. Essas camisas me dão uma agonia, que só. Uso nunca! Tava eu, Kris e o viado no sol. Krisley não montou a fita dela pôr debaixo do biquíni? Ô ódio!

Krisley: Pegar aquele pagodinho mais tarde, império geladinha com uma isquinha de frango. Amo!

Bárbara: Tô off! - falei serinha.

Paulinho: Por quê, safada? Kris vai bancar hoje, tá com o dote. - parei de bebericar minha caipirinha na hora e olhei pra ela.

Krisley: Língua do caralho a tua!

Bárbara: Que dote, cara? Tu não disse que tinha terminado?

Mona maluca cara, fazendo merda, caçando pica pra ela. Tá de gozofone com o marido da própria tia que tá lá no presídio, velho tá bancando ela horrores!

Papo reto? Acho uma maior safadeza isso, tanto dele, quando dela. A tia dela não merece isso não, precisa ver como trata ela e do amor que tem pelo marido. Homem imundo, nojento!

Krisley: Bárbara, to sem fazer nada mona, dinheiro não cai do céu e eu não nasci em berço de ouro. Tenho mais nada com ele, mas se ele ainda quer me dar, eu vou negar? Vou jogar fora? Eu não!

Bárbara: Tá, tá... contigo mesmo. - falei seria.

Falei mais nada, cada um com seus problemas também. Quem não ouve conselho, ouve calado, como diria a Dona Isabel.

Já falei abeça, falo sempre pensando no bem dela, na amizade e ainda vem me responder assim? Foda-se também, quando a merda explodir aí eu quero ver.

Eu já fechei minha cara também, coloquei meu bico pro alto. Ela se mancou pela forma que me respondeu, veio puxar papo mas eu só serinha!