1 - Azuis frios

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PARTE I
Durante toda nossa vida, são poucas as pessoas com quem podemos nos conectar verdadeiramente. Quando isso acontece, não é sábio deixar passar.
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Paris, 1995

"Andrea, eu poderia dizer que eu te amo, mas sei que maior do que as palavras que se perdem com o vento, são minhas ações que provam a intensidade do meu sentimento."

𝔼ra um dia de frio ameno do inverno francês, a noiva sorria docemente para o noivo, os convidados assistiam a cerimônia comovidos, apenas Miranda sorria falsamente, achando cada palavra uma grande baboseira romântica.

"Prometo amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, para o bem e para o mal, até que a morte nos separe" Miranda soltou um bufo irônico, completamente cética da eternidade daquela união. - Dou-lhes dois anos - Ela pensou e olhou para o namorado ao seu lado, também comovido com a troca de votos.

Ele olhou para ela e sorriu carinhosamente, beijou lentamente seus lábios e sussurrou em seu ouvido "Logo seremos nós, amor."

"Só em seus sonhos." Ela sussurrou de volta em resposta.

Atrás de Miranda, estava Andrea, achando mais interessante o diálogo do casal à sua frente do que o casal que estava celebrando sua união. Ela estava se contorcendo de curiosidade para ver o rosto da dona daquelas madeixas loiras que reluziam em contato com os raios solares suaves.

Ela não conseguiu conter o riso com a resposta de Miranda, mas sua diversão deu lugar ao nervosismo quando a mulher olhou para trás e seus olhares se conectaram pela primeira vez. Miranda estava séria, a postura reta como uma vara, mas um canto de seus lábios se esticou suavemente, um meio sorriso seguido de uma piscadela. Andrea engoliu seco e sorriu de volta, então a conexão foi quebrada, Miranda virou-se para frente.

Naquele casamento, apenas um casal teria o raro amor eterno. E esse casal não eram os noivos.

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Andrea entrou em seu carro pronta para ir embora. Ela já havia comido, bebido e visto gente demais, não havia mais nada a fazer em uma festa que ela mal conhecia os noivos. Ela ligou o carro e olhou para o lado, lá estava a dona dos belos cabelos loiros, distante da área da festa, aparentemente discutindo com seu acompanhante.

Ele tentava tocá-la, mas Miranda esquivava. Parecia brava com alguma coisa e por mais que Andrea pensasse - Não é da minha conta. - ela estava altamente curiosa. - O que será que ele fez? Com uma mulher linda dessa, eu apenas concordaria com tudo o que ela diz.

Subitamente, Miranda virou-se para Andrea e começou a caminhar em sua direção, o homem colocou as mãos na cabeça e olhou para o céu como uma súplica. Andrea começou a se apavorar, sem saber o que fazer. Será que Miranda iria acusá-la de espiar? Será que passaria direto? Ela apenas abriu a porta do carro, entrou sem sequer olhar para Andrea e travou as portas.

Andrea ficou olhando para ela completamente aturdida, a mulher parecia não se importar em entrar no carro de uma desconhecida e não falar absolutamente nada. De repente, o namorado dá leves batidas na janela e Miranda abre minimamente.

"Querida, vamos conversar. Eu não quis te obrigar a nada, na verdade é impossível alguém te obrigar a alguma coisa." Andrea deixou escapar um riso.

"Eu preciso que você me dê espaço. Vou para casa, quando EU quiser, nós conversamos." Ela sequer olhou para ele. Andrea não sabia se ria, chorava ou dava ao menos um oi. "Esse carro anda?" Miranda finalmente a olhou e Andrea ficou desorientada com os olhos azuis frios da mulher sobre ela.

Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora