Carrie Wilson
2 anos atrás
Agarro com toda força a ponta do armário atrás de mim, agarro até os nós dos meus dedos ficarem brancos, até que eu consiga controlar minha respiração.
Papai está do outro lado da sala, me olhando com tanto nojo que me faz querer morrer. Eu empurro meus sentimentos para o fundo de mim, para que ele não os consiga ver.
— Uma garota? — Repete ele, a voz um pouco mais controlada, nada meramente igual a gritaría de antes. — Quando eu descobri que Flynn ficava com meninas, eu te disse que isso iria te influenciar, mas você não me ouviu.
Tenho muitos pensamentos sobre isso, tantas opiniões e concepções que consegueria fazer um monólogo de duas horas com isso, mas não digo nada.
Não digo nada, porque não quero deixar papai mais bravo do que já está. Não digo nada, porque no fim, de nada me adiantaria.
Não creio que ele me tiraria de casa, isso soa extremo demais, e eu gosto de acreditar que meu pai me ama, principalmente, porque não tenho mais ninguém.
Mas se ele assim o fizesse, eu não teria para onde ir, não tenho sequer um emprego, algo com o qual me sustentar.
É claro, que os shows do dirty candy rendem alguma coisa, mas para fazer shows temos que ensaiar, e ensaiamos na minha casa.
Na casa dele.
— Você nunca me ouve, isso não é normal, não é natural. Eu não sei onde eu errei com você. — Ele continua dizendo, cada uma de suas palavras é como uma facada funda em uma veia fundamental para viver, mas não retruco, nunca.
Sempre fui boa em mascarar meus sentimentos, e de qualquer forma, ele está chutando um cachorro morto.
Não há nada que ele diga que me machuque mais do que o jeito que me olha.
Ele matou meu espírito há muito tempo, e mortos não costumam ter respostas espirituosas.
Pelo menos, os que eu conheci eram sempre quietinhos.
— Você vai acabar com isso, e vai fazer isso agora. — Eu assinto, sem mover mais nada. — Estou fazendo isso porque te amo, Joaninha, tente me entender.
Eu largo o armário, me sinto meio branca, sem cor, sem vontades.
Sem vida.
— Eu também te amo, papai — Me forço a dizer, ele corta o espaço entre nós e me abraça, eu o abraço de volta, no automático.
Ele beija o topo da minha testa.
Pensei que eu estivesse apática, inumana, mas isso foi claramente um engano, pois descubro que ainda sou capaz de chorar.
Um choro ralo, silencioso e salgado, que eu não faço a mínima questão de limpar ou parar.
Por uma vez na vida, vou deixar pelo menos uma parte de meus sentimentos aparecerem.
— Isso é só uma fase, adolescentes são curiosos. Tá tudo bem. — Tenho a impressão que ele diz isso para ele mesmo, e não para mim.
Mas concordo, afasto minha cabeça minimamente para conseguir olhar seu rosto.
— Eu nem gostava dela, eu só estava curiosa — Digo exatamente o que ele quer ouvir. — Na verdade, eu gosto de um garoto.
Isso parece acalma-lo, ele se afasta e pega meus ombros parecendo querer sorrir.
— Ele é cantor de rock, assim como o senhor — Continuo, isso faz o sorriso finalmente aparecer.
— Qual o nome dele?— Pergunta, eu inspiro fundo.
— Luke Patterson — respondo. — Pode perguntar qualquer um dos meus amigos, eu falo dele o tempo todo.
Eu não falava.
Não até esse momento, de qualquer forma.
Ele se da por satisfeito antes de chamar a cozinheira para fazer o jantar, eu ouço tudo, mas não registro nada.
Luke Patterson é um doce, é gentil e um bom amigo, é bonito, engraçado, confiante, talentoso, é perfeito.
Absolutamente perfeito.
Se eu não gosto dele, tem algo de errado comigo, porque ele é o exemplo exato de homem perfeito.
Odeio que tenha algo errado comigo.
Mas eu posso mudar isso, sei que se eu me esforçar um pouquinho, consigo gostar dele.
Quando eu era criança, eu pensava que gostava dele, então talvez eu possa fazer com que seja real dessa vez.
Mais tarde naquela noite, depois do jantar, eu acabo tudo com Flynn. Digo que eu só estava curiosa, que eu sou hetero e que voltamos a ser amigas.
Ela não me interrompe, nem grita comigo, nem amaldiçoa gerações da minha família.
Ela não diz que me ama, ela não batalha por mim, ela não faz nada.
Absolutamente nada.
E, apesar de não esperar, uma parte minha tinha esperança que ela fizesse alguma coisa. Que ela percebesse que tinha algo errado, que ela me abraçasse.
Isso não é justo, não posso culpa-lá por isso, quando claramente sou eu quem estou errada.
Eu mal toco no jantar, e não me lembro sobre o que conversei com papai durante, mas lembro que minha boca se mexeu.
Me lembro de sentir o celular vibrar, mas não respondo ninguém, não consigo, e mais importante, não quero.
Vejo uma comédia romântica ruim, a qual o nome não me lembro, sobre uma garota excluída que se apaixona pelo capitão do time de futebol, que só retribui o sentimento quando ela retira o óculos, porque quando ele consegue ver os olhos dela, ele decide que ela é linda.
É ridícula, e tem um enredo que poderia ser facilmente escrito por uma criança de 5 anos, ainda assim, me ajuda a passar o tempo e distrair a mente.
Eu sempre gostei de comédias românticas, não importa o quão ruins fossem elas.
Era como Flynn e roupas chamativas, ou Julie e dias nublados. Não fazia sentido, era apenas parte de quem eu sou.
Enfim, me arrasto para cama, sentindo como se eu tivesse corrido uma maratona. Estou tão malditamente cansada. Tudo que eu quero é dormir.
Eu e meu coração partido passamos a noite em claro.
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Her Boy ️🌈⃤ Juke (Julie and the phantoms) [TERMINADO]
Fanfiction- Você acha que planejei isso? acha que eu queria estar apaixonado por você? - Sua voz fica cada vez mais alta, eu tento manter a calma. - Eu não sei. - encontro minha voz, finalmente. - Eu só sei que a gente não pode ficar junto, Luke, eu não...