16● Você disse que não cantava

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Julie Molina

Eles estão parados olhando para mim, estou muito nervosa, e minha mão se fecha automaticamente com força em volta da partitura, isso vai amassa-la e eu não quero amassar ela, porém meus dedos não estão me dando ouvido nesse momento.

Alex é o primeiro a se recuperar.

-- Uau. -- Ele sai do transe, dando um passo a frente. -- Isso foi... uau!

Eu dou um passo para trás, estou prestes a explodir de vergonha. Esse era um momento entre eu e minha mãe, e acabei dividindo sem querer, com a sunset curve.

-- Você disse que não cantava. -- Reggie me lembra. Eu não sei o que dá em mim, mas as palavras começam a jorrar da minha boca sem nenhum filtro. Estou tão cansada de guardar tudo para mim mesma, estou tão cansada de ter medo.

-- Eu cantava antes, minha mãe e eu até compunhamos juntas, mas no meio do ano passado, ela... -- Minha voz falha, mas é quase impossível me parar agora, eu abri uma torneira que deveria continuar fechada. -- faleceu. Eu não conseguia mais cantar, tocar, compor. Eu não conseguia fazer mais nada relacionado a música, por que me lembrava ela e era doloroso demais, porém tem algum tempo que estou pensando que se me lembra ela é por isso que devo fazer.

Eles me encaram em silêncio.

-- Hoje foi a primeira vez que eu cantei desde que ela se foi. -- Confesso. Agora que tudo saiu de uma vez, me sinto tão aliviada, mesmo que eu tenha contado tudo para três semi estranhos.

O ambiente está tão esquisito, acho que nenhum deles sabe o que dizer e  sinceramente, não os culpo.

-- Eu disse que ela tocava piano. -- Eu consigo sentir o sorriso na voz de Luke mesmo antes de vê-lo. Os seus olhos brilham em minha direção, parecem estrelas, acho que nunca vi seu rosto iluminado desse jeito e não sei o que isso quer dizer.

-- Então, tá bom. --Falo após alguns segundos. -- Foi bom ver vocês. 

Eu abro um sorriso inseguro e passo no meio deles para sair da sala, quando estou na metade do corredor ouço passos desesperados atrás de mim e Luke está gritando meu nome. Ele encosta no meu braço e me viro em sua direção.

-- Jules, espera. -- Ele para para recuperar o fôlego, e eu não controlo a risada que me vem ao vê-lo nesse estado. Quando meus olhos focam nele de novo, ele já está olhando para mim, totalmente focado em meu rosto.  -- Você anda rápido, hein?

-- É um dos meus muitos talentos. --respondo, não estou tentando afasta-lo com respostas espertinhas dessa vez, e acho que ele percebeu isso.

-- Quero que você cante com a gente. -- Ele fala tão rápido que tenho que esperar um momento para que meu cérebro registre as palavras.

-- O que? -- Pergunto pois eu devo ter entendido errado.

-- Quero que você cante com a gente. -- Repete, minha mente se nubla, não sei o que dizer. -- Quero que você cante com a Sunset Curve.

-- Por que? quando? como? -- disparo, sem dar tempo para ele responder. -- Você não são uma boyband? Quer que eu cante em um ensaio? ou em um show? só uma música? quer que ajude a compor alguma coisa? E se nossos estilos não combinarem? As vezes meu tom não combina com o seu, e isso pode dar errado, por que você é o vocalista e eu tbm sou vocalista, quer dizer, quando você não faz parte de nenhum grupo ou banda pode ser chamada de vocalista?

Por algum milagre, finalmente, consigo calar a boca e controlar minha língua, agradeço aos céus pelo súbito autocontrole.

Subo meu olhar para o rosto de Luke, ele parece irritado, repasso mentalmente minhas palavras, teria eu dito algo para mágoa-lo? 

-- Boyband? -- Ele cospe as palavras. -- Quem você está chamando de boyband? 

É a segunda risada que solto em menos de 10 minutos, Luke parece surpreso. Eu deveria mesmo ter sido uma mal humorada perto dele, para ele se surpreender com uma risada. Não consigo mais evitar, cantar me deixa assim aérea. Estar com mamãe me deixava assim também.  Feliz.

-- É só isso que você ouviu de tudo que eu falei? -- Pergunto.

-- Nós não somos uma boyband. -- Garante, eu assinto.

-- Acredito em você, guitarrista. -- Ele me olha por um segundo, antes de abrir a boca novamente.

-- Respondendo suas perguntas. -- Ele da um passo a frente, eu não me afasto. -- Porque você tem a voz de um anjo, Cantaria conosco no próximo show, então sim, precisaríamos de ensaiar juntos. E eu duvido muito, muito mesmo, que nosso tom não combine.

Meu cérebro fórmula mais 400 perguntas, dessa vez, porém, consigo manter a boca fechada. Eu fico em silêncio, olhando seu rosto, considerando as variáveis. 

-- Ok. -- respondo finalmente. -- Eu canto com vocês.

O sorriso em seu rosto iluminaria uma cidade inteira.

-- Sério? -- Ele passa os braços em volta de mim, eu travo e acabo não retribuindo o abraço, mas isso não parece fazer diferença para ele. Ele se afasta e tira os braços de mim depois de alguns segundos.

-- Claro, eu adoro o Alex e o reggie. -- Digo, lançando um olhar irônico em sua direção.

-- Pode falar a verdade, julinha, você é apaixonada no guitarrista aqui. -- Ele aponta um dedo para si mesmo, dou de ombros e me viro andando em direção à porta.

-- Sonhar ainda é de graça, Patterson, então quem sou eu para impedi-lo? -- Grito, saindo e correndo para rua, pego meu celular no bolso, o grupo no whatsapp que divido com meus amigos está cheio de mensagens não lidas, não as leio mesmo assim, logo bloqueio o celular de novo e sigo em frente.

Estou me sentindo flutuando, cantei de novo, senti minha mãe perto, fui elogiada duas vezes por dois membros de uma banda talentosa, esse dia não tem como ficar melhor!

No fundo da minha mente a voz de Luke repete:

Você tem a voz de um anjo.

Her Boy ️‍🌈⃤ Juke (Julie and the phantoms) [TERMINADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora