Sobre ossos quebrados e um extintor

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Meredith


3 minutos, 5 minutos, 10 minutos e até agora nada, nem um sinal ou sintoma que isto tenha algum efeito. Era o esperado afinal, não havia nenhuma possibilidade racional para que isto desse certo. Pego a garrafa novamente e a guardo em uma das minhas gavetas me sentindo totalmente tola por, pelo menos por algum momento, ter cogitado que aquilo funcionária.

Aquilo era tão ridículo que instantaneamente me fez rir. Rir de mim mesma e da minha fé em coisas ditas mágicas compradas em uma feira de fim de rua. Sentia que minha cabeça ainda flutua o que fazia querer rir mais. Quando me controlo ouço as batidas na porta e por reflexo, tento ajeitar minha postura desleixada.

"Dra. Grey. Tem um homem do outro lado te procurando. Disse que seu nome era Derek Shepherd."

"Shepherd? Ele disse do que se trata?" Questionei confusa.

"Não, apenas disse que a Dra. o conhece."

Shepherd parece nome de pasta italiana, não o nome de uma pessoa. Não me lembrava de ninguém com este nome, mas mesmo assim permiti a entrada do homem em minha sala. Derek Shepherd ficou parado diante da minha mesa com os olhos cinza fixos em mim. Seu sorriso branco, era o sinal de que ele se sentia aliviado e ao mesmo tempo intimidado por estar ali. Ele permanecia calado, estático com uma das mãos no bolso de sua calça social enquanto a outra ajeitava os cabelos negros incômodos que desciam até os olhos.

"Olá, Meredith." Finalmente falou algo. "Acho que não se lembra de mim."

Ergui meu corpo para mais perto da mesa procurando detalhes, não tinha como negar, ele era familiar, mas não conseguia lembrar quem ele era ou de onde o conhecia.

"Desculpe-me se vou parecer rude, mas de onde te conheço?"

E então ele riu e não consegui identificar se aquele riso era de incomodo ou por graça.

"Bem, não gosto de falar sobre isto porque é bem vergonhoso, mas... na última vez que nos vimos, eu saltei de um telhado."

Foi então que me lembrei do ocorrido. Aquele Derek das aulas de bioquímicas na faculdade que por alguma razão, resolveu saltar de um telhado totalmente nu, em direção a uma piscina em uma festa no fim do semestre. E como esperado de um aluno bêbado da graduação, o salto não saiu como devia e Derek saiu carregado por uma ambulância, enquanto a festa continuou como se nada tivesse acontecido.

Tentei disfarçar o riso, mas foi inútil já que por alguma razão a menor das situações me fazia rir.

"Desculpe-me Derek, eu realmente não o reconheci usando roupas."

Levante-me da cadeira para cumprimentar meu antigo colega de classe, porém a leveza em minha cabeça me fez perder a firmeza em minhas pernas, tropecei no meu próprio tapete e por reflexo apoiei a mão na minha mesa tentando me mantendo erguida. Quase fui ao chão, aquilo deveria ser bem vergonhoso para mim, mas a única coisa que consegui senti foi a necessidade de rir, ainda que levemente, do ocorrido.

O que raios tinha na cabeça? Será que era algum efeito daquele elixir?

Quando ergui os olhos novamente, meu convidado permanecia parado com os ombros eretos e com semblante que alternava entre curiosidade e timidez.

"Err... eu não me lembro de vê-la tão à vontade assim." Sua voz grave se misturou a um tom fraco não menos constrangido, mas mesmo assim era prazeroso em ouvir.

Só então pude perceber do que ele se referia, minha camisa estava com alguns botões abertos deixando parte de meu sutiã à mostra. Derek desviou o olhar rapidamente para as paredes fingindo interesse na minha decoração, enquanto eu fechava os botões esquecidos o mais rápido o possível.

"Desculpe-me, meu ar condicionado não está funcionando. Está uma loucura por aqui hoje..., mas o que lhe traz a Boston?" Falei rapidamente tentando desviar do ato vergonhoso.

"Nada em particular, apenas estou fazendo um workshop na cidade e queria ver um rosto conhecido."

"Então, terminou a graduação?" Questionei oferecendo uma das minhas poltronas para que ele sentasse.

"Precisei fazê-lo." Ele sorriu se acomodando no conforto da poltrona. "Medicina nunca foi meu objetivo, por isto eu fazia aquelas loucuras no primeiro ano. Mas quando deixei aquela festa com duas costelas quebradas e a tíbia esquerda gravemente fraturada, meu falecido pai me obrigou a continuar a faculdade, caso contrário, ele quebraria a minha outra tíbia e a minha conta bancária."

"Valeu a pena não ter a outra tíbia quebrada?"

"Bom, tenho um bom emprego no hospital geral de São Francisco, moro de frente para o mar e sempre que tenho vontade posso surfar sem precisar percorrer longas distâncias e isto não é ruim."

"Uau, trocou os telhados pelo mar, fez uma boa escolha." Sorri e novamente Derek mostrava o seu sorriso claro.

"E você trocou a clínica pelos mortos?"

"O que posso fazer se os vivos me assustam?"

"Existe algo que te assuste?" Ele franziu o cenho surpreso.

"Muita coisa me assusta, Derek."

"O que, por exemplo?"

"Bem, saltar de um telhado em direção a uma piscina." Eu ri levando Derek ao riso também.

"Ok, até eu me assusto com algo assim. Não recomendo esse tipo de aventura." Ele parou e me encarou novamente com o olhar cinzento sério. "Sabe, eu ainda me lembro de que nas aulas você era tão centrada, tão imponente... muitas vezes me sentia estúpido só por querer te dizer um oi. E olhando para você agora, mesmo depois de tanto tempo, ainda me sinto meio estúpido... quase apaixonado novamente."

Seus lábios se dobraram aos poucos e seus ombros desceram como se estivesse se sentindo aliviado por algo, passei rapidamente o olhar pela minha mesa e lembrei-me do que havia dentro de uma das minhas gavetas e meus batimentos aceleraram. Será que o conteúdo daquela garrafa era realmente capaz de tal feito ou minha cabeça estava tão aérea que me fez ouvir o que não existe? Voltei a me concentrar nele enquanto sentia minhas mãos suarem sobre o meu colo.

Derek não podia ser meu amor possível, como poderia? Eu nem ao menos, lembrava que ele existia até agora. Abri meus lábios para dizer algo, mas antes mesmo de tentar emitir alguma palavra ouço um som metálico e estridente vindo de fora, o som foi alto o suficiente para fazer tanto eu quanto Derek voltar-se para a porta assustados.

Foi quando a vi, fazendo o impossível para levantar um extintor do chão.

"Addison?" A chamei fazendo com que me encarasse rapidamente.

Vi seus olhos azuis esverdeados alternarem entre mim e Derek, vi sua face levemente corada, vi o jeito que ela abandonou a tentativa de levantar o extinto e dobrou os braços contra o próprio tronco como se nada tivesse acontecido.

Eu não fazia a menor ideia, mas naquele momento algo havia mudado.

O Elixir | MEDDISONOnde histórias criam vida. Descubra agora