Sobre um tiro e o escuro

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Addison



Dizem que toda a sua vida passa diante de seus olhos antes de morrer.

Eu não ia morrer, nem estava perto disto, mas naquele momento, eu realmente pensei que era o fim. Então, esperei para ver o filme da minha vida, já estava com a pipoca na mão e a cerveja na outra esperando as imagens da Montgomery criança, Montgomery adolescente e tudo que tenho direito; mas não, não vi nada disto, só vi a Meredith, como se não houvesse vida antes dela aparecer, ai sim, a vida começa para mim.

Não morri, nem mesmo fui atingida de fato pela bala, graças a Athanasiadis, mas aquele tiro rasgou parte da carne do meu abdômen me deixando com 35 pontos e uma baita dor, além é claro, de uma mente bastante confusa e fragilizada.

Eu queria saber exatamente em que momento a Meredith virou a estrela principal do meu Flashback, e se aquilo não fosse o suficiente, ainda havia toda uma consequência daquele tiroteio sobre meus ombros.

O garoto morreu, mas parecia que voltava dos mortos para me deixar paralisada novamente; eu ainda conseguia ver aquele último olhar que ele me lançou antes de abrir fogo contra mim, um garoto bastante franzino de 14 anos que não conseguiu me matar, mas me fragilizou de tal modo que me sinto como uma taça de cristal em meio a um terremoto. Era ridículo, sei disto, mas aquele medo que me abraçava era bastante real.

Por isso, não consigo ficar muito tempo a sós com meus pensamentos sem reviver todo aquele desespero, sem sentir que falhei miseravelmente. Às vezes, a dor da bala cortando minha carne voltava me alfinetando tanto física ou psicológica, me fazendo buscar algum abrigo; e eram nestes momentos, que Meredith surgia mais atenciosa do que eu esperava, sempre ao meu lado, cuidando dos ferimentos, dosando meus remédios, me fazendo rir...

E todo aquele medo sumia quando eu sentia o seu toque caloroso sobre mim e o seu olhar gentil dizendo que tudo ficaria bem. Sei que enrubesço sempre que ela faz isso, sei que ela percebe e me envergonho por isso, mas não há a mínima possibilidade de fingir que nada acontece quando estou próxima a ela, e acho que, talvez eu acabe me rendendo aquilo, me rendendo a ela.

E durante aquela noite, mais uma vez, eu não conseguia dormir.

Comecei dormindo, depois despertei após uma série de sonhos indecifráveis. Abro os olhos e não vejo nada, apenas o escuro daquele quarto, mas sei que ela está ao meu lado, adormecida, na aquela cama enorme que separava nós duas. Eu queria sentir o seu toque, eu queria muito toca-la também, mas não o faço, então me viro de costas...

"Volte a dormir." Digo a mim mesma, mas era impossível fechar os olhos e não se sentir confusa pelo desejo. Viro-me novamente, me aproximo, sinto a sua respiração tranquila tocar a pele do meu rosto, sinto minhas pernas nuas dentro do meu moletom, sinto onde elas se encontram e então me encolho e me afundo ainda mais na cama.

"O que foi?" Ela acorda e ouço sua voz embargada pelo sono.

"Parabéns Montgomery, você a acordou!"

Esfrego meus olhos o quarto ainda está completamente escuro.

"Estou sem sono." Digo.

Então, ela vem e me abraça, seus membros me envolvem e seu calor me atinge, me aconchegando como se eu fosse uma criança. De repente, tomo consciência que não há mais escuridão, apenas eu e ela naquele quarto e sua pele me chama, assim me aproximo mais e respiro profundamente o aroma que ela libera.

Caramba, como a Meredith cheirava bem!

Eu não fazia ideia que ela tinha um cheiro tão bom, aquilo me despertou ainda mais me fazendo perder completamente o controle. Beijei sua pele e percebi o quão macia era, e depois beijei de novo e de novo, ouvi um leve gemido e temi que ela me afastasse, mas seus braços continuavam em volta de mim, me puxando ainda mais para aquele contato.

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