Sobre um crime e uma garrafa azul

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Meredith


Sua fala é interrompida quando o irmão de Addison surge ficando entre nós duas.

"Finalmente chegaram. Oi Meredith, que bom que está aqui, a coisa está bem feia lá dentro!" Archer meneia a cabeça levemente para mim e a única coisa que consigo fazer é abrir um sorriso fraco para ele.

"Feia como?" Addison questiona por fim.

"Melhor ir ver."

Caminhei rapidamente para o interior da casa sabendo que logo atrás de mim, Addison andava batendo os pés no chão de cimento.

Dois policiais se aproximam e um deles me saúda como se eu fosse alguma deusa grega, era está a maneira que todos a minha volta demonstravam respeito, me vendo como uma entidade superior, a rainha dos mortos, e não como uma humana comum. Parece que por mais que façamos, velhos hábitos jamais são mudados.

Ele me oferece um par de Propé, que sem demora coloco em meus sapatos antes passar por debaixo da fita amarela e adentrar na sala da casa.

Era uma sala grande, com cortinas fechadas em que a luz das câmeras dos técnicos ajudava a iluminar o local. Pessoas caminhavam por toda a parte apanhando objetos e murmurando entre si, uma típica cena de crime e neste momento, percebi que estava de volta para a minha rotina.

Olho para a esquerda e vejo uma escada com revestimento de madeira e aos seus pés o líquido vermelho e viscoso manchando aquele belo piso. O corpo estava ali, e era ali que eu deveria ir. Agacho e olho com mais atenção vejo a posição do dorso no chão de madeira com a barriga para cima e os pés apoiados no primeiro degrau, vejo o rosto pálido com os cabelos loiros cobrindo parte dos olhos, um inchaço seguido de equimose na região do pescoço e a perfuração na região do esterno, um ferimento causado por uma bala.

"Susan Smith." Ouço a voz de Archer frio e totalmente profissional logo atrás de mim. "44 anos, corretora, divorciada e com dois filhos, o mais velho, Jason com 13 anos e Isa com 9 anos."

"E o ex-marido?" Addison questionou ao lado de seu irmão, enquanto ainda calçava as suas luvas nitrílicas.

"Robert Delawy, mora em Nova York e ainda não conseguimos localizar."

"Bem, acho que o sr. Delawy tem algo para nos dizer. Os filhos moram com ele?"

"A mãe tem a guarda das crianças." A voz de Archer perdera o tom habitual se tornando bem mais profunda fazendo com que tanto Addison, quanto eu voltasse à atenção para ele.

"Onde estão as crianças?" Perguntei antes de perceber que Archer encolhia os ombros.

"Lá em cima." Respondeu pesadamente.

Addison foi na frente, subiu as escadas como uma flecha, com os olhos rubros tomados pela fúria. Quando consegui alcança-la, ela estava parada no corredor com os músculos tensos, congelados e com os olhos presos ao chão onde novamente, o líquido vermelho chamava a atenção.

Ela não emitiu nenhum som, e nem precisava, pois quando me aproximei vi o que a havia paralisado. A pequena menina deitada de bruços com os braços esticados como se tentasse se segurar ao fio da vida enquanto se afogava em uma poça do próprio sangue. Assim como Addison, me espantei com aquele cenário macabro, mas impedi que emoções tomassem o controle e rapidamente me tornei a profissional e, então, agachei ao lado do pequeno corpo para examinar o tamanho do estrago. Os cabelos loiros, tão claros quanto os da mãe, estava manchado de vermelho assim como todo o seu tronco, ao todo, contei nove perfurações não por arma de fogo, aquilo foi feito por arma branca algo pontudo o suficiente para causar ferimentos tão profundos.

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