Sobre o desfecho de um caso

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Addison





Fazia mais de 48h que eu não pregava os olhos, nem sequer tive tempo para um banho ou uma refeição descente. E agora, que estou sozinha em um dos toaletes do departamento, começo a sentir os sintomas do cansaço.

Molho o meu rosto com água fria na tentativa de parecer menos exausta, retiro minha camiseta verde e me deparo com a mancha do meu sangue que agora se misturou a outra mancha vermelha, a mancha do sangue da Meredith se tornando em algo grande, escuro e bastante nojento. Aquilo me incomoda tanto que arremesso à camiseta para longe tentando afastar a lembrança daquele abrigo nuclear e de como encontrei a Meredith ali, fraca, ferida e mesmo assim lutando pela vida; uma luta que se estendeu até o hospital durando horas em uma sala de cirurgia.

E quando ela abriu os olhos... Finalmente, consegui respirar aliviada por saber que a Meredith ainda estava ali, que venceu algo que muitos teriam desistido mesmo antes de tentar.

Olho para o espelho e me pergunto se eu também teria vencido algo assim, se fosse eu dentro daquela caixa, esquecida e sozinha na escuridão, se eu conseguiria sair de lá ainda com minha sanidade intacta. Seja como for, agora eu tinha a real certeza de que a Meredith era uma mulher extraordinária, que eu a admirava, a respeitava, a amava e eu não ia esperar mais para dizer o quanto sou privilegiada por tê-la ao meu lado.

Enxuguei o rosto e sorri. Vesti a camiseta branca reserva que guardada em meu armário ajeitando posteriormente o resto das minhas roupas. No entanto, aquilo ainda não havia terminado, ainda existia alguém que eu adoraria enfiar dentro de uma caixa.

E assim eu faria.

Quando sai do toalete e caminhei em direção à sala de interrogatório, vi Athanasiadis a frente com seus cachos castanhos bastante chamativos, a sua pele levemente bronzeada, as mesmas roupas do dia anterior, a camisa vermelha com um decote a vista preenchido com o distintivo pendurado no pescoço, e para acompanhar o kit a la grega da vez, a expressão de cansaço estampada no rosto. Ana estava tão esgotada quanto o resto de nós. Ela parou a alguns metros a minha frente, estreitou os olhos me analisando de cima a baixo o que me deixou bastante constrangida.

Permaneceu assim por alguns segundos, em silêncio me encarando, talvez pensando o porquê eu estava ali. Quando abro os lábios para dizer que ela estava me incomodando com aquilo, ela dobrou os lábios em um breve sorriso estranho e bem enigmático acenando com a cabeça antes de adentrar a sala de interrogatório. Eu deveria estar acostumada com aquelas expressões bizarras dela, mas a verdade era que Ana ainda era uma grande incógnita para mim.

Quando adentrei a sala, Derek estava sentado à frente, acomodado na cadeira com os cotovelos sobre a mesa. Ele ainda mantinha aquela mesma postura elegante de quando o conheci no escritório da Meredith. E pensar que um homem bem vestido com seus cabelos cuidadosamente cortados, olhos suaves e charmosos era o responsável pelas piores horas que passei em minha vida.

Como dizem, os bonitos são sempre os piores.

Mantive-me afastada, encostada na parede ao lado da porta com os braços cruzados tentando controlar a fúria que fluía dentro do meu peito. Se Ana não estivesse na sala, Derek já estaria indo para o hospital e com certeza eu seria a guia daquela viagem.

"Dr. Derek Shepherd." Athanasiadis puxou uma cadeira e sentou-se à frente dele. "Posso evitar as apresentações?"

Derek a encarou de forma desentendida, mesmo sabendo o real motivo para ele estar ali, não era uma simples blitz na estrada com pontos na habilitação.

"Detetive da divisão de narcóticos Ana Athanasiadis e a detetive Addison Montgomery da divisão de homicídios, certo? Soube de vocês pelos jornais. Não há como esquecer rostos tão bonitos assim." Ele desviou o olhar da Ana e o lançou para mim fazendo meu estômago embrulhar.

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