Sobre o outro lado e sua curiosidade

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Addison


Não importa quantos anos se tem de carreira ou quantas vezes você se deparou com algo assim, mas ver crianças assassinadas como gado é sempre revoltante. Nem ao menos consigo olhar para as fotos da cena do crime sem sentir um calafrio em minha espinha. Para piorar, a tarefa de montar o quadro era minha; colocar cada foto, escrever cada nome, suas idades e onde o corpo foi achado. Parabéns para o indivíduo que fez tal atrocidade, ele conseguiu canalizar todo o meu ódio para si.

Colei a última foto no mural e, neste momento, ouço Archer eufórico atrás de mim.

"Consegui! Consegui localizar o Robert Delawy."

Ótimo, tínhamos um suspeito localizado e possivelmente alguém para socar.

"Onde?" Perguntei.

"Em Nova York, ele finalmente atendeu ao telefone, eu não disse os detalhes, mas ele concordou em vir para Boston ainda hoje."

"Precisamos traçar a linha do tempo bem rápido" Richard Webber grunhiu ao meu lado enquanto comia as duas rosquinhas cobertas de açúcar. "Acha que a Dra. Grey consegue determinar o horário das mortes ainda hoje?

"Se os corpos já estiverem no laboratório, não vejo o porquê não."

"Mas ela está bem para o caso?" Richard insistiu após engolir finalmente o pedaço mordido da rosquinha. "Digo, ela acabou de retornar, o certo seria tirar o dia de folga"

"Ela parece normal para mim" Archer falou.

"É Webber, ela está bem." Concordei.

Meredith não parecia estar tão diferente assim, foram apenas 3 dias em que ela esteve fora, não haveria uma grande mudança em tão pouco tempo. Porém, a nível de Meredith Grey, percebi que ela estava um pouco estranha, talvez seja apenas comigo ou ela realmente só esta cansada como Webber alegava. Se for este o caso, eu não deveria me preocupar, certo?

Olhei para a tela do meu celular e nenhuma mensagem ou chamada perdida do necrotério, já fazia quase 40 minutos desde que deixaram a cena do crime, com certeza os corpos já estavam nas mãos da legista e a necropsia estava prestes a começar.

"Vou até o laboratório ver em que pé estão as coisas." Coloquei o celular de volta ao cinto e caminhei em direção à porta deixando Archer e Webber disputarem a última rosquinha de açúcar.

O caminho não era longo mesmo assim deu tempo para imaginar Meredith debruçada em um dos corpos, com aquele semblante alegre. Isto seria considerado para muitos como algo estranho e assustador e, confesso que até para mim está cena era esquisita, mas vê-la assim hoje em dia apenas me motiva mais.

Não sei ao certo como, mas aquela loira se tornou meu combustível em muitos momentos e agora, é quase impossível me imaginar sem ela ao meu lado.

Quando coloquei os pés no laboratório vi os corpos limpos já colocados sobre as mesas frias e um garoto com óculos de proteção e jaleco descartável inserindo uma agulha dentro do globo ocular de uma das vítimas, sugando seu conteúdo com uma seringa enquanto outro passava SWAB nas pontas dos dedos azulados. Desviei a atenção daquilo e continuei a andar pelo laboratório procurando por Meredith.

Foi quando a vi pelos vidros de sua sala, conversando com um homem de forma tão descontraída que nem parecia ser aquela mesma Meredith aborrecida que me perguntara coisas sobre o Jake hoje mais cedo. Parei por alguns instantes e continuei observando de longe, ela sorria e o homem também sorria, ela ria e o homem fazia o mesmo, eram um perfeito reflexo um do outro.

Poucas coisas na vida me embrulhavam o estômago, aqueles sorrisos e olhares acabaram de entrar nesta lista.

Eu precisava saber o que eles conversavam de forma tão a vontade e então me aproximei aos poucos da porta aberta, fazendo de tudo para não ser vista. Se minha mãe me visse, diria que era feio escutar a conversa alheia, se a Meredith pudesse me ver diria o mesmo; mas eu sou uma detetive, escutar conversas alheias é meu trabalho e não me sinto mal por isto.

Mesmo sem ter nenhum receio do que fazia, eu não conseguia ouvir nada, então movida totalmente pela minha curiosidade dei mais alguns passos silenciosos parando ao lado da porta aberta.

"... quase apaixonado novamente." Foi o que consegui ouvir sendo o suficiente para imaginar muitas possibilidades.

Quem estaria apaixonado? Seria ele ou Meredith se apaixonara? Não, não pode ser possível, se ela realmente amasse alguém, ela me diria, afinal sou a melhor amiga dela. Franzi a testa e me aproximei um pouco mais; precisava ouvir direito aquela conversa. Só depois que percebi que um dos meus pés havia batido no suporte que sustentava o extintor erguido ao meu lado, o cilindro vermelho se soltou e foi ao chão caindo com todo o seu peso fazendo um enorme barulho como se uma bomba explodisse ali. O cilindro rolava e imediatamente tentei traze-lo de volta para o lugar, meu coração acelerou devido ao susto e da força que apliquei apenas para deixa-lo em pé.

Quando me virei, vi o olhar surpreso de Meredith e do homem junto a ela, unidos em uma única pergunta: O que você estava fazendo?

"Addison?" A voz de Meredith soou com preocupação.

Neste momento, deixei o extintor barulhento de lado e ergui meu corpo tentando parecer mais normal o possível.

"Estão de parabéns! Tudo neste laboratório é bem sinalizado, há extintores em todos os cantos. A equipe de biossegurança não tem do que reclamar." Falei abrindo o melhor sorriso que algum dia poderia dar e, mesmo assim, a única coisa que consegui foi olhar espantado de Meredith.

Voltei minha atenção para o homem em pé ao lado dela.

"Oi, sou a detetive de homicídios Montgomery." Estendi minha mão a ele em cumprimento.

"Dr. Shepherd." Ele a apertou meio constrangido e logo, em seguida, voltou a colocar as mãos nos bolsos de sua calça.

"Certo, melhor eu deixar vocês conversarem sobre coisas...han... médicas. Vou esperar aqui fora."

"Não precisa detetive, vocês têm muito trabalho e eu estou atrapalhando."

Oh sim, ainda bem que ele percebeu que estava atrapalhando!

Voltou-se para Meredith que parecia estar em algum lugar fora daquela sala. "Meredith, estarei em Boston ao longo da semana, caso queira tomar algum café e colocar a conversa em dia, só me telefonar."

"Claro, Derek." Ela falou algo finalmente.

O Dr. voltou para mim abriu os lábios para dizer algo, mas rapidamente os fechou desviou o olhar e caminhou em direção à saída do laboratório.

"Derek?" Perguntei rapidamente. "Quem é o Derek?"

"o Dr. Shepherd é o Derek." Ela contornou a sua mesa e apanhou o seu jaleco, o vestindo rapidamente.

"A jura? Pensei que era o Derek aquele que tem um cachorro chamado costelinha e um amigo verde chamado Skeeter."

"Não faço ideia do que está falando."

Ergui o queixo e suspirei Meredith não era o tipo de pessoa que facilitava em conversas deste tipo.

"Certo, vamos tentar novamente, quem é o Dr. Derek Shepherd que estava aqui com você?"

"Um antigo colega da graduação." Ela passou rapidamente por mim, indo em direção à porta, mas como se estivesse esquecido algo, ela voltou pousou os olhos sobre mim, analisando cada parte do meu rosto.

"O que foi?" Questionei sentindo um leve incomodo pulsando em meu peito ao perceber aquele olhar esverdeado sobre mim. Meredith estava próxima, invadiu meu espaço pessoal sem ao menos pedir permissão para tanto.

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