Sobre o beijo em lábios vermelhos

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Meredith




Depois de uma semana, finalmente deixei o hospital.

Aos poucos, estou voltando para meus velhos hábitos ao mesmo tempo em que adquirir outros novos. Como por exemplo, ouvir o som do tráfego da cidade ou sentir o vento atingir meu rosto através da janela do carro. Era exatamente isso, que eu fazia enquanto estava sentada no banco do passageiro. Addison dirigia e eu continuava observando cada detalhe daquele dia. O sol, as nuvens, as pessoas na rua... Algo simples presente no cotidiano de qualquer pessoa, mas que dificilmente paramos para ver a real beleza naquilo. Depois de dois dias em uma caixa de madeira, qualquer cor, som ou cheiro que o mundo te apresenta se torna algo maravilhoso. E realmente, não me lembro quando foi a última vez que me senti tão maravilhada após deixar um hospital.

Claro que o fato de estar voltando para a casa me deixava ainda mais feliz. Eu sentia falta do Bass, da minha cama, dos meus livros, de poder vestir e calçar o que eu quisesse...

E quando chegamos, Addison me ajudou a sair do carro me conduzindo pacientemente até a porta. Não havia necessidades para toda aquela atenção que ela me dava, eu conseguia me locomover sem ela me auxiliando; mas preferi não lhe dizer nada afinal, eu realmente estava adorando os seus modos e cuidados. Às vezes, aqueles mimos exagerados me faziam sorrir levemente fazendo com que ela corasse totalmente tímida, e imediatamente me lembrava dos nossos beijos imperfeitos, o impulso de nossos corpos unidos e de nossas palavras carregadas de desejos reprimidos e aquilo me fazia pensar se, depois de tudo que passamos, estaríamos prontas para continuar ou se voltaríamos para o início.

E eu já não conseguia mais esperar para ficar sozinha em casa com ela novamente para dizer o que não foi dito e fazer o que ainda não fiz.

Giro a maçaneta da porta rapidamente tentando ignorar a ansiedade de estar de volta. Porém, na medida em que coloco os pés dentro de casa ouço palmas por toda a minha sala de estar; então percebo que meus planos com a Addison teriam que esperar.

Estavam todos lá, Bizzy, Archer, Webber, Susie... Estavam juntos de pé, me aplaudindo em uma saudação alegre e totalmente inesperada, olho rapidamente para Addison que sussurra um 'sinto muito' em meio ao seu sorriso largo e acabo sorrindo da mesma forma pega pela surpresa de ver todos a minha volta.

Até mesmo uma das minhas mães estava ali, Ellis havia me visitado no hospital uma vez, sempre da maneira distante, o velho estranhamento que ainda existia entre nós. No entanto, ali no meio da minha sala ela me abraçou sem hesitar nem um segundo. Aprendi a não gostar de abraços, a me desviar deles, mas aquele abraço inesperado era realmente... confortante, era esse o tipo de afeto que se espera sentir de uma mãe. Foi então, que compreendi que eu não estava mais sozinha no interior escuro e quente de uma caixa de madeira, que havia uma família que se importava comigo, que zelava, que se preocupava.

Naquele momento, eu não era mais a rainha dos mortos, eu era apenas a Meredith rodeada por pessoas que realmente me amavam.

E naquele fim de tarde, todos estavam reunidos em volta da mesa comendo, bebendo, rindo, e eu sentia a alegria que emanava de cada um. Mas por alguma razão, eu também sentia o incomodo das paredes da minha casa como se elas se aproximassem me encurralando, senti o descontrole dentro do meu peito, tento ignora-lo, mas aquilo se torna terrivelmente insuportável. Eu precisava sair dali, precisava do ar de fora.

Logo, me afastei sem ser notada fui até a varanda encostei-me ao parapeito e respirei fundo, encho meus pulmões com todo o ar que lhes cabia, inalei totalmente o cheiro daquele da rua e depois liberei novamente no ar, e ao fazer isso repetidas vezes fui acalmando meu coração aos poucos.

O Elixir | MEDDISONOnde histórias criam vida. Descubra agora