Sobre insônia e uma droga

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Meredith



Naquela noite eu sentia o chão frio da minha cozinha sob meus pés, enquanto eu caminhava de um lado para o outro evitando olhar o vidro azul reluzindo com a luz. A garrafa com o elixir estava sobre a pia e era possível ouvi-la chamar meu nome, me atraindo para mais perto. Como poderia, garrafas não falam!

Aquele elixir idiota havia funcionado, mas de forma totalmente absurda como um tiro disparado contra meu próprio pé.

Não havia a menor possibilidade de eu e o Derek sermos um par, aquilo não iria funcionar simplesmente porque não o vejo da mesma forma que vejo a Addison.

"Addison..."

Murmuro encostando meu corpo no balcão da cozinha, sinto o peso daquele nome me marcar como tinta, como um chicote e assim estremeço revivendo aquele momento no necrotério. O que foi aquilo em seus olhos? Addison parecia realmente incomodada com o Derek aponto de fazê-lo um suspeito, quando claramente não havia motivo. Além disto, seu comportamento, suas feições, até mesmo o tom de sua pele mudaram drasticamente quando a provoquei e, de repente, ela se tornou mais cautelosa, mais atenta, mais inquieta.

E se, na verdade, a inquietação de Addison seja um dos efeitos do elixir? O vendedor deixou claro que todos os amores possíveis surgirão, sendo assim, talvez ela sinta o efeito em algum momento...

Ergo meus dedos tocando as têmporas e fecho os olhos, fico ouvindo a minha própria respiração enquanto tento me concentrar. Só havia um jeito de sair daquele impasse e é testando o elixir novamente, se o efeito não for o desejado, irei descarta-lo em minha pia e esquecer esta tolice de lenda.

Apanho a garrafa mais uma vez observando o meu próprio reflexo no vidro. Retirei a rolha e deitei o liquido sobre o copo e sem demorar muito eu bebi, bebi de forma rápida ignorando o gosto e a ardência, bebi sentindo o calor se apossar de meu corpo, bebi mais uma vez depositando minha fé naquele líquido.

Ergui o olhar e vi o relógio da cozinha, já se passava das 2h nem um fio de sono tinha me abatido até então.

"Addison..." Murmurei novamente me sentindo amolecer pelas ondas quentes em minhas veias.

.     .    .

Eu tentava me focar no computador, ler cada gráfico observar cada pico, cada linha e número, porém naquela manhã só era possível me concentrar na minha enorme dor de cabeça.

Parecia que alguém martelava o meu crânio, perfurando-o e se infiltrando nas minhas meninges; se isto não fosse terrível o bastante, qualquer luz ou som era o gatilho para aprofundar ainda mais a dor.

Esforço-me para encarar mais uma vez a tela do computador contando novamente todos aqueles picos no resultado do exame toxicológico, apenas confirmando o que eu mais temia.

"Meredith?" A voz de Addison me despertou. "Ouviu o que eu disse?" Ela questionou cruzando os braços contra o peito.

"Han, desculpe-me." Movimentei levemente a minha cabeça.

"Falei sobre o Delawy, você não ouviu nada?" Addison insistiu.

Inclinei a cabeça para o canto e a observei melhor. Estava tão concentrada nos gráficos, e na dor insistente, que não a vi chegar. Addison estava sobre a luz encostada em minha bancada com seus cachos desalinhados e um sorriso curioso de canto. Não importa por quanto tempo se tenha passado, sempre que eu a via a euforia dentro de mim, explodia sem aviso algum, e naquela altura, até uma dor de cabeça parecia ser depressível quando ela estava por perto.

O Elixir | MEDDISONOnde histórias criam vida. Descubra agora