Sobre tequila e revelações

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Meredith


"Tequila!" Repito a palavra como se estivesse levado um tapa ficando totalmente atordoada. "Tem certeza?"

"É Meredith, tenho; e você saberia também se bebesse outras coisas além de vinho."

Fico em transe, totalmente paralisada. De repente, me dou conta do quão ingênua fui por todo este tempo, logo eu a legista chefe do estado, que pode diagnosticar qualquer patologia apenas usando um bisturi, que detém o respeito de todos os profissionais da área forense, eu Meredith Grey, fui enganada de forma tão fácil e idiota.

Pior ainda era saber que aquilo era apenas uma bebida alcoólica, logo tudo não passou de uma ilusão, uma mentira que escolhi acreditar e sendo assim a Addison não... me vê da mesma forma que a vejo!

"Mer?" Ouvi a sua voz me trazendo de volta para a realidade, foquei em seu rosto visivelmente preocupado com o meu estado de catatônico, enquanto minha consciência viajava procurando respostas.

Como fui me enganar assim? Direciono o olhar até Addison e rapidamente caminho em sua direção retirando a garrafa de suas mãos antes de arremessa-la contra a parede.

O vidro se espalha em inúmeros pedaços, o líquido madeirado escorre preenchendo o chão da minha cozinha adocicando o ar com aquilo que outrora era um elixir milagroso do amor.

"Que merda, Meredith." Addison diz totalmente assustada. "O que está fazendo?"

"Essa porcaria... Eu comprei essa porcaria porque era um elixir do amor!" Ofego devido à força aplicada para arremessar a garrafa. "E como você bebe algo sem saber o que é? E se fosse veneno, Addison?"

"Quem guarda veneno no armário de remédios?" Ela questiona na mesma intensidade "E você não sabe a diferença de um elixir para tequila?"

"Não Addison, eu não sei, e mesmo que eu soubesse, não ia fazer a menor diferença porque o que eu sentia... O que ainda sinto é maior do que minha racionalidade ou a mim mesma."

Voltou-me para ela movida pela súbita coragem que me abateu.

"Por sua causa Addison, por... Por te amar tanto, comprei aquela garrafa na intenção de fazê-la me amar também. O vendedor me disse que era um elixir que trazia os amores possíveis para quem o toma e eu, totalmente burra acreditei. Juro que não havia a intenção de beber o elixir, mas quando te vi com o Jake, não soube o que fazer e então senti que precisava daquilo, precisava acreditar que tudo ia dar certo em algum momento."

As palavras saiam de minha boca como uma carga pesada indo ao chão. Pelo menos, eu não sentia aquele enorme peso em meus ombros e logo comecei a me senti mais leve, ou pelo menos, parecia estar mais leve.

"É isso... eu te amo Addison, amo há muito tempo, amo de uma forma inexplicável e já não me importo com o que vai acontecer entre nós." Respirei fundo. "Mas vou continuar dizendo que te amo, porque esta é a verdade."

Vejo o olhar confuso de Addison sobre mim, a vejo levar as mãos até a cabeça jogando o cabelo ainda mais para trás, vejo quando ela morde o lábio inferior e depois respirar fundo. Tudo bem rápido, mas para mim eram ações terrivelmente longas sendo quase insuportável de se ver, então desvio o olhar em desespero e vejo o chão coberto por vidro e aquela coisa liquida e marrom se infiltrar em meu piso assim como fez em mim.

"Addison, eu..." A chamo me voltando para ela, respiro fundo deixando a minha voz mais clara, tentando acalmar a mim mesma.

"Não, Meredith! Você consegue se ouvir?" Ela diz por entre os dentes me fazendo recuar. "Queria que eu a amasse usando um feitiço? Tem ideia de o quão estúpido e errado isso é? Era por isso que você estava tão estranha desde que voltou do México, toda cheia de segredos e perguntas sem nexo."

"Desculpe-me." Aperto os meus olhos contra minhas mãos frias, sentindo a minha garganta fechar, agora que ela diz percebo mais uma vez a minha estupidez me marcando como um chicote. "Sinto muito, Addison."

Ela movimenta a cabeça em negação antes sair da cozinha. A ouço caminhar pela sala e seus passos sumirem até a porta; acho que ela se foi, não apenas da minha casa, mas da minha vida de vez.

E eu permaneci ali, no mesmo ponto como se estivesse presa ao chão. Algo assim deveria me fazer cair sobre meus pés, deveria me lamentar, talvez gritar; mas não, meu estado de torpor não me permite esboçar nenhuma reação deste tipo. Apenas apoiei minhas mãos sobre o balcão e desci meus ombros, fechei os olhos e senti novamente aquele beijo caloroso deixado em minha testa.

Quando ergo a cabeça me virando novamente, vejo que ela ainda está atrás de mim em silêncio me observando com a mão em seu ferimento.

"Meu casaco, não sei onde está." Ela falou desviando o seu olhar do meu rosto, dos meus olhos mergulhados em lágrimas.

Caminho para lhe apanhar o casaco, mas Addison estava atrapalhando a passagem; quando me aproximo o suficiente dela, não consigo olha-la e sinto que ela também evita o olhar sobre mim. De repente e totalmente sem aviso, sinto sua mão agarrar meu braço me empurrando para trás, pressionando minhas costas no inox frio da geladeira.

Abro os lábios e um pequeno grito me escapa ao sentir a superfície fria em minhas costas, sinto o deslizar de sua mão pelo meu braço, descendo até minha mão e depois se prender em minha cintura a apertando. Sinto seu corpo se pressionar contra o meu, eliminando totalmente os espaços entre nós, suas mãos se erguem entrelaçando seus dedos nos meus cabelos, atingindo minha nuca. Sua respiração cálida atingi os meus lábios conduzindo sua boca em direção a minha.

Nossos lábios se chocam encontrando um encaixe perfeito; novamente sinto o calor envolver o meu corpo, me levando para uma dança flamejante de forma feroz e urgente, e eu posso agora sentir o gosto doce do elixir ou da tequila, ou seja lá o que era aquilo, que ainda estava em sua boca me intoxicando rapidamente, me levando a uma sede inexplicável pelo seu beijo.

E depois de alguns segundos, o ar se torna escasso nos obrigando a nos separar.

"Quando se ama alguém..." Sua voz estava ofegante, mas bastante firme. "É esse tipo de coisa que se deve fazer, Meredith. Não é um elixir ou tequila ou sei lá que outra porcaria que veio do México, que fara com que me apaixone por você."

Addison segurou gentilmente o meu queixo, nivelando nossos olhares.

"Não foi algo fácil de perceber." Ela continuou. "Mas quando achei que ia morrer, vi o que se escondia dentro de mim, vi o que antes não conseguia ver... e seria burrice minha tentar abafar isso agora."

"O que quer dizer?" Murmurei, tentando controlar a minha respiração.

"Que quero estar ao seu lado o tempo todo, que te desejo, que te amo, mas não a amo porque você bebeu tequila tentando me enfeitiçar, eu te amo pelo o que você é Meredith. Então, não tente usar elixir, mágica, trago a pessoa amada em 7 dias e coisas do tipo, porque isso não funciona comigo, apenas você Meredith, a mulher incrível que você é e foi o suficiente para me fazer ama-la."

Fechei mais uma vez os meus olhos esperando que, de alguma forma, aquelas palavras ficassem tatuadas em mim. Senti, desta vez as lágrimas caírem silenciosas pelo meu rosto, não eram lágrimas de desespero era algo muito melhor, muito confortante. Addison ergueu sua mão e tocou minha bochecha tentando enxugar um pouco do líquido salgado.

"Desculpe-me, Addison... e-eu realmente n-não q-queria..."

Ela sorriu levemente e, neste momento, ouço o meu celular tocar totalmente insistente.

"Melhor atender." Ela diz beijando meu rosto carinhosamente antes de se afastar.

Concordei com um leve aceno de cabeça já que não conseguia formular nenhuma frase completa. Atendo o celular tentando parecer mais normal o possível. Quando desliguei, Addison estava com os braços cruzados contra o corpo, me observando em silêncio.

"Athanasiadis descobriu alguma coisa." Digo e vejo o olhar azulado de Addison crescer rapidamente.

"Então, vamos para o departamento." Ela se aproxima ainda mais. "Não terminamos essa conversa aqui, ok?"

O Elixir | MEDDISONOnde histórias criam vida. Descubra agora