E eu me sinto em casa. Parece que eu voltei todo o caminho de onde eu vim. — Chantal Kreviazuk (Feels Like Home).
Após o momento empolgante e estranhamente confortante que tiveram, Sally e Arthur saíram do bar. O céu trazia consigo uma lua que, apesar de majestosa, ainda competia com a intensa energia que emanava do corpo dos dois.
As calçadas já estavam vazias. As ruas, quase desertas, apresentavam uma suave neblina. Apenas sons afastados de buzinas preenchiam o ambiente, além das luzes amareladas dos postes.
Lado a lado, mas um pouco afastados fisicamente, a dupla caminhava em direção à empresa, sem pressa, enquanto a brisa noturna os acalentava. Estavam silenciosos, como se, de repente, uma timidez esquisita crepitasse entre os dois e não soubessem o que dizer.
Arthur não saberia fazer nenhuma piadinha cínica naquele instante. Ally não conseguiria organizar uma frase banal em sua mente.
Assim que se aproximaram da entrada do edifício corporativo, pararam de frente ao slogan suntuoso. Por de trás deles perpassavam os vultos dos faróis dos automóveis, que percorriam a avenida principal.
— Obrigada pela noite, gogoboy. E pelas batatas fritas.
Ele levantou o olhar e a visualizou, e ela pôde admirar o brilho do luar potencializar o tom âmbar da íris dele.
— Obrigado também, pedaço do céu. — Ele deu um passo até ela, ansioso. — Você aceita uma caro...
A fala do ruivo se perdeu assim que uma voz inesperada se sobrepôs, retirando-os de sua bolha:
— Srta. Bessa, o que está fazendo aqui a essa hora? E com ele?
Sally empalideceu ao ser pega no flagra, quase como se estar com Arthur pudesse ser um delito. Talvez fosse. Talvez não. A verdade era que se importava com o ruivo. Talvez até confiasse nele.
Porém, ao acompanhar o diretor de arte ultrapassar a portaria e se direcionar até os dois, notou a tensão entre os irmãos Ferraz.
Havia um clima pesado entre eles, era possível captar pela forma com que aqueles homens trocavam olhares arredios e acusatórios. Quase como se o sangue em comum que os entrelaçava também tivesse anticorpos que os repelia um do outro.
— Ele é o seu irmão, Sr. Ferraz — Ally censurou o rapaz de cabelos escuros.
— Você deveria conhecer a ficha suja das pessoas daqui para não correr o risco de ser demitida.
Arthur, ao invés de se enfurecer com as palavras nocivas destinadas a ele, apenas sorriu de forma debochada enquanto colocava as mãos no próprio bolso do jeans.
— Ally, escute o bom moço da família Ferraz — o tom de voz do ruivo era de escárnio. Em seguida, concluiu simulando sono: — Só não muito para não ficar entediada.
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O amor que deixamos para trás
RomanceSally é uma interiorana acostumada com o cotidiano pacato e humilde. Apesar de aparentar força, sofre devido à partida de seu melhor amigo de infância, Luís Miguel, com quem costumava caçar sapos e compartilhar as cerejas que roubava do vizinho. ...