38 | VOU DESENHAR A NOSSA FAMÍLIA, MÃE

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 Mas estou tentando o meu melhor para olhar em seus olhos, porque as lágrimas nunca envelhecem e os anos nunca morrem. — Isak Danielson (If You Ever Forget That You love Me).


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— Vamos, faça força! — o médico vociferou para Sally enquanto acompanhava suas contrações e a ouvia gritar. — Não pare, seu bebê está vindo! Faça força! Vamos! — bradou.

Sally urrava e sentia o suor escorrer pelo seu rosto. Contraia a mandíbula e sentia seu coração palpitar. Estava deitada em uma maca, usando touca e vestimentas da maternidade, rodeada por médicos e enfermeiros obstetras que a conduziam a parir. Havia um pano a sua frente, impedindo-a de visualizar o que faziam.

Sentia-se esgotada, porém, permanecia tentando empurrar a criança para fora. Inclinou a cabeça para trás e apertou os olhos por conta da dor, mas não parou, dilatando-se ainda mais em meio a seus ganidos. Seus gritos ferozes dominaram todo o recinto e ela apertou firme a mão de Luís Miguel.

— Eu não consigo! — a garota ralhou em desespero. Seus olhos fundos expunham seu cansaço e seu corpo tremia em exaustão. — Eu não aguento mais!

— Vamos, Ally! — Luís estimulou-a carinhosamente. Estava ansioso e em expectativa, provavelmente a filmagem que fazia estaria toda trêmula, mas esforçava-se para passar apenas confiança à melhor amiga. — Aguente firme! Pense no seu filho, no pai dele, em mim ensinando a criança a pilotar um avião — murmurou tentando descontrair o clima, o que de certa forma funcionou, pois isso fez com que a garota ganhasse mais força.

— Está quase lá, só mais um pouco — o médico garantiu ao já visualizar a cabeça do bebê. Sally franziu o cenho e usou toda a energia que ainda tinha. Ela bradou tão alto e tão arrebatadoramente que seu corpo reagiu, a dor a tomou, mas conseguiu expulsar a criança, que, aos berros e suja de sangue, saiu completamente de dentro dela.

— Meu filho — Ally sibilou ao escutar o choramingo infantil e agudo da criança, que era erguida pelo médico e esticava as mãozinhas assustada. Naquele momento, tudo pareceu fazer sentido e valer a pena. Seus olhos estavam embargados, por isso, o vislumbre do ser pequenino passando pela equipe médica pareceu borrado.

— É um menino lindo, cereja — Miguel declarou orgulhoso enquanto fitava a melhor amiga de infância. Ele respirou fundo e, voltando à filmagem que fazia a pedido de Ally, mirou a câmera para a cena da criança sendo limpa pela enfermeira e, apesar da voz estremecida, falou: — Veja, irmão, até então parece que a criança puxou a beleza da mãe...

Levaram rapidamente o recém-nascido para Sally, que se ajeitou e o acolheu nos braços e analisou cada pedacinho do filho. Era estranho segurá-lo por ser tão frágil. Analisou as duas mãozinhas, as duas perninhas, os fios finos, os olhos, os contornos da boca e do nariz.

O amor que deixamos para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora