26 | E EU SINTO MUITO

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Então me ligue quando acabar, diga-me quando terminar. Eu posso ser um ombro para chorar, um coração para confiar. Eu sei que cometi erros, gostaria de poder deletar todos eles.  — James Smith (Call Me When It's Over).


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— Gogoboy?

Arthur pôde escutar a voz de Sally se aproximar e, em reflexo, virou-se para enxergá-la. Observou os cabelos negros e ondulados que caíam sobre seus ombros, o macacão amarelo vibrante com uma das alças caídas, a camisa branca por trás, e admirou o sorriso cálido e vívido que a adornava.

Mesmo que os olhos do ruivo ainda estivessem entristecidos e seu corpo pesado, ainda assim, ao capturá-la em seu campo de visão, um sentimento bom se alastrou pelo seu peito.

— Eu mesmo, seu gogoboy particular — brincou, resultando em uma risada sutil da garota. 

— Depois de muito custo, Helena dormiu — Ally disse e aproximou-se aos poucos. O rapaz estava sentado no sofá de sua avó, solitário e sem camisa, expondo algumas manchas esverdeadas pelo corpo por conta dos hematomas. Sua costela já estava quase recuperada. — Soube da sua decisão quanto a Cíntia.

— Está surpresa? — questionou de repente.

— Não — ela expressou e então se concentrou nos traços perturbados do rapaz, sentando-se ao lado dele. — Esse sempre foi você.

Ele olhou para frente, mais especificamente para a TV desligada e não resistiu, pois antes que pudesse notar, já estava sorrindo. A leveza de sua feição contrastou com o semblante angustiado de tempos atrás e, de alguma maneira, notou que realmente aquela interiorana impetuosa havia se tornado seu ponto fraco.

Seu ponto de paz.

— Gosto da forma com que você fica linda preocupada comigo, pedaço do céu — Arthur declarou simplesmente e, em seguida, a puxou para mais perto de si. Ela bateu sua coxa contra a dele e sua mão tocou a linha da mandíbula do homem. — Tudo está uma merda, mas você ainda está aqui comigo. Para mim, isso é mais do que suficiente. 

— Você deveria parar de me deixar preocupada, Sr. Ferraz — recriminou-o enquanto batia fracamente no braço musculoso e notava seus olhos lacrimejarem.

Arthur, no entanto, não a contrariou, apenas a segurou para pará-la e, logo após trocarem olhares carregados de ternura, a abraçou apertado. Muito apertado. Queria fundi-la em si e então nada no mundo seria capaz de desgrudá-los. Ele descansou a cabeça no ombro da interiorana e suspirou ao se embriagar com o aroma feminino. Escutou a respiração ofegante dela, que servia como um bálsamo para seus tormentos.

— Me desculpa — o tom baixo do ruivo a pegou desprevenida. — Tô feliz só por poder te ver novamente. Te tocar de novo. É errado eu ainda sentir felicidade mesmo voltando a sentir o luto pela morte da minha mãe?

O amor que deixamos para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora