33 | ALGUÉM IMPORTANTE QUER TE DIZER OI

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Estão me quebrando, me sacudindo, me moldando em algo que eu nunca quis (...) Oh, Senhor, mas eu não vou voltar. Não mais. — Jonathan Roy (Keeping Me Alive). 


Era estranho retornar à rotina dolorosa de um criminoso

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Era estranho retornar à rotina dolorosa de um criminoso. Arthur corria no mesmo lugar entre as quatro paredes a fim de se exercitar e ora ou outra também se apoiava na cama para realizar uma espécie de flexão de braço. O suor e o cansaço extremo o faziam se esquecer momentaneamente da sua condição. No modo automático, tomava seu único banho permitido do dia e, ainda após o fluxo de água ser interrompido e acompanhar os pingos que caíam de seu cabelo contra o chão, sentia-se encardido e sujo.

Notava os olhares cruéis e as risadas sarcásticas daqueles que se divertiam com sua situação.

A cada novo despertar naquele ambiente depressivo e claustrofóbico seu interior se deteriorava um pouco mais. Era como se a cada derrota uma parte de si morresse, como se estivesse envolto em uma nuvem cinzenta que o asfixiava. Se não fosse por Helena e por Ally, talvez sucumbisse e desistisse de viver. Porque, em sua cabeça, a paz poderia vir dos modos mais censurados pela humanidade.

— Hoje é o seu final feliz, dondoquinha — um agente ironizou e se aproximou de sua cela. — Alguém importante quer te dizer oi.

— Quem é? — perguntou desconfiado. Os policiais não costumavam fazer comentários audaciosos em relação às visitas de seus familiares, embora o filho de Ângela preferisse evitar o contato com eles sob o teto daquele lugar.

— Descubra — o homem limitou-se a dizer.

O detento escutou o barulho do destranque e a grade foi empurrada para fora. Foi algemado e estranhou não ouvir nem mesmo comentários imbecis de seus vizinhos de cela, era como se estivessem mudos. Ergueu a cabeça para visualizar as câmeras de segurança e o ato não passou despercebido pelo cara fardado.

— Não se preocupe, as câmeras foram invadidas e você e o chefe terão privacidade — assegurou. O ruivo de imediato sentiu um frio na espinha, mas preferiu permanecer em silêncio e em alerta. — Enquanto estamos aqui tranquilos, o lugar está gradativamente sendo dominado por capangas, tão imperceptíveis que tudo parece normal. Os homens que nada a ver tem com os Escorpiões infelizmente estão sendo apagados e colocados nas celas, e quando acordarem será tarde demais. 

Arthur engoliu em seco e estranhou o vulto da mão do homem próximo de si, mas preferiu ignorar. Ele deslocou os próprios pés, caminhando pelos corredores estreitos e pouco iluminados em direção a uma incógnita. A cada passo dado era como se estivesse mais perto da beirada de um precipício. E dessa vez, infelizmente, não sabia se conseguiria se safar.

Não demorou para que o ruivo fosse colocado em uma sala estranha e até então vazia. Na realidade, parcialmente vazia, porque havia alguém de costas para ele. A silhueta masculina se perdia um pouco na escuridão, mas isso não diminuía sua tensão. Por mais que não soubesse o que estava prestes a acontecer, desconfiou da situação e se armou como se estivesse prestes a enfrentar o seu pior inimigo.

O amor que deixamos para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora