Mamãe e papai me olharam, eles disseram que não iriam me manter muito tempo por lá. Quando completei 5 anos, o Pai de Jonas me trouxe até a Região Flores. As escondidas por toda aquela floresta desconhecida, me levou até o Tio Marcos para que pudesse me aceitar em sua vila. Mas tive que entrar sozinho e procurá-lo, mostrei a carta e quando olhei de relance para trás, o pai de Jonas havia sumido, o que queria dizer que ou meu tio me aceitava, ou condenava-me à morte.
-Ele aceitou.
-Sim.
-O que dizia a carta?
-Era um pedido de revogação do meu título de exilado. Pedia que me adotasse. Alegava uma genialidade acima da média e uma talento que seria desperdiçado nas terras dos Nécios. Não houve menção sobre a Marca, isso fazia parte de outro plano, sem furos.
-Mas você já era bem velho, digamos que em maturidade, não?
-Normalmente uma criança de 5 anos não é muito madura. Mas a vida ainda era dura lá, desenvolvemos e nos organizamos, mas arriscar poções numa terra diferente nem Sempre dá certo. Eu vi como era injusto nosso modo de viver, restritos ao pouco uso de magia, mas nós nos adaptamos e tivemos aliados, de modo que facilitava nossa vida. Principalmente quanto a questão de água.
-Água?
-Há somente um rio que não seca durante o verão, o resto dos lagos e riachos viram apenas barro. Mas a Tribo água nos ajudou a obtermos poços.
-O que é isso?
-Buracos onde saem água boa pra beber e usar. Você verá muitos. O certo seria me enviar antes, mas eu não tinha muita noção do que queriam que eu fizesse, com 4 anos eles perceberam que quando fui enviado a Região Água, não contei nada a ninguém sobre a Marca ou o plano que tinham pra mim, aquele foi meu teste, então decidiram que era chegado a hora, com 6 anos não havia mais como dizerem que quando eu crescesse não seria mais um deles. Eu fiz isso, Noemi, fiz acreditarem que meu passado era apenas passado, que meu povo era o mesmo, que não abriria mão das regalias a mim concedidas para termos um lugar justo para se viver.
-Olhando assim, não consigo sentir raiva de você, mas uma guerra autodeclarada? Haverá mortes demais.
-Não existe outra opção, aqui os inteligentes e fortes mandam, ser um ou outro não é suficiente. A primeira vez que tentamos éramos vistos como mercenários, embora nossa aliança fosse bem firmada com a tribo Água, confessarem uma aliança assim faria as outras regiões quererem não apenas defender, mas atacar até que tomassem nossos dois territórios na Guerra dos Peixes.Noemi absorvia as informações como a montagem de um quebra cabeça que poderia obter duas formas, num verso ela foi levada a acreditar na história de um jeito, no outro lado, percebia como pequenos detalhes modificaram o sentido, não sendo exclusivo a verdade, pois numa guerra ela não sabia qual lado era realmente certo, talvez os motivos fossem corretos, mas os meios custavam demais, ela começava a notar que desde que nasçera lhe ensinaram a arte da guerra, como lutar, como defender, como liderar. Mas nunca pediu isso, foi doutrinada para acreditar que era um guerreira, e pela primeira vez percebia que não queria.
-E as vidas perdidas em campo?
-voluntárias, nenhuma irá se não quiser.
-E o meu povo? Eles não tem escolha senão a de Tot.
-Com 5 anos eu pensava em salvar todos, é um erro e gasto de tempo e esforço, posso tentar salvar apenas o que está ao meu alcance. Lembre-se, se render também é uma opção.
-Para vocês também?
-Já fomos escravos da fome e da tolice, a luta de vocês será pela terra, mas a nossa é um caminho sem volta, lutaremos a fio de espada até que o último de nós não dê conta de se levantar, pois somos livres agora, e liberdade e justiça não tem preço.
-continue sua história.
-Sempre tive uma facilidade com magia e quantidade de mana exponencial, de alguma forma, seja pela marca ou por qualquer outra coisa, a natureza parece me entender. Não só li os livros, como os estudei, ensinei ao meu povo cultura e algumas magias que facilitariam a vida deles. Tudo que era mais útil eu repassei para eles, as vezes me era pedido um conhecimento específico. Eu sabia que a hora era chegada, faltava pouco tempo e eu começei a ter afeição por vocês, Não eram ruins, apenas injustos. Certo dia, numa das vezes que eu era vigia noturno, uma árvore conversou comigo, me passou todo plano.
-comunicação arboral? Era assim que passava dados dos livros?
-Sim. Olha, o que eu vou dizer pode parecer forçado, mas é sincero.
Noemi franziu o cenho diante dessa pespectiva, tudo nele parecia forçado, e ela também não negava um pouco de atuação nos últimos dois dias.
-diz.
-O plano era te levar a força, sequestro pela força bruta, eu iria embora e fugia pelo rio, lá a Tribo água me esperaria com um plano de fuga.
-Parece muito mais sensato.
-também achei.
-Preferiu fazer joguinhos comigo?
-Preferi não deixar você com raiva para sempre... havia outra maneira, eu respondi a eles, e apenas essa que eu aceitaria. Convenci a me esperarem na margem Nordeste do Mar, e garanti que estaria comigo.
-Você é muito convencido ou idiota ?
-Eu sabia que era irresistível, abusei da vossa fraqueza, e propus que em vez de uma ameaça, propôssemos uma aliança.
-Um casamento?
-Exato.
-Que garantia você tem que vou querer casar com você?
-Nenhuma. Eu sei que menti, mas essa é a verdade, não podia deixar de tentar a única chance de não perder você.Dizendo isso, Matias se ergueu com uma faca na mão, foi até as mãos de Noemi detrás da árvore e as libertou. Devolveu a faca dela, que estava em sua posse desde que ele retirou da perna de Jonas. Se afastou e voltou para perto de seu amigo, uns 15 metros dentro da floresta. Noemi ponderou a possibidades, só precisava aparecer na fronteira e lhe permitiriam a passagem para casa, podia alegar que tudo que fez foi numa tentativa de obter informações sobre os planos de Matias, e realmente conseguira, com o que sabia podia mudar a vantagem na Guerra que estaria por vir, ou talvez que já tivesse começado.
No entanto, não fez nada além de pensar, passou uma hora e meia no mesmo lugar, estava com muito sono. Não era só isso, ela não parava de ter imagens do olhar lacrimejante de Matias. Por fim se levantou, caminhou até uma estonqueira, sua Rede não estava montada, significava que Matias por mais convencido que fosse, achava que a tinha perdido. Subiu até o galho em que o punho da rede dele estava amarrado, tirou a faça da bainha e pensou que se levasse a cabeça dele consigo, teria uma aceitacão mais favorável. Contudo, seguindo seus instintos, guardou a faca e deitou-se do lado dele, ouviu a respiração dele mudar quando chegou mais perto, encostando a cabeça em seu peito.
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A Marca de um Rei
FantasyTempos depois da separação da pangeia, o mundo está dividido em partes desconhecidas, em um desses continentes uma revolução está acontecendo. Matias recebe um dom e parte para uma missão de formação de um único Reino. Por trás de toda a injustiça c...