cap-3 sozinhos

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Matias e Noemi seguiram por 5 quilômetros subindo o rio, mas nunca na beira onde podiam ser vistos por acaso. Depois deixaram a segurança do rio e seguiram caminho pela densa floresta. Encontraram uma vila onde poderiam dormir com companhia e segurança, tratados como reis visto que a Filha do líder estava presente. Mas seria uma dica do caminho que seguiam se Tot chegasse a perguntar por eles na vila. Por isso eles se afastaram um quilômetro e dormiram nos galhos mais altos de uma estonqueira, que é uma árvore de galhos firmes que são ótimos para armarem redes(feitas das próprias folhas da árvore) longe do chão, onde ficavam vulneráveis aos animais selvagens.

Depois que as redes estavam montadas, Noemi passou de uma árvore para outra, afim de pegar uns frutos de uma mangueira. 

A noite chegou e os ventos também. Mesmo no verão, os ventos causavam certos arrepios, e descer no meio da noite para tentarem fazer alguma poção de aquecimento era perigoso. Bem distantes eles ouviram o som de uma matilha de lobos, os animais mais perigosos de todo aquele continente. Escuros como o breu, andavam de noite e sua aproximação era suave como uma pena. Quando geralmente os percebem costuma ser tarde demais.

— Noemi, estou congelando. 

— Eu também. 

— Seria ótimo uma poçãozinha, ou até mesmo uma folha grande com um toque de reforço.

— É.

— Mas sabe o que seria bom e viável?

— Por favor, não proponha isso. 

— Uma fonte de calor humano. 

— Não, não seria, seu pervertido.

— Venha pra minha rede. 

— Não. 

— Ou eu posso ir pra sua, mas tenho um pouco de medo de cair, você tem uma visão melhor. Não é nada demais, tudo que sobrevive é por sua capacidade de se adaptar. A ocasião favorece certas decisões que não seriam aceitáveis antes. E é por isso que... 

Matias se calou quando percebeu sua rede balançar e um corpo se aconchegar no seu. 

— Shhh.

— Assim está ótimo. 

— Cala a boca. 

Ele se calou tanto quanto podia, o que durou miseráveis três segundos. 

— Eu sei que sou quentinho e muito bonito. Mas tem que me prometer uma coisa? 

— O que? 

— Não pode se apaixonar por mim. 

— Nós iriamos casar, porque isso agora? 

— Porque vai parecer que só temos um ao outro a partir de hoje, que é um pouco de verdade. Noemi, isso pode não acabar bem pra mim. Não quero machucar você. 

— Já machucou, se não vamos nessa juntos, então eu não deveria ter abandonado minha família. 

— Então nós devemos seguir o ritual ?

— Que ritual ? 

— Aceita sermos um só ? 

— Matias, isso não pode ser insensato, é algo que não se pode voltar atrás. É muito cedo pra falar sobre isso. 

— Mas pensei que gostava de mim. O jeito como me olha, as suas pupilas dilatam e seu coração está disparado demais agora. 

A noite encobriu o rubor no rosto de Noemi. 

— Eu... amo você. Acho que desde criança. 

Matias sorriu. 

— O que foi ?

— Eu também.

— Me ama? 

— Não, também estou com sono. 

— Desgraçado. 

Matias sorriu e abraçou Noemi com mais força, o gesto era mais do que resposta. Talvez seu fim não fosse autodeclarado do jeito como pensava. No entanto, encontrar um caminho não seria fácil, teria que tentar achar um jeito por tentativa e erro para encontrar alguma combinação que fosse eficaz. Inebriado pelo sono ele dormiu sentindo o coração de Noemi desacelerar em compasso com o seu. Nesses momentos, se pudesse congelar o exato instante, teria feito.

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