Capítulo Três - Cobrando a dívida

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A maioria dos meus sábados eram reservados ao dia da beleza como eu costumava chamar. Fazia hidratação nos cabelos, fazia as unhas e limpeza de pele. Às vezes, no salão; às vezes, em casa. Naquele sábado não podia ser diferente. Até porque havia um motivo a mais para me arrumar: Karen. Queria estar linda e cheirosa para ela, mesmo que nada pudesse acontecer entre nós naquele dia. Não deixaria de instigá-la, de desnorteá-la. Era uma pequena vingança para o que ela tinha feito comigo. Onde já se viu gozar gostoso na minha boca e depois ir embora me deixando literalmente na mão?!

Escolhi uma roupa que enfatizava bastante o meu corpo, entalhado com tanta disciplina. Uma blusa azul de alcinha, que tinha um decote discreto, mas deixava meus seios medianos mais bonitos ainda; e uma saia estampada colada que vinha até o meio da coxa. Fiz cachos nos meus cabelos lisos, o que deu uma valorizada nos fios loiros. Por fim, fiz uma maquiagem suave, acentuando mais a parte dos olhos e deixando a boca com um batom nude.

Por volta das 21h30min, toquei a campainha do apartamento de Karen e, para minha decepção, não foi ela quem me atendeu:

— Oi, Sara! Seja bem-vinda! — Henrique me deu dois beijos no rosto. — Como sempre, uma gata!

— E você, como sempre, um sedutorzinho barato! — Eu disse com a voz sussurrada e irônica.

Ele soltou uma risadinha e disse para eu entrar e me sentir à vontade. Da sala, notei que Karen estava com mais duas pessoas na varanda. Henrique então falou do meio da sala.

— Amor, Sara chegou.

Karen pediu licença ao casal e veio em minha direção na sala de estar. Já Henrique continuou caminhando para a varanda. Fiquei deslumbrada com a visão daquela mulher. Ela estava com um vestido longo com uma estampa alegre, os cabelos cor de mel se encontravam trançados. A trança caía charmosamente sobre seu peito direito. Na sua boca, um batom vermelho, que, de imediato, me despertou o mais forte desejo de beijá-la ali, na frente de todos.

— Oi, Sara! Tudo bem? Seja bem-vinda.

— Tudo bem e você? — encostei a bochecha na dela de um lado e do outro.

— Tudo ótimo!

Percebi que Karen tentava transparecer uma tranquilidade que eu sabia que não existia dentro dela. Era inexplicável como eu a sentia inquieta e tinha certeza de que o motivo daquele rebuliço interno era a minha presença ali. Nós nos entreolhamos por poucos segundos em silêncio até eu dizer, passeando o olhar pelo seu corpo:

— Meu Deus, como você consegue ser mais linda a cada vez que eu te vejo?

Ela enrubesceu. Eu a achava ainda mais encantadora quando ela ficava acanhada. Discretamente, ela me olhou também e retribuiu o elogio com timidez na voz:

— Você também... está linda!

Em seguida, fomos ao encontro do restante do grupo na varanda, onde fui apresentada a Juliana e a Márcio, um casal de amigos deles. A conversa entre nós fluiu naturalmente. Fui informada por Karen que ainda faltava chegar mais dois amigos. Henrique então me contou que a intenção primeira daquele jantar era juntar os dois amigos, que estavam solteiros há uns meses e tinham muito em comum. E, em menos de uma hora, Carla e Jonathan já estavam na varanda conversando com todos. Realmente houve uma sintonia instantânea entre eles. Talvez a missão alcoviteira dos amigos atingisse o objetivo.

Durante os momentos anteriores ao jantar, ali na varanda, passei por uma situação um pouco inusitada e, por que não dizer, excitante: estava sendo desejada por um casal de noivos. Henrique não perdia a oportunidade de me lançar olhares de cobiça; já Karen, mesmo que tentasse, não conseguia evitar que nossos olhos se encontrassem. O olhar dele, eu rechaçava; já o dela, eu me regozijava e queria mais, queria aqueles olhos verdes vidrados em mim. No entanto, eu tinha que me manter sempre alerta para que Henrique não percebesse nada. Não gostava nem de imaginar o que aconteceria caso ele descobrisse que eu tinha me envolvido de um jeito muito delicioso com sua noiva. Também não queria que Karen descobrisse que eu já tinha feito sexo com ele, embora isso tivesse acontecido anos atrás.

Num dado momento, Karen pediu licença e foi até a cozinha, finalizar o jantar. Talvez eu não tenha deixado passar nem um minuto para perguntar a Henrique onde ficava o banheiro. Em vez de ir até lá, desviei o caminho e fui até a cozinha sem que ninguém percebesse. Encontrei Karen de costas para a entrada. Sorrateiramente, caminhei até ela e, com suavidade, pousei minhas mãos em sua cintura e sussurrei em seu ouvido:

— Que delícia!

Havia me referido a ela e não à comida. Com certeza, ela sabia disso. Após o leve susto que teve, ela me admoestou aos sussurros:

— Não, Sara! Aqui não!

— Hum! Então onde? É só marcar! — Aproveitei a deixa.

— Não foi isso que quis dizer! — Ela disse de um jeito alvoroçado.

— Mas você disse aqui não... então, pode ser em outro lugar.

— Não! Não pode mais acontecer nada! Meu Deus, eu sou noiva! E do seu amigo! — Ela falou retirando minhas mãos da sua cintura e se afastou.

— Tudo bem. Você está certa! — Disse me reaproximando dela outra vez. — Mas você está me devendo uma coisa e eu vou cobrar!

— Devendo o quê, Sara? Não estou devendo nada a você! — Karen falou com a voz trêmula, porque sabia do que se tratava.

Aproximei meu corpo do dela e deu para sentir o calor que emanava dele. Fitei-lhe o fundo dos olhos e sussurrei:

— Está sim! Um orgasmo! Uma gozada daquelas bem gostosas...

Um sorriso cafajeste se abriu em minha boca e, em seguida, saí da cozinha. No momento em que eu caminhava pela sala até à varanda ouvi o barulho de algo cair na cozinha.

— Tudo bem aí, amor? — Henrique gritou da varanda.

— Quer ajuda, Karen? — Parei e perguntei segurando o sorriso.

— Tudo bem. Não preciso de ajuda. — Karen respondeu.

Mesmo assim, Henrique se dirigiu à cozinha para ajudar a noiva. Alguns momentos depois, estávamos sentados à mesa para jantar. Durante a conversa,
Márcio perguntou se eu tinha namorado, porque ele tinha um amigo perfeito para me apresentar. Notei que Karen e Henrique ficaram um pouco desconcertados e eu gracejei:

— Estou solteira, mas eu sou lésbica, amado! Graças a Deus!

Soltei uma risada e todos me seguiram em risos meio sem graças. Logo depois Márcio comentou, finalizando aquele assunto:

— Ah, tudo bem, então. Sem problemas!

O restante do jantar foi bastante agradável, apesar de sentir a todo momento uma vontade absurda de beijar Karen. Quando fui embora, Márcio e Juliana e Karla e Jonathan ainda estavam lá. Quem me deixou até a porta foi Karen. Ela a abriu e, antes de sair, dei um beijo em cada lado do seu rosto e sussurrei:

— Depois ligo para você! Você tem que pagar o que me deve!

— Sara... Não dev...

Interrompi-a com meu dedo em seus lábios e murmurei:

— Deve sim! E você vai pagar!

Dei-lhe um beijo no canto dos lábios, sorri e saí sem olhar para trás.

DESVENDANDO O AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora