Na manhã daquela sexta-feira 13, cheguei ao escritório quase tão cansada quanto eu estava ao sair de lá no dia anterior. Como não tinha dormido bem, não consegui descansar de maneira satisfatória para enfrentar mais um dia de labuta.
Afora o cansaço do corpo, tinha a desordem da mente causada pela situação com Karen, que não me deixou me concentrar em vários momentos do dia. Onde eu fui me meter, meu Deus?! Vez ou outra, durante a jornada de trabalho, essa pergunta surgia dentro de mim.
Um pouco antes do horário do almoço, recebi uma mensagem no celular. Com esperança que fosse Karen, destravei-o empolgadíssima, no entanto, meu sorriso murchou quando vi que era de Henrique:
"Cansado dessa empresa já! Não tem uma mulher gostosa para eu admirar! Sentindo falta das minhas cantadas, Sarinha? Não se preocupa que amanhã eu estou de volta!"
Acabei rindo daquela mensagem. Henrique era o típico homem branco, heterossexual, machista e cis, digno de pena. Mesmo tendo falta de noção em relação a algumas coisas, ele não era uma pessoa ruim. Era fruto da sociedade patriarcal que ainda não tinha se aberto a uma desconstrução de pensamentos e atitudes. Deslizei meus dedos pelo celular e responde:
"Estou é aliviada, isso sim! Porque não fica por aí de uma vez por todas, hein?"
"Que pesado, lindeza! Me deixou magoado, mas te perdoo se a gente repetir aquela noite de anos atrás, depois da festa. Que tal?!
"Você não se cansa, não?"
"Nunca! Você é uma mulher muito, muito má, sabia?"
"Sabia"
"Mas, mesmo assim, queria te pegar de jeito outra vez!"
"Isso vai ficar para os teus sonhos..."
Ele visualizou, mas não enviou mais nenhuma mensagem. E eu, voltei ao extenso e intenso trabalho que ainda tinha para aquele dia.
***
No meio da tarde, resolvi ligar para Karen para confirmar nosso encontro de logo mais à noite. Depois do que aconteceu no dia anterior, fiquei receosa de que ela quisesse desmarcar e nunca mais me ver. Após clicar em seu nome na tela do telefone, Karen atendeu na quarta chamada com uma voz meio murmurada:
— Oi, Sara.
— Oi, Karen. Aconteceu alguma coisa? Você está com a voz estranha.
— É só estresse de trabalho mesmo. Tudo bem com você?
— Tudo bem. Liguei para saber se nosso happy hour está de pé. — Evitei comentar sobre o dia anterior.
— Está marcado sim. Você quer ir aonde? Podemos marcar naquele mesmo local...
— Pode ser! Vai ser até simbólico. Terminarmos onde começamos.
— Pois é...
Sua voz saiu um pouco fraca, mas não comentei acerca dela e perguntei:
— Às 18:30, pode ser?
— Pode sim.
— Então até mais tarde.
— Até.
Depois que desliguei o telefone, apressei o que podia do trabalho que ainda tinha de ser feito. Não queria me atrasar para o nosso encontro. Nosso último encontro de aventuras. Senti um aperto no peito ao pensar sobre isso.
Era óbvio que ainda encontraria Karen nas festas do escritório, nos encontrinhos depois do trabalho ou eventualmente pela vida afora, mas, depois daquele dia, seriam somente encontros amigáveis e não sexuais. O que eu achava uma grande pena! O mundo do sexo sentiria a nossa falta, porque éramos simplesmente incríveis juntas. Infelizmente, não se pode ter tudo...
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DESVENDANDO O AMOR
RomanceNo passado, Sara teve um caso com Henrique. No entanto, ainda na época da faculdade, ela se aceitou lésbica. Anos depois, eles se reencontram no escritório de advocacia, onde passam a ser colegas de trabalho. Henrique quer reviver o passado, mesmo...