No dia seguinte, fui a primeira a despertar e perceber o que tinha acontecido na noite anterior. Abri o sorriso ao sentir a presença daquela pele quente colada ao meu corpo. Virei-me bem devagar e vi Karen, que dormia com o braço ao redor da minha cintura. Tirei-o lentamente de cima de mim para não a acordar e me levantei, saindo sorrateira do quarto. Preciso com urgência de café! Devido ao excesso de bebida, sentia minha cabeça pesada.
Fui até a sala à procura da minha roupa. Depois de vesti-la, caminhei até a cozinha e achei nas dispensas tudo que precisava para fazer meu café. Depois de pronto, escorei-me na bancada segurando a xícara fumegante em uma das mãos, enquanto pensava na loucura da noite passada.
De repente, a mulher que tinha se tornado dona de todos os meus pensamentos, apareceu na cozinha, vestida apenas com uma camisa larga de Henrique e com os cabelos amarrados desajeitadamente. Meu Deus, como você consegue ser tão maravilhosa assim logo de manhã?!
— Bom dia... — Ela me cumprimentou.
— Bom dia! — Sorri sem mostrar os dentes. Não queria me mostrar com tanta empolgação ao vê-la.
— Tem mais café? — Ela me perguntou.
— Tem sim. Fiz uma garrafa cheia!
Ela pegou uma xícara no armário e, depois, deixou que o líquido quente a preenchesse até o fim. Seguidamente, deu alguns sopros no café e tomou um gole. Eu observava cada mínimo movimento do seu corpo como se estivesse hipnotizada. Depois do gole, ela me olhou e disse:
— Não sei muito bem o que dizer sobre a noite de ontem.
— Será que alguma coisa precisa ser dita? Aconteceu e somos todos adultos para lidar com isso.
— Mas fiquei pensando sobre uma coisa.
— Que coisa? — Perguntei sentindo a ansiedade me invadir.
— Como nós ficamos?
Meu coração saltitou dentro do peito. Como assim como nós ficamos? Não me mata do coração, Karen!
— Acredito mesmo que não tenha acontecido nada entre vocês... — Ela continuou. — Por que você não quis, sei disso. Henrique não é nenhum santo e notei que ele tem uma enorme atração por você. E mesmo que agora ele saiba o que aconteceu entre nós, tenha até se divertido com isso... — Revirou os olhos. — Não sei se seria melhor a gen... Sei lá, é tudo tão confuso! — Ela encravou os dedos entre os cabelos.
— Olha, Karen, o certo seria eu sumir da vida pessoal de vocês, nem que fosse por um tempo. Como eu disse, isso seria o certo a se fazer, mas... — Olhei-a no fundo dos olhos. — Não é isso que eu quero!
Ela se aproximou mais de mim, tocou meu rosto com seus dedos macios, depois deslizou até meus lábios, e sussurrou:
— Também não quero parar de te ver...
Avizinhou seu rosto do meu e buscou minha boca. Demos um beijo delicado, mas intenso. Nossas línguas se procuravam com suavidade. Depois de nos afastar, nós nos abraçamos e lhe beijei o pescoço sugando o ar do local até ouvi-la dizer:
— O que você fez comigo, Sara?
Voltei a encarar em seus olhos. Não sei se ela percebeu, mas eles questionavam a mesma coisa. Não respondi, apenas preenchi sua boca com a minha de novo. Ao nos afastarmos, comecei a falar:
— Não sei se vou conse...
Karen me interrompeu com o dedo na minha boca e comentou:
— Shiii... Você está ouvindo isso?
Eram gemidos vindos do quarto. Meu Deus, Isa e Henrique! Como uma cobra que se esgueira pelos cantos, Karen caminhou até o quarto. Com receio de que ela pudesse ter alguma reação descontrolada, eu a segui.
A porta estava entreaberta e vimos Henrique deitado, apertando a bunda de Isabela, que cavalgava com vontade em seu pênis. Desviei meu olhar para Karen que assistia a cena com um semblante impassível. E, para minha surpresa, ela deu meia volta e retornou para a cozinha.
Quem ficou atônita fui eu e não com a transa de Henrique e Isabela, mas com a reação calma de Karen. Quando chegamos à cozinha, ela encheu sua xícara outra vez. Seu olhar estava longe e, enquanto ela bebia o café, perguntei:
— Karen... posso te fazer uma pergunta?
— Hum rum.
— Você não sentiu ciúmes ao ver o Henrique com a Isa agora?
Ela me olhou e confessou:
— Por incrível que pareça, não. E não sei o porquê. Tudo está tão confuso... E piorou depois de ontem.
Com a curiosidade atingindo níveis elevadíssimos, questionei:
— Por que você diz isso?
— Não sei te responder agora... preciso refletir sobre tudo...
— Entendo, mas voc...
— Sara, não quero pensar nisso agora. Vamos tomar café da manhã, pode ser?!
Assenti com a cabeça e ela foi até o armário, pegou várias coisas e começou a preparar panquecas. No momento em que terminávamos, Henrique e Isabela surgiram na cozinha. Ambos tinham tomado banho e Isabela também estava com uma camisa larga de Henrique. Eles nos cumprimentaram e o constrangimento logo tomou de conta do ambiente. Foi Karen quem quebrou o silêncio, dizendo:
— Venham. Sentem, que fizemos café e panquecas para todos.
Henrique se aproximou de Karen e lhe beijou o topo da cabeça. Isabela se sentou ao meu lado. Começamos a comer e o silêncio novamente reinou entre nós. Meu olhar sempre buscava Karen. Queria tentar decifrar o que ela estava sentindo e pensando. Entretanto, ela conseguiu ficar indecifrável. De um súbito, ela voltou a falar:
— Bom, em relação ao que aconteceu ontem... somos adultos, tivemos uma experiência bastante intensa, mas acho que foi isso. Apenas uma experiência. Vocês concordam?
Todos nós assentimos e ela continuou:
— Então, não precisamos falar mais nada sobre isso. Fica tudo como antes.
E como é ficar tudo como antes?! Explique-se melhor, Karen! E não me deixe mais angustiada do que já estou!
Apesar de sentir meu coração apertado, resolvi dizer tentando demonstrar uma indiferença que não existia dentre de mim:
— Concordo plenamente com você, Karen.
Foi a vez de Isabela corroborar:
— Eu também.
Por fim, Henrique disse:
— Por mim, tudo bem.
Assim que terminamos de tomar café da manhã, disse olhando para Isabela:
— Vamos embora, Isa? Tenho que ir, mas antes deixo você em casa.
— Vamos sim. — Ela se levantou e foi trocar de roupa.
Saí da cozinha para pegar minha bolsa e já ficar preparada para sair daquele apartamento e daquela situação que estava começando a me afligir.
— Não vão agora não. — Henrique até tentou nos convencer.
— Tenho mesmo que ir. — Eu disse. — A gente se ver amanhã. — Abracei-o. — Tudo como era antes, lembra? — Sussurrei no ouvido dele.
Isabela cumprimentou Karen e depois foi até Henrique. Nesse momento, caminhei até Karen, dei-lhe um beijo suave no canto da boca e, depois, dei-lhe um abraço apertado.
— Até qualquer dia desses...
Após desvencilharmos do abraço, nós nos entreolhamos por alguns instantes. Isabela estava de conversinhas com Henrique e os dois riam com cumplicidade. Nem ouvimos o que eles falavam, porque Karen e eu estávamos perdidas no olhar uma da outra.
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DESVENDANDO O AMOR
RomanceNo passado, Sara teve um caso com Henrique. No entanto, ainda na época da faculdade, ela se aceitou lésbica. Anos depois, eles se reencontram no escritório de advocacia, onde passam a ser colegas de trabalho. Henrique quer reviver o passado, mesmo...