Capítulo Um

321 15 2
                                    

Eu não sei como iniciar essa história!

Eu nem sei como se inicia uma história, na verdade. Mas sei que todas as histórias devem ser iniciadas! Eu não tenho habilidade para definir oque é uma história e transforma-la em palavras. Porém eu sei que todas elas têm de haver um inicio, um significado ou uma razão. E a minha história parece nunca ter um inicio, nem um fim. Eu digo a mim mesmo que não há necessidade de escrevê-la, mas ela não é necessariamente algo que se deixa de lado. Eu tenho uma história e eu posso conta-la.

O final de verão era sempre o mesmo em todas as épocas do ano. Mas esse ano foi diferente. Chato como sempre, mas diferente.

Minha mãe e eu se mudamos para uma cidade chamada Storm Queen, uma cidade muito pequena, e eu tive que deixar tudo e começar uma vida nova. Mas se pensa que eu aceitei fácil, fácil. Então está completamente enganado! Lutei pelos meus direitos o tanto quanto pude, mas minha mãe era uma ótima jogadora. Antes mesmo de eu terminar minha "explosão de sentimentos raivosos do mundo", ela me disse que: "eu não lavo minhas próprias meias"; então (segundo a lógica obsessiva dela) eu devia obedecê-la.

Era um final de tarde quente e abafado. A nova casa cheirava a poeira, minha mãe decidiu ajeitar os móveis antes mesmo do anoitecer, então os carregadores apresaram-se para que tudo que minha mãe queria ficasse do jeitinho certo. Minha mãe era uma mulher muito doce e nada a intimidava, a não ser o nosso cachorro Pubi que sempre a deixava sentimental. Eu não gostava muito dele, uma vez queria afoga-lo na piscina quando eu tinha onze anos, hoje ele é um cachorro velho e já é experiente o bastante para ficar longe do meu território se quisesse continuar vivo. Mas essa rixa com meu cachorro não é a verdadeira história que vou contar, mas infelizmente essa "bola de pelos" faz parte dela.

Eu estava sentado no muro de meio metro que dividia as casas iguais do bairro. Mexia em uma flor na moita que contornava o murro dando um expecto belo e charmoso. Arranquei a flor sem pensar, porque simplesmente achei aquilo ridículo. Pubi estava com a cabeça apoiada no meu colo, (eu sei que falei que não gosto muito dele), mas nós estávamos sofrendo aquela sensação estranha de um novo lar. Ele chorava baixinho pela cadela de rua que ele namorava antes. Eu queria muito rir dele, mas ele não entenderia por ser um cão, e isso só ia mostrar a todos a minha volta de que eu era realmente louco. Então deixei que ele se apoiasse em mim para que eu demonstrasse ter um pouco de compaixão. Só que realmente queria que aquele cachorro se fodesse.

Estava um clima tenso naquele novo lar, minha mãe me observou destruindo as flores do pequeno murro e veio até mim. Se eu fosse uma pessoa normal eu saberia exatamente que minha mãe me daria uma bronca daquelas e me deixaria de castigo como as mães deixavam todos os outros adolescentes. Acontece que minha mãe nunca amentou a voz para mim, era uma pessoa agradável e doce. Quando papai ainda era vivo ela era mais durona, intimidadora e um pouco rabugenta. Eu devo admitir, eu não gostava muito dessa nova mãe. Acho que ela precisa arranjar alguém logo.

Ela chegou perto de mim e de Pubi de mãos na cintura broqueando o sol que nos aquecia naquele instante. Beleza!

- Oque está sentindo? - ela perguntou.

- Acho que ele está com saudades da Lu. - eu respondi acariciando os pelos de Pubi, eram macios, não vou negar.

Minha mãe soltou uma rápida risada.

- Eu estou falando de você.

- É claro. - eu disse tentando desviar o olhar dela. Mas minha mãe sempre foi persistente. Ela levou a mão ao meu queixo e levantou minha cabeça para que meus olhos fixassem os dela. - eu estou bem, mãe.

Eu pude perceber seu olhar.

- Tomou os remédios?

- Eu não preciso mais daquilo.

KianOnde histórias criam vida. Descubra agora