Pela manhã reuni toda a equipe envolvida no caso das garotas, para uma reunião. Quero total envolvimento do time jurídico e resultados. Aquela garota merece justiça e a outra precisa ser encontrada. Para dar mais atenção a isso, deleguei a maioria dos casos menores aos advogados auxiliares, que finalmente estão liberados para trabalhar. Eles são jovens e horas no tribunal é tudo o que querem. O novo assistente irá auxiliá-los, mantendo Georgia com foco total as minhas necessidades.
- Srta. Harris, sua agenda da semana foi reorganizada. Hoje terá o depoimento do caso Sommers, na próxima semana ocorrerão as audiências preliminares. – Falou Georgia.
- Certo, vou me preparar para o depoimento. – Ela compartilhou comigo a agenda, a incluí no calendário do celular. Assim tenho lembretes e posso fazer anotações privadas. – Por favor, traga-me os arquivos sobre a concessão da Reserva Sete Nações. E o contato dos envolvidos nas negociações. – Abaixei o tom de voz. – Georgia, tente manter isso longe dos ouvidos da maior quantidade de pessoas possível.
- Sim, eu posso fazer isso. – Ela afirmou.
O depoimento dos familiares de Kristen Sommers, a garota que foi encontrada morta é primordial. Infelizmente eles não estão cooperando muito. Querem resultados, mas se recusam a dar respostas. Será um dia pesado, depoimentos de casos como esse são difíceis de controlar. Espero que os detetives responsáveis saibam conduzir a momento.
Passei a manhã analisando o caso e tudo o que se sabe até o momento. Pesquisei a família Sommers, saber quem são é importante. São nascidos e criados em Creek, o pai da Kristen é dono de uma oficina mecânica e mãe tem um salão de beleza. Ambos são membros do conselho de moradores de Creek, a família é muito religiosa e faz parte da comissão da igreja. Até aí nada de estranho, possuem mais três filhos menores que Kristen, um deles com a idade do pequeno Ray, cinco anos. Kristen por sua vez aparentava seguir os passos dos pais, fazia parte do grupo de jovens da igreja e do grêmio estudantil. Uma aluna exemplar segundo os professores, muito querida por todos. Sem inimigos, chegou um deles a dizer. Mas em todos esses anos de trabalho, sei que existe muito mais além da fachada. Um crime tão bárbaro deixou pistas, só nos resta encontrá-las.
Como esperado a coleta de depoimentos foi difícil, a mãe de Kristen mal pode tocar no nome da filha sem que as lágrimas a dominem. O pai é mais controlado, até um pouco frio. Reverteu a maioria das perguntas em acusações contra a polícia, a justiça e ao povo indígena. Ambos foram interrogados separadamente, apenas com a presença do advogado. Os detetives não conseguiram muito, quem sabe na vistoria que será feita no quarto da garota.
Saí do trabalho ao anoitecer. Minha cabeça está explodindo de dor. Para piorar a minha vaga de estacionamento fica na rua lateral do tribunal. É preciso caminhar alguns metros até ela. A brisa noturna é refrescante, mas em nada se compara a um bom banho. Ouvia apenas o som dos meus saltos na calçada, o que me fez pensar no xerife e seu jeito peculiar de fazer um elogio. Não o vi hoje na delegacia, estava resolvendo assuntos em outra cidade. Faltando pouco para chegar em meu carro tive aquela sensação, a mesma da beira do lago no dia da feira. A sensação desagradável de estar sendo observada e seguida, desta vez olhei para trás, mas não avistei ninguém. Apenas um carro parado abaixo do poste, o reflexo da luz no para-brisas impediu eu que enxergasse se havia algum ocupante. Apertei o passo, esse tipo de sensação não é novidade, ela já aconteceu antes, em Chicago.
Holly me ligou e colocou o pequeno Ray para falar. Ele queria me convidar, outra vez, para a apresentação que fará. Um convite de alguém tão especial não pode ser recusado. No sábado, vestindo um vestido floral de saia longa e sandálias baixas, me juntei aos cidadãos de Creek no Festival de Primavera.
Como em qualquer evento da cidade, a minha família estava dando sua contribuição. Papai e Jesse cuidando do churrasco, Holly do bolo e minha mãe na angariação de donativos para o orfanato.
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Anna Mae
RomanceStatus: COMPLETO Aos 35 anos, decidi recomeçar. Retornando para a minha cidade natal, reaproximando-me de minha família e dos antigos costumes. Levando uma vida discreta e tranquila. Trabalhando como promotora local, enfrentando juízes e advogados c...