Cap. 3 - Crepúsculo

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Preciso me atirar de cabeça no trabalho, para que sonhos como aquele não voltem a acontecer. Georgia encontrou um novo assistente, ele começa hoje. Ainda tenho que encontrar uma forma de arcar com essa despensa.

Tenho audiências o dia todo, os advogados auxiliares que selecionei ainda não foram nomeados, essa lentidão é estressante. São tantos crimes cometidos por disputa de terras e brigas entre vizinhos, que começo a pensar que estamos no velho oeste. Muitas delas poderiam ser evitadas, as alegações para entrar com alguns processos são infundadas. Na verdade, elas são absurdas. Um desperdício de tempo e dinheiro público. Uma simples reunião de conciliação poderia evitar que as coisas se arrastem para o tribunal. Preciso encontrar uma solução, afinal, existem casos mais importantes que perdem espaço em meio a pilha de bobagens.

- Meritíssimo, protesto! A vida pessoal da testemunha não está em julgamento. - Meu tom firme.

- Negado, responda à pergunta. - Disse o Juiz.

- É verdade que os seus pais são imigrantes ilegais? - O advogado questionou.

Se isso for verdade, ela corre o risco de delatar a família em juízo.

- Protesto! A família da testemunha não tem relação com o caso, isso é inadmissível. - Fiquei em pé.

- Meritíssimo, é relevante para estabelecermos uma análise de caráter.

- Negado, responda à pergunta do advogado senhora. - O Juiz nem mesmo olhava para a testemunha.

- Não responda. - Georgia me olhou espantada. - A senhora não precisa responder sobre terceiros.

- Meritíssimo! - O advogado de acusação bradou.

- Promotora Harris este tribunal é o meu, são as minhas regras. - Ele olhava para mim furioso. - Não ouse me desfiar.

- Seu tribunal, regras da constituição Americana e da Suprema Corte de Justiça, elas não obrigam esta mulher a delatar a família. - Me mantive firme. - Senhora Gonzalez, não responda.

- Promotora! Você está detida por desacato, guarda! - Ordenou o juiz furioso.

- Senhorita Harris! - Georgia preocupada.

O guarda se aproximou, para me escoltar para fora do tribunal.

- O julgamento está adiado, sessão encerrada. - O Juiz bateu o martelo. - Guarda o que está esperando? Eu a quero detida.

- Senhora, me acompanhe. - Ele estava visivelmente contrariado com a decisão do juiz.

Georgia apanhou as minhas coisas, enquanto fui escoltada até a ala de detenção. Não é primeira vez que isso acontece comigo, mas espero que seja a última.

Ele abriu a cela, muito apertada e com apenas um banco comprido de concreto. Ao contrário das de Chicago, esta é muito limpa.

- Desculpa. - Disse o guarda.

- Não é culpa sua, o sistema infelizmente não é justo com todos. - Me sentei, o concreto gelado me causou arrepios.

- A justiça daquele juiz não é cega, ela enxerga cores e classes sociais. - Ele lamentou.

É óbvio, aquele homem é uma das laranjas podre contaminam o sistema.

Estava sem o meu celular ou qualquer outro pertence, espero que Georgia agilize a minha soltura.

Cerca de 30 minutos se passaram, estava de olhos fechados quando ouvi o som da cela sendo destrancada. Ao abrir os olhos, e me deparei com a estrela dourada. Outra vez!

Anna MaeOnde histórias criam vida. Descubra agora