Bia e Lis - A Descoberta De Um Amor [CONCLUÍDA]

Epílogo - BIA

E é o final! Espero que vocês gostem desse final feliz!

—Olha só o tamanho dessa varanda! Da pra montar uma balada aqui! — disse assim que Lis abriu a porta da varanda.

Nem no maior dos meus sonhos, nunquinha, eu imaginava que conseguiria visitar um apartamento igual aquele, muito menos pensando em compra-lo. A cozinha parecia de mulher rica de negócios, uma sala enorme, uma varanda maior que o primeiro apartamento que morei sozinha e com banheira. BANHEIRA, isso era sinal de dar certo na vida. A menina que foi bolsista no colégio particular, sofrendo nas mãos de riquinhas metidas, e que vivia com o bandejão da UFMG estava procurando apartamentos para comprar. A diretora da minha escola iria morrer de vergonha se me visse agora, segundo ela eu só seria "alguém na vida" se fizesse medicina ou engenharia ou direito.

Quando Lis me contou a ideia dela em financiar um apartamento juntas, eu pensei que ela estava doida. Porque, por mais que eu estivesse ganhando o melhor salário da minha vida, na minha cabeça aquilo estava muito longe. Mas Lis, aparentemente, tinha calculado as milhões de parcelas que seriam necessárias pra gente conquistar a tão sonhada casa própria. Ela fazia bom uso das aulas de cálculo dela.

— É um pouco mais caro do que a gente tinha pensado, mas algumas parcelas a mais não faz diferença né? —disse ela, depois de terminar de refazer as contas. Eu sabia que ela tinha gostado até do vaso do lavabo, ela estava pronta para aquele compromisso.

Era um compromisso do caralho, quase um casamento, era um financiamento de 20 anos. Lis estava pronta para assinar o contrato e, de uma forma muito leve, eu também estava pronta.

Depois de tudo, da briga com meus pais, todo o processo de reconciliação e de aceitação deles. Eles precisaram aprender muito, mas nós duas também. Nosso relacionamento foi jogado na internet sem que estivéssemos preparadas, vieram várias críticas e preconceitos, e nós tivemos que aprender a lidar com a exposição. As pessoas queriam saber sobre nossa vida pessoal e parecia que eles estavam dormindo dentro do nosso banheiro.

Foi difícil, mas nada como o tempo. O tempo passou e curou todas aquelas feridas. Nós nunca descobrimos que foi o autor da foto, mas com o tempo, não fazia mais sentido procurar. Estávamos bem e a vida seguiu.

—Eu tô disposta a pagar todas essas parcelas com você. —A abracei e beijei, era tão tranquilo e tão bom. Estar com ela era assim. Eu estava pronta pra passar o resto da minha vida com ela, duas velhinhas morando na praia ou no meio do mato.

—Eu acho que a mulher do elevador não deve tá muito feliz com isso não. —comentou. Também achava que não, assim que nós duas entramos de mãos dadas no elevador, a mulher de 40 e poucos anos fez uma careta e puxou o filho pra mais perto. Com certeza ela achava que nós duas éramos péssima influencia pra criança. Alguns meses atrás eu nem teria continuado no elevador, teria descido no próximo andar e ido procurar outro prédio, mas estava aprendendo a lidar com a homofobia. Aquela criança com certeza tinha uma péssima influencia, mas não era minha com Lis, mas da família.

—Eu não ligo pra ela. —disse segurando a mão da minha namorada. — Ela que lute pra aturar a gente nas reuniões do condomínio. —Lis riu de mim. Era verdade, eu não ligava pra ninguém que se desse o trabalho de vir falar mal do meu relacionamento ou dar opiniões sobre com quem eu deveria me relacionar.

Era nítido, eu era uma pessoa totalmente diferente. A menina insegura que se escondia dentro das expectativas alheias, que não conseguia impor vontades e lutar pelos meus sonhos, se transformou. Nunca em toda minha vida eu tinha me sentido tão madura, finalmente tinha parado de me enxergar como uma garotinha, agora eu era uma mulher. Claro que Lis foi parte disso, uma parte muito importante, mas eu também tinha muito mérito naquele processo. Muita leitura, pesquisa, trabalho e terapia depois, eu me sentia pronta e bem. Era isso, eu estava bem e estar bem é a melhor coisa do mundo. Conflito é interessante só pra jovem com energia, eu já estava pronta pra tranquilidade da vida adulta perfeita.