17. LIS

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Espero que tenham uma boa leitura, Rapha <3



Três meses, 91 dias, 2184 horas, esse era o tempo que eu estava com Bia quando a bomba explodiu.

Mesmo com todas as dificuldades que nós passamos no inicio, com ela entendendo melhor sua sexualidade e lidando com as próprias questões, nós duas éramos um encaixe perfeito. Ela sempre estava por mim, me ajudando a lidar com meus sentimentos, e eu estava por ela, botando pilha para que ela aceitasse os riscos e se jogasse em todas as oportunidades que estava tendo no trabalho e na vida.

Da minha parte, tinha um prazer em mostrar as coisas novas pra ela. Desde coisas simples, como comer sushi, que ela odiou, ver o mar pela primeira vez, ela quase se afogou na primeira onda, ou as coisas complexas. Tanto para Bia, quanto para mim, nosso amor era novo, ao mesmo tempo em que era calmo e tranquilo, era cheio de calor e paixão. Parecia coisa de jovem apaixonado, com seus vinte e poucos anos sonhando com um amor pra vida inteira, mas a cada dia eram mais certeza e menos dúvidas, apesar de que elas ainda estivessem ali.

Bia não colocava em palavras, mas a conhecia o suficiente para saber, ela se sentia culpada por não conversar com os pais sobre mim, por me esconder sempre que ligava o vídeo com a mãe. Eu entendia, pelo menos no inicio eu tentava entender, era difícil sair do armário em uma família religiosa e em uma cidade do interior.

Mas, como qualquer ser humano, eu tinha meus piores dias, dias nos quais eu ficava muito chateada por ser chamada de amiga na frente da minha sogra. Algumas das minhas inseguranças gritavam, aqueles diabinhos que aparecem nos desenhos ficavam falando pra mim que Bia iria me deixar em algum momento, que eu não passaria de uma experiência, ou que ela nunca iria contar para a família sobre mim.

Tudo que queria era resolver a situação, mas não tinha nada que eu poderia fazer além de apoiar ela no processo. Eu a amava e por mais insano que parecesse, me entregaria em qualquer loucura por ela.

~*~

Depois da confusão que me fez conhecer Bia, do meu tempo off-line e da matéria vencedora dela, meu público mudou bastante e meu conteúdo também. Pela primeira vez, as pessoas se interessavam mais no que eu tinha a dizer e não no que  estava jogando. Minha lives abordavam todos os assuntos, desde coisas sérias até coisas bobas, falava sobre pautas feministas, comentava algumas notícias interessantes, discutia política. Eu tinha voz, ninguém que me assistia queria que me calasse e apenas parecesse bonita na câmera.

Em uma das minhas muitas horas ao vivo, eu discutia sobre qual a cena seria a cena mais triste dos filmes da Disney, a cena da morte do Mufasa ou quando Bambi percebe que a mãe dele não escapou do caçador ou, a que mais me faz chorar, a cena que a mãe do Dumbo abraça ele.

Percebi que, sem motivo aparente, meu chat mudou completamente o conteúdo das mensagens, passou de uma disputa entre "Bambi!", "Mufasa!" e "Dumbo!" para várias perguntas diferentes, mas que se resumiam em: "Você tá namorando, Lis?".

A principio, estranhei aquela mudança repentina de assunto, mas quando você está ao vivo, essas coisas acontecem. Nunca fui de expor a minha vida romântica na internet, nunca tive necessidade disso, desde que fiquei um pouco mais famosa estava solteira, isso é claro, até conhecer Bia. Com toda a situação de Bia ainda não ter se assumido para os pais, nós nem chegamos a falar sobre esse tipo de exposição, eu não tinha ideia sobre o que ela pensava sobre isso, mas sabia que era bastante reservada.

Uma dica de quem está na internet desde quando tudo era mato, nunca perca tempo mentindo sobre alguma coisa, diga a verdade e omita o que você não quer falar. Se eu apenas mandasse um não seco, ninguém iria esquecer do assunto e em todos os dias da eternidade teria que responder a mesma pergunta. Então falei a verdade, ou melhor, a versão dela que eu, e Bia, estávamos prontas para revelar.

Bia e Lis - A Descoberta De Um Amor [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora