Capítulo 8

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O convite de Seong-Hee feito a mim foi totalmente inesperado. De certa forma, o maior me chamava atenção já que praticamente não tivemos nenhum contato durante nossas vidas. Então, eu decidi aceitar sair com ele.

Alguns dias antes do suposto encontro fui à cidade para tentar encontrar algo para vestir, já que não havia me planejado sair com alguém durante a viagem. Infelizmente, foi uma péssima ideia. Algumas crianças que brincavam na rua atearam bolas de água em mim e gritavam que era para ajudar a limpar meu corpo que estava sujo.

Nada mais me abalava naquele lugar. Conseguia contar nos dedos quem era gentil e hospitaleiro comigo. Pois a maioria proferia palavras de ódio contra mim, geralmente mandando eu voltar para o meu país, pois eu não fazia bem aos olhos das suas crianças.

Sempre soube do racismo estruturado que existe na Coréia do Sul, mas achava que não passava de um exagero das pessoas, até sentir na pele que definitivamente não era. Porém, depois de procurar em algumas lojas da cidade, decidi que visitaria a última e torcia para que as atendentes não me olhassem de forma negativa.

Ao entrar, não encontrei ninguém. Era uma loja pequena com dois manequins na vitrine. Uma mulher jovem, que aparentava ter a mesma idade que eu, saiu dos fundos da loja ao ouvir o sininho da porta da mesma.

Ela obtinha cabelos médios e escuros, uma pele alva e olhos grandes e negros como bolas de gude, além da sua baixa estatura e magreza extrema. Ao me ver, a mesma abriu um grande sorriso e exibiu seus dentes perfeitamente alinhados. Ela parecia perfeita.

- Hello, welcome! - A mesma me cumprimentou em inglês, deduzindo que eu era estrangeira devido ao meu tom de pele.

- Não precisa falar em inglês. - Respondi em sua língua nativa, sorrindo. - Eu falo coreano também.

A moça deu um sorriso envergonhado, mas logo me perguntou no que poderia me ajudar. Após explicar minha situação, ela vasculhou algumas peças da pequena loja, alternando o olhar entre uma peça e eu. Depois de alguns segundos, ela sorriu satisfeita ao encontrar a peça que procurava.

- Esse vestido! - A mesma sorria, me mostrando um lindo vestido amarelo meio godê com mangas transparente caídas. - Eu acho que ele vai te valorizar muito. Tanto o seu corpo como o seu tom de pele.

A mulher não havia parado apenas no vestido. Em outra parte da loja, ela pegou um par de sapatos de salto grosso bege e me entregou as duas peças pedindo para que eu as experimentasse. Ao sair do provador, a mesma levou a mão na boca a cobrindo.

- Não ficou bom? - A perguntei, com medo da resposta.

- Está brincando? Ficou lindo! - A morena volta a mostrar seus lindos dentes em um grande sorriso, puxando seu celular do bolso em seguida. - Eu posso tirar uma foto sua? É para postar no perfil da loja.

- Isso não vai manchar sua loja?

Perguntei cabisbaixa, sabendo dos efeitos que a publicação poderia trazer a loja dela em uma cidade preconceituosa. Não me sentia triste, mas chateada com o pensamento retrógrado dos cidadãos com respeito a pessoas de etnias diferentes as dele, principalmente aos que possuem a cor de pele escura.

Porém, a mulher demonstrou entender a situação e parecia indiferente quanto à opinião das pessoas.

- Eu não ligo. - Deu de ombros. - Sabe, eu tenho muitos sonhos. Um deles é abrir um ateliê de roupas em Seul. E outro deles é que essas pessoas aprendam a respeitar as diferenças por bem ou por mal. E também, o vestido ficou tão bem em você que parece que eu o criei especialmente para você, mesmo sem te conhecer.

Minha Utopia (Park Seonghwa)Onde histórias criam vida. Descubra agora