Capítulo 23

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O dia teria começado melhor, mas a tensão que eu sentia pelo meu corpo não ajudava em nada. Antes de sair do quarto, já havia arrumado minhas malas. A maior parte do tempo, tentava planejar como contaria a Seonghwa que eu precisava retornar para o Brasil. Na verdade, parecia que todos nós havíamos esquecido desse pequeno detalhe: que a viagem teria um fim.

Passeava lentamente pelo corredor e me preparava de todas as maneiras possíveis para encontrar Seonghwa e não desabar ou deixar parecer que havia algo de errado. Encontrei todos na sala de jantar, arrumando a mesa para o café da manhã. Tia Julia colocava flores no centro da mesa, enquanto Si-Yeon levava alguns alimentos para ela. A casa parecia agitada, mesmo depois da loucura de ontem.

A campainha tocou e instantes depois, Min-Ah e Seong-Yeon entram cumprimentando a todos, incluindo tia Julia e eu. Tudo estava muito esquisito. Parecia que eu estava em um sonho e que, talvez, Seong-Hee adentraria a qualquer momento. A conversa e as risadas se tornaram maiores, até que Seonghwa desceu as escadas e se posicionou do meu lado, sorrindo.

- O que está acontecendo? - Perguntei com o rosto sério.

- Hongjoong entrou em contato conosco há algumas horas atrás. - Seonghwa olhou para mim sorridente. - Seong-Hee teve a pena reduzida e poderá cumpri-la em casa fazendo serviços comunitários.

Seonghwa me abraçou em questão de segundos. Ele demonstrava uma certa euforia ao saber que teria seu irmão ao lado novamente. Isso também me deixou feliz, pois era um sinal de que eles finalmente seriam amigos. Retribuí o abraço dele, mas não me contive e precisei perguntar.

- E a sua avó? - Senti o sorriso do Seonghwa se desfazer. - Tem notícias dela?

- Não. - Seonghwa se afastou. - Nem ao menos conseguimos visitá-la. Hong disse que ela continua agressiva e rejeitando as consultas com a terapeuta, além de arrumar confusão com as colegas de cela. Ele disse também que está se esforçando para não a colocarem em uma solitária.

- Eu sinto muito, Hwa...

Não sabia o que dizer e nem me sentia feliz ao saber das condições de So-Ra. Não se passaria pelas nossas cabeças que ela poderia enlouquecer na prisão, mas apesar disso, não sentia arrependimentos. Sei que Seong-Yeon e Seong-Cheol não acharam a melhor ideia e muito menos que ela chegaria a esse ponto, mas não tínhamos escolha.

- Lili. - Voltei minha atenção para Seonghwa. - Sobre minha avó, ninguém além de mim sabe do verdadeiro estado dela. Para todos da família, ela não pode receber visitas por recomendação da terapeuta e é uma condição temporária.

- Pode deixar. Eu não vou contar a ninguém.

Seonghwa depositou um beijo em minha testa e seguiu em direção à sua família. Tia Julia o cumprimentou e veio em minha direção.

- Bom dia, querida. Dormiu bem?

- Mais ou menos, tia. - Peguei sua mão e a levei para um pouco mais distante dos outros. - Eu voltarei para o Brasil hoje.

- Sim, meu amor, voltaremos. - Estreitei os olhos em direção a tia Julia, sem entender. - Na verdade, já éramos para ter ido há um mês atrás, mas com toda essa loucura, seu tio e eu estendemos para mais um mês. Esqueceu que nós conversamos sobre isso?

- Tia Julia...

Passei as mãos pelos cabelos, tentando assimilar como dois meses haviam se passado tão rápido. Ao mesmo tempo que parecia que eu havia feito tudo, não fiz nada. Comecei a andar em círculo, quando tia Julia pegou minha mão e me trouxe de volta para perto dela.

- Por isso eu saí com seu tio ontem e resolvemos deixar você e Seonghwa sozinhos na noite passada. Você realmente não percebeu?

- Não, tia. - Soltei um suspiro de frustração. - Minha mãe me ligou para me lembrar, mas eu me esqueci completamente de você e do tio Cheol.

Minha Utopia (Park Seonghwa)Onde histórias criam vida. Descubra agora