Capítulo 25

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3 anos depois...


- Dona Lilian, eu...

- Ah, para, Rafa. "Dona Lilian" é sacanagem, nem temos tanta diferença de idade assim.

- Desculpe. - Meu estagiário riu meio sem graça e retomou o assunto rapidamente. - Eu quero te mostrar o nosso relatório quinzenal. Batemos 65% da meta do nosso time antes da virada do mês.

- Isso é fantástico, Rafa. - Me levantei da cadeira enquanto pegava o iPad das mãos do calouro de administração a fim de verificar os resultados gráficos com meus próprios olhos. - Vocês são incríveis.

- Nós temos uma boa líder, chefinha. - O rapaz piscou os olhos em minha direção.

- Cuidado, hein, Rafa? - Aline, a outra estagiária que fazia parte do meu time, falou mais alto. - Não pisca muito, senão vai enfrentar o namorado bonitão dela.

- Não me parece uma ideia ruim...

Ouvi Rafa balbuciando e fingi espanto, enquanto os funcionários em volta riam e brincavam com a nossa contratação mais recente.

Três anos se passaram muito rápido e ao mesmo tempo, bem devagar. Fiz o que pude para aproveitar cada momento. Ter Seonghwa por perto e caminhar com ele durante seu período de adaptação no Brasil foi um grande aprendizado que levei para muitas áreas da minha vida, principalmente na profissional. Quando pensei que fechariam as portas para mim no Brasil, as encontrei escancaradas.

Obtive a oportunidade de provar minha competência e como consequência, fui promovida até chegar ao 2º nível de supervisão e fui transferida para a nova filial da empresa após minha formatura. Mesmo com os novos projetos e modelos de trabalho em testes, sempre tentava encontrar um tempo para Hwa. Acompanhei todo seu processo de recolocação no Brasil. Apesar de ser um país em que ele estava pouco familiarizado, precisava se amoldar a uma cultura diferenciada. Felizmente, ele está estudando para realizar o CELPE-Bras (Exame para obter o certificado de fluência na língua portuguesa brasileira) e conseguiu um emprego na modalidade home office, o que facilita o seu foco nos estudos.

Nossa comunicação com os familiares da Coréia tem sido frequente. Todos estão bem, apesar da tragédia que assolou a família no ano passado. Graças à ajuda do Hongjoong e da Heloísa, So-Ra esteve internada em uma clínica para ser tratada. Porém, horas após a visita do Seong-Hee, a família recebeu a notícia do seu falecimento. Apesar de a clínica alegar que ela teve um "mau súbito", Seong-Hee acredita que So-Ra cometeu o ato contra si mesma. O motivo de sua suspeita foram os últimos momentos junto de sua avó, ao término da visita:


"- Seu irmão... Ainda está com aquela menina?

- Vovó, "aquela menina" tem nome e você se lembra dela: Lilian. Ou Lili.

- Sim. Lilian. - So-Ra abaixou o rosto e ficou quieta por alguns segundos. - E o Seonghwa está feliz?

- Sim, vovó. Eu nunca vi meu irmão tão feliz. - Seong-Hee faz uma pausa antes de continuar e suspira fundo. - Ele largou tudo na Coréia para construir uma vida ao lado da Lili. Abriu mão até mesmo da herança da família e da casa que era dele por direito.

Um silêncio desconfortável pairava sobre a sala de visitas. Seong-Hee olhou nos olhos de So-Ra e seguiu com uma pergunta:

- Agora que você sabe que a Lilian nunca fez questão de um centavo do seu dinheiro ainda a acha mau caráter? Você não precisava ter acabado assim.

A enfermeira bate na porta informando que o horário de visitar havia terminado. Seong-Hee se levanta da mesa e dá um abraço em So-Ra, como de costume. Porém, desta vez, So-Ra não se desprende do seu neto. Pelo contrário. Com suas mãos, agarra a camisa de Seong-Hee, esconde seu rosto sobre o peito do seu neto e chora copiosamente. A enfermeira, vendo isso, tentou afastá-la de Seong-Hee, que a impediu. Após alguns segundos, So-Ra solta seu neto e o deixa ir. Já na porta, ela grita:

Minha Utopia (Park Seonghwa)Onde histórias criam vida. Descubra agora