Capítulo 20 - 'Cause you turned your face

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- Snape – junho de 1994 -

É de senso comum que poucas dores podem superar a que existe na rejeição entre pais e filhos. Jamais acreditei nessa história, é claro. Quem inventou essa frase provavelmente nunca foi vítima da Maldição Cruciatus ou perdeu a única mulher que amou... 

Mas eu obviamente estava errado.

Quando Violet esteve em perigo, mesmo tendo certeza de que ela enfrentaria um Lobisomem sem problemas, tive medo que algo ruim lhe acontecesse. Tentei pará-la, mas não me ouvia! Num impulso gerado pelo nervosismo, contei-lhe a verdade. Imediatamente parou de lutar e encarou-me com os olhos úmidos... e enquanto meu coração batia à mil por hora... vi que ela não parecia surpresa. Como é esperta... é claro que já tinha descoberto! Todos os sinais estavam claros, e só eu não percebi.

Merlin, tentei tanto afastá-la! Como uma garota de 14 anos consegue derrubar todas as barreiras de um homem de 39 desse modo? Quando iria imaginar que um dia me veria frente a ela dizendo ser seu pai?

No mesmo dia, porém mais tarde, encontrei-a acordada na enfermaria e evidentemente odiava se sentir presa. Era a oportunidade perfeita para que finalmente conversássemos sobre nós e decidíssemos o que fazer. Naquela noite levei-a para a torre mais alta da ala oeste, com visão privilegiada de quase todo o jardim de Hogwarts e o lago, assim como a Floresta Proibida. Lillian amava aquele lugar... era onde conseguia ver as estrelas à noite e o sol durante o dia. Lembro-me que quando estávamos na alta torre, seus cabelos ruivos chegavam a brilhar com a luz do sol... uma visão estonteante.

Por ordens de Dumbledore, o lugar era proibido a todos os alunos e professores, pois além de ser extremamente alto, poderia pôr em risco algum dos estudantes, fora que o acesso era difícil. Nunca entendi exatamente o porquê de tal proibição... Apenas o diretor, Minerva e Ponfrey tinham acesso livre, mas não que me impedisse.

Lembro-me que, durante uma das inúmeras caminhadas pelo castelo durante a juventude, encontrei as escadas por acaso. E quando deparei-me com tamanha beleza, compartilhei com Lillian, que fez-me prometer nunca contar a ninguém. Aquele era o nosso lugar, e, embora eu soubesse que era apenas um amigo, naquela torre me sentia plenamente feliz.

Desde que Lilly partiu, a tristeza é a minha única companheira... e aquele lugar tornou-se meu refúgio. É para cá que venho quando preciso pensar... É aqui que me dirijo quando preciso senti-la novamente.

Por isso levei Violet para a torre, pois era, de certa forma, especial na minha vida. Nossa conversa não foi muito agradável, mas como haveria de ser?

Violet chorou silenciosamente o tempo todo, seu olhar transparecia tanta... mágoa. Percebi que ela tinha certa dificuldade em falar da Lillian como mãe, afinal, a tal Bella disse coisas horríveis a seu respeito.

"Quando soube que eu era sua filha?", perguntou. Eu sabia que iria ficar magoada com minha resposta, e assim aconteceu. Violet mostrou-se extremamente rancorosa. Por que tinha que ser tão difícil vê-la chorar? Como um homem como eu, Severus Snape, pode se "sensibilizar" com os olhos tristes de garota?!

"Eu sabia que se eu te contasse que era seu pai iria me desprezar, quem não iria depois de tudo que fiz?", expliquei, numa tentativa falha de me defender. "Você não tinha como saber...", sussurrou ela em resposta.

Aquela pequena frase me trouxe tanta esperança! Pensei em tantas coisas, possibilidades!

Mas apesar de explicar tudo que aconteceu, Violet parecia irredutível. Como era teimosa! De certa forma eu até a entendia, eu sabia de sua existência e desisti, e quando descobri que ela era minha filha simplesmente a ignorei e tentei prosseguir com minha vida.

Tentei argumentar novamente, mas foi então que chegamos ao assunto "Sirius Black".

Obviamente sempre o culpei pela morte da Lillian e desejei tê-lo na minha frente para me vingar. Quando Violet contou-me que não tinha sido ele inicialmente ignorei, mas depois percebi que todos os seus argumentos tinham fundamento!

Foi então que fiz algo que nunca imaginei fazer e, assim que a deixei na enfermaria, fui até a torre mais alta da ala leste e o confrontei.


- Severus Snape. A que devo a honra de sua ilustre visita? – perguntou-me ele ironicamente, preso em uma "jaula", onde sempre pensei ser seu lugar.

- Quero respostas.

- Por que não usa essa sua mente aguçada e descobre sozinho?

- Porque você é quem vai respondê-las. – prossegui – Fiquei sabendo da sua reunião com Pettigrew... Conte-me o que aconteceu.

- Ora, ora, então o papai resolveu ouvir a filha? – debochou.

- Sem brincadeiras Black.

- Tudo bem... Se é essa história que você quer. – avisou e logo contou-me tudo que acontecera. Violet estava certa, ele era inocente! Fora o maldito Pettigrew quem traiu os Potter, levando-os assim à sentença de morte.

Sem ao menos pensar, apontei minha varinha para a grande fechadura de ferro e destranquei-a.

- O que está fazendo? – perguntou-me desconfiado.

- Te dando uma nova chance. – afirmei – Agora vá logo antes que eu me arrependa...

Black saiu imediatamente da jaula, mas antes que eu desse às costas, agradeceu-me.

- Sabe, Violet ficaria orgulhosa disso...

- Ela me odeia. – sussurrei.

- Não foi o que eu vi na Casa dos Gritos... – insinuou. - Quando o Harry te acertou ela gritou e praticamente correu para te ajudar, só não fez isso porque o Lupin a segurou antes. – confessou – Ela ficou bem preocupada...

- Qualquer um ficaria. O Potter atacou um professor.

- A reação dela não foi a de uma simples aluna... – garantiu – Olha, eu não tenho nada a ver com isso, mas se eu fosse você, trataria de conversar com ela... Aquela garota vale ouro!


Depois daquela conversa me convenci que tinha uma chance afinal. Mas minhas expectativas foram frustradas de novo. Além de obviamente ficar magoada com tudo que confessei, Violet ignorou-me definitivamente.

E dessa vez não tinha volta.

Nas aulas dos próximos dias vi a tristeza e a mágoa em seu olhar. Ela já não era a mesma garota, parecia mais distante e desligada. Minerva contou-me da conversa que ambas tiveram, o que realmente surpreendeu-me. Por mais que tentasse, não conseguia entender seus motivos ao afastar-se da vice-diretora... Elas eram inseparáveis!

Com o decorrer da semana ficávamos cada vez mais distantes. Minhas aulas já não eram como antes, Minerva já não sorria o dia todo e Violet não ousava abrir a boca para nos contrariar. Era como se não estivesse presente na sala.

Finalmente entendi o significado de "a pior dor que existe é a rejeição de um filho".

Cada vez que Violet virava seu rosto na direção contrária, uma dor muito grande invadia-me. Nunca tinha sentido algo assim! Eu sabia desde o início que, se nos aproximássemos demais, quando a perdesse sofreria. E isso finalmente estava acontecendo.

Vê-la partir com seus amigos doeu mais do que eu imaginava. Cada vez que os testrálios se aproximavam dos grandes portões de Hogwarts, mais distantes ficávamos. Por alguns segundos, entretanto, seus olhos pousaram-se na varanda em que eu estava a observá-la e não recuaram.

E assim que a carruagem deixou os limites da escola, senti-me extremamente vazio e mais solitário que nunca.

- Perdi minha filha antes mesmo de tê-la. – sussurrei antes de entrar para a escuridão da minha sala.

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