13 | As Correntes se Desprendem no Carnaval

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Uma semana se passou desde que a conversa sobre a breve ida de Ezequiel para a Bolívia e sobre a venda da fazenda havia ocorrido. Mina ainda pensava nas palavras do marido sobre se mudar para a cidade, local onde nunca se imaginou morando, já que desde pequena estudou, morou e se divertiu naquele lugar que tanto a acalmava. Se o plano fosse completo, sua acomodação levaria dias, mas mesmo assim, estaria perto de Chaeyoung e elas poderiam se ver com mais frequência.

No fundo, Mina sabia que não deveria estar pensando isso, mas de qualquer forma, pensava e estava apaixonada por Son Chaeyoung.

Ademais, algo que prendia seus pensamentos era o fato de que os jornais ainda não haviam noticiado sobre a possível guerra entre o Brasil e a Bolívia pelas terras do lado oeste. Sempre que aconteceria uma possível tensão, os jornais tentavam publicar as informações o mais rápido possível – obviamente, pelo dinheiro –, mas daquela vez, nada, nem um misero recado de rodapé, absolutamente nem uma linha sobre.

O ponto é que, Ezequiel tendo saído há uma semana, Mina estava mais livre e mesmo com o conselho do marido de não ir para a cidade quando estava sozinha, Mina decidiu ir para ficar com Chaeyoung no carnaval que aconteceria na cidade.

Ela adorava o carnaval e desde criança comparecia a todos que podia, principalmente por saber que seu país de origem não possuía nada como aquelas comemorações.

No momento, estava trajando um vestido simples branco solto e um vestido de alças marrom por cima, obviamente com seu espartilho por baixo, algo que nunca ousaria ficar sem e já havia se acostumado com a dor que aquilo causava em suas costas. Em sua mão direita, ela levava suas duas malas marrons grandes com algumas coisas que iria precisar enquanto ficaria na casa de Chaeyoung. Aliás, para avisar de sua visita, há dois dias ela havia enviado uma carta para a outra pedindo permissão para ficar em sua casa, e caso Chaeyoung não pudesse recebe-la, deveria mandar uma carta de volta para que Mina entendesse e não fosse para a cidade, o que não aconteceu, então Mina poderia ir.

Mina caminhou até o celeiro, abriu as portas de madeira que estavam quentes devido ao sol forte do verão, e então foi até a charrete que João anteriormente já havia deixado pronta em seu cavalo agora nomeado Belle. A mulher colocou suas malas pesadas dentro da charrete no banco e subiu, puxando seu vestido para que não tropeçasse no pano. Ao passar com o cavalo para fora do celeiro, fechou as portas, voltou para a charrete e começou a tentar guiar o cavalo até a estrada de terra ao lado da 'floresta' que cercava aquela parte do campo.

De inicio, foi um pouco difícil para a mulher se acostumar com aquilo, já que nunca havia tentado guiar uma charrete antes e era sempre seu marido ou João que a acompanhava por todos os lugares, mas mesmo assim, estava indo bem. Exceto pelas vezes que movimentava as cordas com um pouco de força a mais e o cavalo corria e a assustava, mas sabia faze-lo parar e, pela primeira vez, estava conseguindo ir até seu objetivo apenas por observar os homens por todos aqueles anos.

Duas horas e alguns minutos se passaram enquanto Mina guiava o cavalo até a cidade do Rio de Janeiro. Ao chegar na divisa onde começava o município, um homem logo se aproximou da mulher desacompanhada, assim como outros homens que naquele momento faziam o mesmo com outras pessoas. Era comum algumas pessoas ficarem na entrada da cidade perguntando se os viajantes gostariam de deixar as charretes e os cavalos com eles quando não tinham outro lugar para guarda-los. Dessa maneira, aqueles trabalhadores ganhavam alguns trocados e as pessoas não se preocupavam mais com o meio de transporte.

Já que a cidade ainda era um tanto quanto pequena e a casa de Chaeyoung não era distante, Mina aceitou uma das propostas, assim assinando um documento e largando o cavalo e a charrete no começo da cidade com um dos homens. Ela deixou claro que iria manter o transporte com ele por mais ou menos quatro dias e então pagou a quantia requisitada, escutando algumas falácias de que a charrete seria muito bem cuidada e o cavalo bem alimentado e tratado.

Poeira Cósmica | MiChaengOnde histórias criam vida. Descubra agora