14 | Quase um Pássaro sem Asas

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Chaeyoung estava sentada no pequeno banco de sua bateria prata e segurava em cada mão uma baqueta, que vez ou outra tocavam com força sob as partes do instrumento. Em sua frente, Mina estava sentada no sofá marrom do porão um pouco empoeirado pelo fato de ninguém sentar ali há algum tempo porque os ensaios da banda já não estavam tão constantes. Ela tinha o cotovelo apoiado em sua perna e a cabeça apoiada em sua mão, apenas observando com um sorriso genuíno as vezes em que Chaeyoung tocava a bateria em um rock calmo sem cantoria. Estavam apenas desfrutando dos poucos ritmos que a coreana sabia criar e por ser de manhã, também aproveitavam do café delicioso que Chaeyoung sabia preparar.

A xícara de Mina estava em cima da caixa de papelão que sempre serviu como mesa de centro daquele lugar pequeno e abafado, e a xícara de Chaeyoung estava em cima de uma pequena estante ao seu lado.

– Não! – Chaeyoung respondeu rindo enquanto conversava com Mina, e então bateu devagar pela última vez a baqueta no prato dourado. – O melhor aspecto daquela cultura é provavelmente beber chá todas as noites. Digo, é bom, mas eles nunca se cansam de fazer o mesmo todos os dias!

Naquele momento, estavam aproveitando o tempo juntas e conversando sobre os dias que Chaeyoung havia passado na Inglaterra quando tinha dezessete anos. Aliás, esse era um fato que Mina jamais imaginaria sobre Chaeyoung, mas segundo ela, havia ganhado uma bolsa de estudos em uma escola inglesa, então concluiu o segundo ano do ensino médio fora do Brasil.

Mina alcançou a xícara em cima da caixa de papelão, levou até seus lábios e tombou para que o líquido descesse por sua garganta, logo voltando a xícara para o lugar anterior.

– Certo, então me diga qual foi o chá mais estranho que você provou enquanto estava lá! – Mina questionou animada.

Chaeyoung subiu seu olhar até o teto e torceu seus lábios para pensar na resposta. Na verdade, todos os sabores de chá eram deliciosos, mas um em específico parecia mais curioso que os outros.

– Definitivamente de manga! – respondeu voltando o olhar para Mina enquanto rodava uma das baquetas entre seus dedos de sua mão direita.

Aquilo era algo que praticamente todo baterista sabia fazer, mas se fosse Chaeyoung, aquele ato parecia um pouco mais sexy do que antes aos olhos da outra.

– Mas de manga parece bom! – Mina rebateu e as duas riram, foi então que um silêncio momentâneo se instalou no porão. – Sabe, Chae, qual a chance de tudo isso estar acontecendo?

Foi a vez de Chaeyoung pegar sua xícara em cima da estante e bebericar um pouco do líquido fino e quente que estava em sua louça.

– Isso tudo o que exatamente?

– Isso, a gente... – Deu uma pausa e suspirou. – Você é coreana, eu sou japonesa, os nossos pais eram militares e nós duas tivemos que sair dos nossos países por causa de guerras, então nos encontramos justo no Brasil, um país tão distante e que foi escolhido de forma aleatória por eles. Isso não parece destino para você?

– Hum... – Chaeyoung começou a tentar entrar na mente da outra. – Você quer dizer que poderíamos dar a volta no mundo e ter caminhos completamente diferentes, mas ainda assim iriamos nos encontrar em algum momento? – Chaeyoung terminou enquanto ainda rodava a baqueta entre os dedos.

– Talvez... – Mina mordeu seu lábio inferior e fitou o chão. – Será que destino existe mesmo? Será que em todas as vidas nós vamos nos encontrar?

Chaeyoung percebeu que Mina acreditava em vidas passadas, mas como uma boa questionadora do sistema e dos valores, ela percebeu que não possuía uma opinião concreta sobre aquele assunto, tudo estava aberto para questionamos. Talvez precisasse estudar um pouco mais para conseguir tirar uma conclusão.

Poeira Cósmica | MiChaengOnde histórias criam vida. Descubra agora