11 | Histórias Ordinárias de um Bordel

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No dia seguinte daquele jantar, a noite rapidamente se fez presente e Chaeyoung transitava pelas calçadas nada planas das ruas do Rio de Janeiro. O relógio provavelmente já marcava uma hora da madrugada de um domingo um tanto quanto frio e suas únicas ajudas para não tropeçar entre os paralelepípedos coloridos eram a lua e as poucas luzes acesas das casas daqueles que possuíam um poder aquisitivo maior e já podiam adquirir a luz elétrica.

A garota, ou mulher, trajava um vestido vermelho sangue longo quase totalmente colado ao corpo, exceto pela saia que minimamente ia se ajeitando conforme o tecido. Nele, havia alguns detalhes dourados simples e brilhantes na parte das mangas, embaixo na barra e na gola alta. Em seus lábios carnudos, tinha um batom vermelho fraco, quase chegando a um tom de laranja, e nos olhos, apenas um rímel preto para deixar seus cílios maiores. Não era sempre que Chaeyoung gostava de usar maquiagem ou se arrumar tanto, mas estava um pouco melhor do que o habitual e talvez aquele fosse um dos vestidos mais bonitos que tinha em seu guarda-roupa, provavelmente sendo considerado o mais sexy para a época também. Além disso, na mão esquerda ela levava uma pequena bolsa preta de couro e o vento batia contra seus cabelos curtos, fazendo com que sua franja lisa quase pudesse atrapalhar sua visão se não estivesse bem cortada. Não era um dia de inverno, mas particularmente preferia estar em algum lugar fechado do que na rua, principalmente tão tarde da noite.

Ao chegar a esquina desejada, Chaeyoung adentrou outra rua, um pouco mais movimentada, e logo avistou o letreiro que tanto ansiava: ''Bordel Ahmar''. Não bastou mais do que alguns poucos passos para que Chaeyoung estivesse em frente a porta de madeira do bordel, e então, após olhar para os dois lados para ver se não existia ninguém muito próximo que pudesse ver uma mulher entrando naquele ambiente, ela abriu a porta do, logo o adentrando, soltando a porta e suspirando pelo ar quente e pesado contra seu corpo. Ao olhar para o espaço, Chaeyoung percebeu que era mais bonito e arrumado do que cogitava anteriormente ao vê-lo em um jornal. Todas as paredes eram cobertas por um veludo vermelho e o chão também era de veludo, mas preto. As mesas e cadeiras eram pequenas e de madeira, provavelmente para não ocupar tanto espaço ali. No momento, estavam um pouco desajeitadas, mais perto das paredes e sem uma organização clara. Por todo o bordel havia pole dances estrategicamente posicionados perto de onde as mesas deveriam estar, provavelmente para as mulheres dançarem enquanto os homens se alimentam ou desfrutam de qualquer bebida enquanto estão sentados. Por fim, no fundo do bordel estava localizado um balcão de madeira, uma estante de bebidas na parede daquele ''bar'' e alguns armários. No momento, o bar estava quase vazio, exceto por dois clientes sentados em bancos no balcão, mas um em cada ponta e longe do outro.

Observando toda a atmosfera e a fumaça que emanava da diversão perigosa encaixada entre os dedos dos homens, Chaeyoung refletiu que não se encaixava naquela espécie de lugar. Notavelmente todos possuíam características e personalidades diferentes dela, e não por ser estrangeira. Ela era apenas uma garota na adolescência que nunca havia saído do habitual de estudar e todos ali pareciam ser homens perdidos intelectualmente ou de grande poder aquisitivo. No fundo, sabia que pensaria aquilo antes mesmo de colocar seus planos em prática, então, apenas deixou esses pensamentos de lado e começou a transitar pelo local, ainda observando as pessoas ali.

Todas as mulheres andavam de um lado para o outro trajando apenas suas roupas íntimas, ou seja, sutiã e calcinha, e a maioria dos homens trajavam terno, exceto por alguns que estavam com roupas mais simples, porém sociais, e não aparentavam ter tanto dinheiro. O fato é que todos eles tinham apenas uma característica em comum: compartilhavam de comportamentos lascivos.

Pela confusão mental e por não saber o que fazer, nem onde ir, ou como se comportar, Chaeyoung acabou parando de andar apenas quando chegou no bar e se sentou em um banco afastado dos dois homens que estavam nas pontas do balcão, ou seja, se sentou exatamente no banco do meio, antes arrumando seu vestido. A mulher posicionou os antebraços no balcão de madeira, ainda segurando sua pequena bolsa em uma das mãos, e viu um único barman servindo o copo de um dos homens ali.

Poeira Cósmica | MiChaengOnde histórias criam vida. Descubra agora