A cesta pendurada pelos dedos de Mina balançava de um lado para o outro conforme ela andava de cabeça baixa, arrastando parte do vestido preto sobre a terra das ruas do Rio de Janeiro. Enquanto percorria qualquer trajeto sem nenhuma direção clara, fitava o chão e sentia que a sociedade naquele momento se dividia em opiniões diferentes ao se tratar de uma mulher grávida, com a reputação destruída e viúva. Algumas pessoas passavam por ela carregando olhares nojentos, a julgando mentalmente por ter feito escolhas tão erradas; já outras franziam a testa e explicitavam compaixão em suas expressões. Na realidade, era exatamente isso que merecia: pena.
Além da sociedade ainda assustada por aquele caso em uma cidade pequena, o sol também estava intenso e queimava seu corpo coberto pelos tantos panos da vestimenta escura. Naquela manhã, estava mais uma vez tentando vender sua mercadoria, mas a cesta continuava cheia e pesada, a fazendo entender que havia duas possibilidades: ou as pessoas não comprariam mais de uma mulher como ela, ou preferiam estar bebendo cerveja e desfrutando de algo gelado, como um sorvete. Os bares e as sorveterias provavelmente estavam lotados, mas a cesta também, e teria um filho para manter.
– Não tenha medo, estamos juntos, você e eu... – deslizou a mão livre por sua barriga não tão grande, sussurrando mais consigo mesma do que com o bebê. Tudo que pronunciava era solto de maneira calma e baixa para que as pessoas passando por si não vissem sua boca se movendo detrás do véu preto cobrindo seu rosto.
Sua mão não alcançava exatamente sua barriga, estava longe de tocá-la por causa do vestido e também do espartilho correto que ajudava a sustentar suas costas e barriga. Ele incomodava, tinha um pano e arames diferentes e fazia Mina vez ou outra sentir falta de ar pela pressão por causa de sua barriga um pouco maior, mas parecia a manter em pé e, segundo o médico, não influenciaria na formação de seu filho.
Aliás, estava ali, sozinha e caminhando entre tantos comerciantes, estudantes e até entre a elite, mas se sentia estranha. Nunca havia imaginado que ao sair de casa não precisaria se despedir de um homem e não deixar claro para onde iria. Era diferente de arrumar sua mercadoria e abrir a porta sem dizer nenhuma palavra. Era simples, bem mais simples do que oferecer explicações, mas talvez esse sentimento fosse sinônimo de liberdade verdadeira: se sentir culpada ao agir por si.
Seus passos continuaram e Mina fitava sua sapatilha preta aparecendo debaixo dos panos de seu vestido conforme se movimentava. Isso continuaria por mais alguns minutos se não fosse pela placa que viu na última parede da rua. Era ali, havia andado por tempo demais sem nenhuma direção enquanto tentava vender suas massas, mas pareceu ter parado a apenas uma rua de distância da sua, chegando a rua onde estava localizada a casa de Chaeyoung.
Mina ficou estática enquanto a cidade ainda se movimentava ao seu redor. Dezenas de pessoas passavam por si, algumas batendo seus ombros no dela sem intenção ou tentando olhar seu rosto debaixo do véu, tão confusas quanto Mina estava. Ela não sabia se continuava andando e virava a rua, precisando passar logo em frente a casa de Chaeyoung, ou se virava em seus calcanhares e seguia caminho contrário, terminando aquele dia, mas refletindo o que aconteceria caso a tivesse encontrado.
O senso comum dizia que a vida era curta demais e Mina concordava. As pessoas sempre eram de carne e osso e então, de repente, viravam apenas um quadro na estante de alguém. Depois, nem isso, e Chaeyoung não poderia terminar como uma foto ou uma poesia esquecida aos olhos de Mina, deveria ser um dos tantos acontecimentos marcantes da vida daquela mulher. E seria, definitivamente seria.
Quando um último chocar de ombros fez Mina voltar a realidade, ela apertou a alça da cesta na mão e continuou andando, checando novamente a placa pregada na parede e virando na direção correta. A rua não era longa, o que fazia com que a casa de Chaeyoung não fosse tão longe do início, e aquilo a fez abrir um sorriso debaixo do véu, vez ou outra soltando um respirar pesado pela ansiedade. Ansiava e hesitava aquela visita, esperava ver o sorriso e o par de olhos que tanto tocava seu coração. Ela respirava fundo, tentando conter a animação enquanto de longe intercalava seu olhar entre o portão baixo e a porta com uma janela de vidro. Quando os passos aumentaram a velocidade instintivamente, chegou a frente daquela casa em poucos segundos.
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Poeira Cósmica | MiChaeng
FanficPor meio do samba, das exímias histórias de Machado de Assis, do futebol, das praias tropicais e da água de coco encontramos Son Chaeyoung, a estrangeira residente na cidade do Rio de Janeiro que, além de participar de uma banda, também cria novas h...