18 | Claros Enigmas

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As ruas movimentadas do Rio de Janeiro pareciam estar fervendo por causa do sol ardente do meio dia enquanto Chaeyoung caminhava sobre os paralelepípedos coloridos das calçadas. Com os raios solares batendo em todo seu corpo, vestindo um de seus vestidos mais formais e com uma maleta um tanto quanto grande, ela caminhava em direção a cafeteria onde trabalhava enquanto seu corpo suava pela quantidade excessiva de panos. Naquele horário em específico, os transeuntes caminhavam de um lado para o outro, uns desesperados por estarem atrasados, outros mais calmos, porém bem trajados – assim como praticamente toda a cidade – e as vezes ela até conseguia ver de longe algumas crianças acompanhadas a caminho da escola. Obviamente, cada ser que passava por ela caminhando cansada tinha uma história diferente que a intrigava. Tinham seus próprios desapegos, suas paixões, suas frustrações e seus objetivos, mas a diferença era que alguns caminhavam contentes e até tiravam o chapéu para cumprimenta-la, inibindo o automático da rotina e fingindo estarem felizes com aquilo, outros, tão apressados com algo que não iriam deixa-los mais ricos ou mais pobres, apenas abaixavam a cabeça e andavam checando o relógio no bolso. De qualquer maneira, um único aspecto unia todos da cidade do Rio de Janeiro: a vontade de ascender e vencer o mundo apenas seguindo ordens e cumprindo horários, algo que incansavelmente, Son Chaeyoung também fazia.

A garota – ou mulher, ainda é uma incógnita – bufou enquanto seus pequenos saltos tilintavam a cada passo. Naquele dia em especial, se lembrara de um debate na aula de cultura inglesa. Após ter escrito o convite de seu aniversário para sua amada, sua atenção foi até o professor que havia aberto um tópico de discussão para comentarem sobre a educação no futuro. Chaeyoung propôs a ideia de introduzir matérias que visavam a mente saudável para que os futuros docentes pudessem entender melhor os sentimentos dos alunos antes de introduzirem os conteúdos, o que infelizmente, foi concebido como uma ideia completamente inútil, já que para a sala o professor deveria ser uma figura autoritária. De qualquer forma, ela se lembra de ter lido algo sobre psicologia em sua ida para a Inglaterra há alguns anos, então, ainda concordava com a ideia de se entender o aluno em sua essência ao invés de fingir que fatores mentais não interferiam na aprendizagem, mas talvez a sociedade e os professores, principalmente brasileiros, ainda não estivessem prontos para esse debate.

Quando Chaeyoung chegou à porta da cafeteria Florian, diferente dos casais e amigos que cruzavam aquela porta com um sorriso no rosto por estarem em um local tão lindo, ela praticamente bufou inconsciente e adentrou, indo diretamente para o almoxarifado, antes passando pela cozinha e cumprimentando os funcionários ainda tentando esconder seu cansaço após uma manhã agitada na faculdade. Ao entrar no espaço um tanto quanto pequeno, Chaeyoung pegou um de seus uniformes, dessa vez uma saia marrom da cintura até os pés, os sapatos fechados e uma blusa de botões branca. Ela largou a maleta da faculdade dentro daquele quarto em um canto e deixou seu vestido antigo ali, logo vestindo a nova roupa, seu avental branco com detalhes de renda na frente e saindo para trabalhar no balcão.

O dia estava passando como todos os outros: apenas cafés, bolos, cappuccinos, pães de queijo, torradas, pães, iogurtes e outros sendo servidos para os clientes da elite do Rio de Janeiro, todos que a maioria das vezes não precisavam nem perguntar pelo preço, porque provavelmente teriam dinheiro para comprar tudo daquela cafeteria e também o prédio se assim quisessem. Claramente, todos servidos com um sorriso cansado de alguém que já estava farta de trabalho e faculdade aquela semana, porém, a força de vontade e a necessidade de trabalhar para manter sua casa e sua sobrevivência eram o que a mantinham em pé. Por sorte, seus pais haviam guardado dinheiro desde sua infância para pagar seus estudos, então, como já dito para Mina, a faculdade não era um problema.

–... Agradecida, senhor! Volte sempre! – mais um sorriso quase falso enquanto Chaeyoung colocava sua gorjeta pessoal no bolso de seu avental. Um dinheiro a mais de um homem tão rico obviamente não podia ser recusado.

Poeira Cósmica | MiChaengOnde histórias criam vida. Descubra agora