Olá, leitor! Eu anunciei isso há algum tempo, mas acho que chegou em poucas pessoas, então, se estiver gostando dessa história, há uns meses eu fiz uma playlist para você escutar enquanto lê. São músicas que remetem a atmosfera de Poeira Cósmica e o link está na minha bio no meu perfil ou você pode pesquisar por fleursjeong no Spotify. Será ótimo caso se interessar em escutar, obrigada e boa leitura!
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Algumas semanas depois, quando o inverno começava a se fazer presente, naquela noite de sexta-feira Chaeyoung pôde sentir pela primeira vez no ano seu rosto queimar por causa do frio. Enquanto caminhava até a porta com certa rapidez, ela sentia seu nariz gelado como nunca, suas mãos estavam fechadas dentro dos bolsos de sua calça xadrez de cós alto e nem mesmo a blusa de algodão preta de gola alta esquentava seu pescoço e seu tronco. Depois de longos meses no calor brasileiro, aquela sensação diferente caia perfeitamente em seu corpo e no ambiente em que estava. Era a época que podia aproveitar as roupas aconchegantes, os vários cobertores e a temperatura agradável que a casa ficava quando fechada.
– Um momento!
A voz feminina ressoou pela casa juntamente ao barulho dos calçados pesados, que cessou no momento em que Pedro e Jeong-Hoon viram a silhueta – nada delicada – em frente ao vidro da porta. Ela foi aberta com um sorriso pela mulher e os dois homens limparam seus sapatos no tapete ao chão antes de adentraram a residência para que a porta fosse fechada novamente e o vento gelado parasse de incomodá-los.
Os dois estavam com tanto frio quanto Chaeyoung naquele início de inverno, porque Jeong-Hoon vestia calças marrons, seus sapatos de sempre e um sobretudo preto até a canela. Pedro não estava muito diferente, exceto pelo terno mais formal debaixo do sobretudo verde musgo. Ao menos em um aspecto mulheres se saiam melhor na sociedade: tinham roupas mais bonitas e coloridas.
– Acho que a senhorita não merece isso essa noite, mas venha cá... – Jeong-Hoon puxou a irmã para um abraço caloroso. Fazia tempo que não se viam e Chaeyoung viu também uma oportunidade de se aquecer ainda mais.
– Por que não? – rebateu com a bochecha encostada no ombro do maior.
– Não preciso dizer, você bem sabe.
Chaeyoung queria bufar. Era a milésima vez que ele se referia a suas roupas indiretamente. Se não estivesse tão acostumada e de tão bom humor naquele dia, contestaria, mas no fundo, não valia a pena. Não naquele dia. Além disso, ele estava com um sorriso maior do que o comum no rosto, não gostaria de apagar aquela felicidade. Aliás, enquanto ela mesma estivesse cuidando de si e de sua casa, faria o que quisesse.
Após o abraço saudoso, Chaeyoung se distanciou dele e cumprimentou Pedro também com um abraço, mas não tão apertado, os três eram melhores amigos e não precisavam de mais toques ou palavras que confirmassem aquilo, simplesmente eram.
– Por que a bagunça, Chaeyoung? – Jeong-Hoon perguntou com a cabeça virada para direita observando a mesa de jantar ao lado da sala.
– Ah, me perdoem, eu fui ao supermercado e depois precisei estudar para as provas, por isso os tantos livros e papéis. Se incomodam?
Jeong-Hoon ameaçou dizer algo, mas foi interrompido por Pedro, que inspirou alto e com as mãos no bolso começou:
– Você não acha que ser mulher e almejar uma carreira em língua portuguesa e inglesa pode ser difícil? Ou melhor, quase impossível, porque mulheres são apenas pedagogas, nunca tive uma professora de português, apenas homens, e homens bem formados.
Chaeyoung suspirou e abriu um leve sorriso falso. Já havia precisado lidar com aqueles comentários algumas vezes, principalmente na faculdade. Aquilo a irritava, claro, mas em contrapartida, Pedro não estava errado. Tentar ingressar na academia ainda era difícil mesmo depois de ela ter sido aberta a poucas mulheres, mas se formar e conseguir um emprego nessa área sendo mulher poderia ser quase impossível. De qualquer forma, iria honrar sua posição como uma das únicas três mulheres na faculdade de Letras e não desistiria. Sua paixão pelo conhecimento e pela liberdade poderiam fazer tudo dar certo, ou melhor, precisaria dar certo e aquilo talvez fosse sua visão mais romântica da sociedade.
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Poeira Cósmica | MiChaeng
FanficPor meio do samba, das exímias histórias de Machado de Assis, do futebol, das praias tropicais e da água de coco encontramos Son Chaeyoung, a estrangeira residente na cidade do Rio de Janeiro que, além de participar de uma banda, também cria novas h...