09 | Saturno Ainda não tem Anéis

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As duas mãos de Chaeyoung estavam fortemente segurando a luneta dourada e marrom apontada para o céu. Como já dito anteriormente, quando a garota tinha tempo livre e vontade, a janela de seu porão era sua melhor companhia... ou a mais interessante. No momento, ela estava com sua luneta apoiada na janela observando o céu sentada em um pequeno banco um pouco empoeirado e em sua boca, seu maxilar se movia rapidamente enquanto ela mastigava.

O céu não estava totalmente limpo e visível naquela noite de lua cheia, mas mesmo assim, conseguia observar algumas estrelas com mais proximidade e dessa vez, estava procurando por Saturno. Aliás, seus conhecimentos sobre astronomia não eram mais do que simples detalhes, leituras de capítulos aleatórios sobre o assunto e observações que ela mesma fazia. Observações bem comuns, até porque sabia o que estava vendo, mas não sabia como escrever sobre aquilo.

– Aí está você, gigante! – Chaeyoung semicerrou seu único olho aberto para ver com clareza o grande planeta pela luneta. – É lindo!

Eram raros os momentos em que estava sozinha no porão, geralmente havia toda sua banda, mas sentia que a companhia do céu lhe bastava. Além disso, estava com uma caixa de pizza pequena quase ao fim apoiada em cima de uma caixa de papelão que servia de mesa e ia comendo e observando o céu aos poucos. Para ela, era praticamente uma terapia observar algo tão lindo enquanto se alimenta, conversa consigo mesma e não escutava nada mais do que os estalos da própria luneta e sua própria voz. Era realmente um momento solitário em um lugar abafado, mas não significava que não estava feliz, até porque aqueles eram os momentos em que podia estar confortável e ser ela mesma, ou seja, estava usando calças - masculinas, óbvio - porque mulheres não podiam usar aquele tipo tão confortável de vestimenta.

Exceto se você é Son Chaeyoung, a garota crítica, a frente de seu tempo e que faz e usa o que tiver vontade, daí você pode!

Enquanto se distraía, algumas gotas finas de água começaram a embaçar a lente de sua luneta e Chaeyoung repentinamente sentiu o vento esfriar. Foi quando percebeu que já estava na hora de parar de observar o céu, finalmente, depois de poucas horas. Então, ela se levantou do banco em que estava sentada, bateu algumas vezes uma palma contra a outra para tirar a farinha que sobrou de sua pizza e tirou a luneta encaixada na janela, logo a fechando. Além disso, ela jogou em um lixo a caixa de pizza com as sobras e pegou seu prato e seu copo com refrigerante, rapidamente subindo as escadas e fechando a porta que dava para o porão. Ao colocar sua louça suja na pia, percebeu que não estava nenhum pouco a fim de lavar, mas mesmo assim, esse era o preço a se pagar por morar sozinha, então começou a lavar seu prato, seu garfo e seu copo naquele ambiente pouco iluminado enquanto escutava a chuva aumentar lá fora.

Três batidas fortes na porta foi o que a fez tirar o olhar da pia e focar no relógio de bolso em cima da mesa. Os ponteiros marcavam exatamente oito e meia da noite de uma sexta-feira e obviamente já estava escuro. Por breves segundos, Chaeyoung se perguntou quem seria, já que não havia marcado nenhum ensaio com a banda ou estava a espera de alguém, foi então que ela lavou sua mão para tirar a espuma, fechou a torneira e foi até o pano em cima de seu armário para enxugar as mãos.

Mais três batidas que pareciam ser um pouco... desesperadas.

– Já vai! – gritou.

Mesmo hesitando, Chaeyoung andou em direção a porta e a abriu, tendo a melhor – ou pior – surpresa que poderia ter naquele momento.

– Mina?!

A japonesa estava ali, completamente encharcada pela chuva, tremendo levemente e com uma sacola plástica em mãos. Chaeyoung mal pensou, apenas agarrou nos ombros dela e a puxou para dentro, logo fechando a porta e fazendo com que o vento frio e os respingos de água cessassem. Mesmo sentido por cima do vestido xadrez marrom e vermelho, a pele de Mina estava gelada, assim como seus cabelos, que haviam perdido o penteado simples e estavam escorridos e grudados por seu rosto.

Poeira Cósmica | MiChaengOnde histórias criam vida. Descubra agora