Capítulo 1, ou uma questão de organização

1K 84 115
                                    


Ao terminar todo o exaustivo dia, Benedict voltou para casa e se trancou no escritório de Anthony. Não. No seu escritório, era estranho pensar nele dessa forma, assim como era estranho sentir aquele anel em seu dedo e a responsabilidade de uma vida pública perpétua em seus ombros.

Quando sentou-se na cadeira pensou que poderia se acostumar com aquilo. Quando olhou para mesa entrou em choque. Duas cartas, disposta sobre o tampo, logo não poderiam ter nada a ver com a amante de Anthony, essa informação ele tinha guardado muito bem na terceira gaveta da mesa. Disso Benedict lembrava com toda a clareza do mundo.

Os dois envelopes estavam lacrados com cera e o logo da família. O primeiro dizia "para a imprensa - abdicação ao título de visconde Bridgerton" e a outra dizia "para Benedict Bridgerton - o novo visconde". Benedict resolveu ignorar completamente o que o irmão teria a dizer para o povo e decidiu ler a carta que tinha seu nome e o estranho novo título à frente.

Ele pegou o envelope, removeu a cera e abriu a carta.

Benedict,

ou devo dizer Lorde Bridgerton? Eu sei, não é momento para piadas, mas simplesmente não resisti. Se você está lendo esta carta de duas uma: ou eu morri, ou tive que fugir do país e abdicar ao título para não manchar seu nome e o de toda família, afinal, matar um duque é um crime passível de enforcamento até para um nobre.

Devo lhe dizer que também fui pego de surpresa quando assumi este cargo, não estava preparado para a morte de papai, e não estava preparado para as responsabilidades. Em síntese, eu era um bebê mimado, um adolescente sem experiência. E, em retrospecto, eu abomino boa parte das ações que tomei naquela época.

Entretanto, devo dizer que alguma coisa me toca, e me diz que você será diferente. Você sempre foi diferente, Ben. Sei que não pretendia mudar seu estilo de vida, sei que deve estar me odiando pelo que fiz.

Mas, ao longo do tempo seu coração superará tudo isso e com certeza, caso eu tenha sobrevivido, nós vamos rir muito disso por cartas, que lhe enviarei da América.

Bom, na verdade, eu acho que você será um ótimo visconde. Memorável em nossa linhagem. Não poderia haver neste mundo uma pessoa em que eu confiasse mais para essa tarefa que você. Com o seu bom coração, seu senso de responsabilidade e seu dom para matemática, acompanhado desse seu perfeccionismo assustador que faz com que você seja bom em tudo!

Infelizmente, não poderemos mais nos ver, e isso me dói. Mas saiba que eu te amo muito. Amo a todos vocês do fundo do meu coração. E peço perdão a Daphne, por ter agido dessa forma, mas é o que homens devem fazer. É o que o dever manda.

Carinhosamente, Anthony Bridgerton, ex visconde Bridgerton.

Benedict riu da carta do irmão, e depois chorou, e riu novamente. Aquele era Anthony, a pessoa com quem ele mais convivera no mundo, mais até do que a própria mãe. E ele havia partido. Não estava morto, o que talvez tornasse tudo ainda pior. Mas, estava isolado, estava longe, e Benedict sentia sua falta. Como ele sentia sua falta. E ele riu novamente, riu da assinatura de Anthony ao fim da carta, riu da postura do irmão diante de tudo, riu da peça que a vida havia pregado nele.

Quando ele colocou a carta de volta sobre a mesa escutou duas batidas rápidas na porta, a mãe. Quando se convive tantos anos quanto Benedict e Violet você aprende todas as nuances do comportamento da pessoa, já que, vinte e sete anos não são nem de longe pouco tempo para construir uma relação. Mas, essa linha de pensamento fez com que ele se lembrasse de seu tão estimado irmão, e isso deixou-o profundamente magoado.

– Benedict? – perguntou Violet em um tom exitante.

– Pode entrar, mamãe!

Violet entrou e fechou cuidadosamente a porta, ela estava em seus trajes de dormir, já fazia tanto tempo assim que estava acordado? Olhou para o relógio logo acima da lareira de seu escritório, ele marcava duas da manhã. Isso quer dizer que ele já estava acordado há mais de trinta e seis horas, e devido a todo o estresse e necessidade de ação, somente naquele momento ele havia percebido que estava cansado.

O Novo Visconde (uma história Bridgerton) Onde histórias criam vida. Descubra agora