Capítulo 4, ou uma questão de sobrevivência

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AVISO DE GATILHO: este capítulo trabalha temas de assédio sexual.

PARTE II

Londres, 1817

Sophie não sabia como tinha ido parar na casa Bridgerton, aliás, ela sabia sim. Depois de uma infância traumática, onde sua mãe morreu no parto, seu pai (o conde de Penwood), que não a assumira por ser ilegítima, também morreu, deixando-a com Araminta, a madrasta controladora e obcecada com ascensão social que tratou a jovem como empregada. Sophie preferia ignorar essa parte de sua vida, ninguém sabia quem ela era, ou que tinha uma origem nobre. O que importava era o presente, ou a sequência de acontecimentos que levaram ao presente.

Depois de uma humilhação extrema em Penwood Park, ela decidira que já era hora de sair dali, fugiu para o campo e encontrou seu refúgio em um cargo de arrumadeira na casa do casal Carvender. Mas, sua paz acabou no instante em que o filho deles retornou da faculdade. Phillip Carvender era o pior tipo de libertino, não, seria uma ofensa aos libertinos chamá-lo assim. Ele era o pior tipo de homem que Sophie já viu em toda a sua vida. Importunava-a a todo instante deixando explícitos seus desejos sexuais, e Sophie conseguia escapar, sobretudo quando a mãe dele estava em casa.

Entretanto, quando o gentil casal Carvender foi viajar, os ataques de Phillip se tornaram mais constantes e difíceis de escapar. Então, depois de um dia em que ele passou de todos os limites, Sophie conseguiu juntar todas as suas coisas, que não eram muitas, e fugir de volta para Londres.

Na capital, ela descobriu o grupo de apoio para mulheres liderado por Eloise Bridgerton e bancado por ninguém menos que o irmão dela, Benedict Bridgerton, o Visconde Bridgerton. Deveria ser realmente um homem a frente do seu tempo para investir dinheiro e sua imagem em uma empreitada como aquela.

Não muito tempo depois ela descobriu que a única coisa em jogo seria a imagem, pois pela mansão da Governor Square ficou evidente que os Bridgertons não precisavam de dinheiro. Em cada parede uma obra muito bem executada de algum artista famoso, aliada a decoração impecável que exalava novidade e as paredes muito bem ornamentadas. Realmente, Eloise estava certa quando disse que eles poderiam bancar uma nova empregada.

Mas, ainda tinha um obstáculo no caminho, o Visconde. Ela precisaria passar pelo crivo do, até então, misterioso Benedict Bridgerton para ser aceita. E ele não estava em casa. O que evidentemente preocupou Eloise, pois caia uma chuva torrencial lá fora.

– Ele já deve estar chegando, Sophie – disse Eloise. –Se não me engano, ele disse que ia ao parlamento hoje.

– Para? – perguntou Sophie.

– Sessão na Câmara dos Lordes – respondeu Eloise.

– Ah, sim, claro.

Poucos instantes depois a porta se abriu e um cavalheiro alto, com cabelos pretos caídos no rosto e uma roupa completamente encharcada entrou pela grandiosa porta da frente da casa.

– Benedict, você está um lixo – disse Eloise.

– A partir de agora minha irmã favorita é a Francesca – falou o Visconde tirando o cabelo molhado do rosto.

– Bom, se vale de alguma coisa a Daphne é princesa.

– Verdade, ela tem mais vantagens que vocês duas juntas.

Sophie ficou estática quando aqueles olhos azuis, verdes, cinzas. Que cor eram os olhos dele mesmo? Era uma definição tão complexa e abstrata quanto à questão filosófica dos universais que a tutora havia lhe apresentado quando criança. Em síntese, ela ficou estática quando Benedict pousou os olhos sobre ela e a admirou, sim, ele a admirou e isso a fez perder o ar.

O Novo Visconde (uma história Bridgerton) Onde histórias criam vida. Descubra agora