Capitulo 11, ou uma questão de véu e grinalda

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Benedict pensou que iria explodir, se não de emoção de ansiedade. Um dia antes do casamento sua mãe fez Sophie dormir em outro quarto, pois logo de manhã deveriam começar a se arrumar. Não seria verdade se o jovem dissesse que não se sentiu triste sem ela. Em dois dias ele já não sabia mais viver sem Beckett. Mas, vida que segue, a partir daquele momento ela seria para sempre dele.

Acordou com o primeiro raio da aurora que invadiu seu quarto, evidenciando a necessidade extrema de levantar que sentia. O casamento estava marcado para onze e meia da manhã e ele já estava sentindo o aperto e o frio na barriga. Pediu para que Wickham preparasse um banho para relaxar, mas não adiantou. Sua única solução seria pintar.

Ele entrou em seu ateliê e fixou-se em frente a uma tela. Benedict acreditava que com a modernização das coisas a arte deveria deixar de ser algo padrão, que imitasse a realidade e passasse a ser uma exibição do subconsciente humano, assim passou a teorizar sobre como deveria ser sua arte, até chegar a atual identidade. Ou ausência dela. Ele descontraia as formas e as remontava em sua cabeça do avesso, utilizando majoritariamente as formas geométricas que compunham o objeto. Quando terminou, percebeu que havia pintado Sophie. Ele deveria mostrar para ela após a cerimônia. Seria magnífica a sua reação, claro se ela entendesse o que ele tentou fazer.

Por volta das nove e meia ele tomou outro banho e vestiu seu costume para o casamento. Tal vestimenta era composta de uma casaca em veludo azul, um colete dourado por baixo, uma camisa branca e uma gravata também em tons de dourado. Benedict escolhera a roupa para impressionar. Caso Deus, em carne e osso, decidisse aparecer em seu casamento, ele ficaria deslumbrado com o rapaz.

Saiu de seu quarto e andou vagarosamente pelo corredor revivendo ali as memórias de infância e de sua vida adulta. Lembrou-se de quando corria por aqueles corredores com seu irmão, derrubando vasos e atormentando o pai enquanto ele trabalhava no escritório no andar de baixo. Lembrou-se de quando se mudou para Londres definitivamente, após a morte do mesmo pai que ele sempre admirou.

~

Benedict e Anthony estavam chegando na porta de casa quando ouviram os gritos de Eloise. Era uma manhã ensolarada e tudo estava lindo, mas os berros guturais da garota pareciam ter saído de um conto dos perversos irmãos Grimm, quando a chapeuzinho encontra o lobo, ou qualquer outro personagem encontra um lobo. Muitos lobos, muitos gritos e um trauma iminente.

Anthony foi tentar entender o que acontecia, enquanto Benedict já prevendo a tragédia ao não ver o pai engoliu as lágrimas e foi até Eloise, abraçou-a e com sorte conseguiu consolar a irmã sem desabar. Mas, a pior parte ainda estava por vir. Anthony.

Aquele foi um dos dias mais difíceis da vida do jovem Bridgerton. Cuidar dos irmãos, da mãe e sem desabar. Ele ficou sendo o porto seguro da família, já que Anthony nunca lidou bem com a morte do pai, ele seria o responsável por reerguer o novo visconde Bridgerton. Após consolá-los, um por um, assistir a um memorial assustadoramente melancólico e recepcionar os convidados recebendo centenas de pêsames, tudo isso sem chorar, ele saiu correndo de casa.

Sempre foi o mais quieto, sempre foi o mais reservado, mas isso não queria dizer que não tinha sentimentos. Ele andou pelos campos com aquela sensação de vazio descascador percorrendo todo o seu corpo. O desespero. Benedict deitou-se sob uma árvore e desabou, chorou tudo o que não havia chorado naqueles dias terríveis. Lembrou-se de cada segundo que passou ao lado do pai, das travessuras no lago de Aubrey Hall, das pinturas que eles compraram juntos, da viagem até Eton no primeiro ano de escola dele. Tudo que havia passado. Ele amava o pai, não que fosse muito de falar, mas ele demonstrava em ações.

Ele levantou-se e andou mais um pouco, parou na beirada de um riacho e pegou uma pedra, pedra essa que nunca mais soltou...

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Ele segurava a pedra em suas mãos enquanto observava dentro dos quartos para tentar ter um vislumbre de Sophie. Sem sucesso, onde quer que ela estivesse estava muito bem escondida dos olhos de Benedict.

Então, ele desceu as escadas e foi até a porta da frente. Esperou até que trouxessem a carruagem dele e partiu em direção à igreja.

~

Sophie nunca tinha vestido nada tão luxuoso, e mesmo agora que estava prestes a se tornar uma condessa ela tinha certeza que nunca mais vestiria algo tão belo. Afinal, era o dia de seu casamento e os Bridgertons fizeram o possível para ela ter o melhor dos melhores. O melhor vestido, o melhor local, o melhor penteado, a melhor coisa azul, a melhor coisa emprestada e a melhor coisa nova.

Claro que a melhor coisa nova que ela poderia ter era sua nova vida, ao lado do homem que amava, finalmente longe de todo sofrimento.

Enquanto a aia arrumava seu cabelo, Sophie não conseguia parar de pensar em tudo que viveu até chegar àquele momento. Todo o sofrimento, os anos como arrumadeira, as humilhações de araminta e a exclusão dentro de sua própria casa, casa que deveria ser sua por direito, mas devido a uma convenção social escrota jamais poderia ser. Ela odiava tudo e todos que fizeram-na passar por aquilo. Queria mandar todos se foderem, e lá no fundo, queria que a vissem naquele momento. Vestida daquela forma. Seria sua vingança perfeita.

Ela não era rancorosa, mas com essa questão específica havia se tornado. Sophie teve que lutar toda a sua vida por conta de uma escolha estúpida do pai na hora do casamento. Mas, isso não vinha ao caso mais.

Agora ela estava pronta para casar e tinha feito uma escolha maravilhosa na hora do casamento. Benedict, um homem honrado, gentil, caridoso e fiel a seus princípios. Ele a amava acima de tudo e era isso que importava. Ela seria feliz ao lado dele.

Então, Sophie levantou-se, desceu as escadas e foi até a entrada principal, entrou na carruagem com Violet e Eloise e seguiu até a igreja.

~

Quando Benedict avistou Sophie seu coração parou
Quando ela o observou, percebeu que sempre o amou
Quando se encontraram pareceu certo
Quando disseram "sim" o fim foi concreto
O amor eterno
Ali o vestido e o terno
Para sempre
E sempre seu
E sempre sua

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N/a: desde sempre "O novo visconde" foi um texto mais autoral, apesar de ter fanfics com bem mais de cem páginas, essa foi a primeira em que me senti seguro o suficiente para soltar minha escrita. Quando pensei em fazer um capítulo todo sem diálogos, nunca imaginei que fosse ser tão difícil. Mas, o desafio não ia parar por aí. Meu ímpeto por marca de autoria me fez ir mais longe, por isso o poema ao final de tudo. Eu espero que tenham gostado.

– Com amor, Luís 🐝💙

O Novo Visconde (uma história Bridgerton) Onde histórias criam vida. Descubra agora