Capítulo 10, ou uma questão de compreensão

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Violet estava irada com Benedict. Fora de casa ele poderia fazer o que quisesse com quem quisesse e ela não se importaria. Mas, dentro de sua casa, tudo o que ela exigia era respeito, tanto a ela, quanto a sua família e a própria funcionária. Onde já se viu? Apenas lordes de caráter duvidoso deitavam-se com suas criadas. E a situação de Sophie era pior ainda. Ela não era uma criada regular, ela estava em perigo e na cabeça de Violet, seu filho havia se aproveitado da garota em estado de vulnerabilidade.

Ela fuzilou Benedict com um olhar capaz de secar todas as plantações de algodão das colônias americanas e percebeu que o filho nem se moveu. Garoto abusado. Ela marchou por toda a casa até chegar a seu escritório, onde na porta Eloise aguardava com um olhar de deboche. Lady Bridgerton não precisou nem falar para a filha sair, apenas sentindo os passos da mãe Eloise já notou que era hora de se retirar. Benedict por outro lado mantinha a mesma postura, garoto petulante!

Ela entrou no cômodo e exigiu que Benedict fechasse a porta, já que ela não pediria nada a aquele ingrato, desonrador de jovens em situação de necessidade.

– Eu não sei nem o que te falar, Benedict. Este é um erro que eu pensei que você jamais cometeria.

Benedict segurou uma risada.

Benedict Bridgerton, você perdeu o medo de morrer?

Agora o rosto dele tentou atingir uma expressão séria forçado.

– Como você teve a coragem de transformar a sua camareira em sua amante, e debaixo do meu teto?

Meu teto – corrigiu Benedict.

– Apenas pelas leis de primogenitura e linhagem sanguínea. Você sabe muito bem que eu mantive essa família unida depois do falecimento do seu pai, eu criei oito filhos sozinha, ninguém, nunca me agradeceu por isso – disse Violet começando a chorar.

Benedict engoliu em seco e percebeu que era a hora de recuar, ele tentara sua clássica ironia e claramente foi em vão. Ele precisaria ser honesto e verdadeiro com a mãe. Abraçou-a e começou a falar:

– Me desculpe se nunca agradeci, mãe. Talvez essa tenha sido a minha maior falha, não reconhecer todo seu trabalho e esforço. Eu te amo, mais que tudo. Mas, agora devo lhe dizer que meu coração não é integralmente da senhora. – Violet ergueu o olhar e cravou os olhos no fundo das órbitas de cor clara do filho. – Eu a amo, mamãe. Sophie, eu amo a Sophie. E não consigo mais viver tentando esconder isso. Antes que me pergunte, não, isso não foi premeditado. Não, eu não me apaixonei por ela durante um caso de caráter sexual. Eu me apaixonei pela alma dela, pelo jeito que ela sorri, pela forma como ela cuidou de mim quando eu estava doente. Eu me apaixonei pelo todo e sinceramente, eu não fiz nada sob o teto desta casa, ontem foi nossa primeira vez tendo relações não aprovadas pela religião ou qualquer um. E a última.

Violet tentou entender essa parte se o filho amava tanto Sophie assim, por que ele iria desistir dela?

– Benedict eu...

– Eu vou me casar, mamãe, com ela. Não importa o que digam, eu vou me casar com a Sophie. Ela vai estar ao meu lado na cerimônia de passagem do Condado para a família Bridgerton. Eu vou ser pai dos filhos dela e isso me deixa orgulhoso, feliz e de coração quente, porque eu sei que estou fazendo a coisa certa!

– Oh, meu filho – Violet abraçou Benedict. – Eu estou tão feliz que você finalmente encontrou o amor!

– Eu também mamãe, eu também!

– Precisamos organizar o casamento, não? – ela perguntou.

– Sim, e acho que conheço a pessoa certa para isso. Eloise, eu sei que você está escutando, pede para a Sophie, que está atrás de você, entrar aqui, por favor.

Neste instante a porta se abriu revelando uma Eloise chateada por ter sido descoberta e uma Sophie radiante, provavelmente ciente da belíssima declaração de Benedict. A segunda garota, entretanto, não conseguiu se controlar. Correu e pulou nos braços de seu amado.

– Eu te amo tanto, mas tanto. Você é meu tudo – disse Sophie abraçando Benedict.

– Eu também te amo – ele a envolveu em seus braços, colocou o cabelo dela atrás da orelha e ficou olhando fixamente para o rosto dela.

– Tudo bem, podem se beijar, seus grudentos – disse Violet.

Benedict, então, puxou Sophie para mais perto de si, aproximou sua boca dela vagarosamente e deu-lhe um beijo suave e apaixonado. Ele a amava e aquela era só a confirmação disso e ele precisava de mais. O visconde separou seu corpo do de Sophie para que a família não tivesse que ver algo ainda mais constrangedor.

– Você, vai dormir no meu quarto – falou Benedict.

– Mas, vocês nem são casados ainda! – retrucou Violet.

– Podemos resolver isso em alguns minutos, esqueceram que viscondes tem funções jurídicas? – comentou Eloise.

– Silêncio! – disse Violet enquanto Benedict apoiava Eloise.

– Sophie vai para o meu quarto esta noite, em menos de quarenta e oito horas estaremos casados e em quatro semanas seremos Conde e Condessa de Kent. E sim, esta é a decisão final.

– Senhor Conde – ironizou a mãe. – O senhor não acha que a condessa precisa de um quarto só dela?

– Não – respondeu Sophie. – A condessa já passou vinte e dois anos longe de seu conde, ela não vai passar nem mais um minuto.

Violet abriu um sorriso iluminado.

– Tudo bem, vocês venceram. Vamos embora, Eloise – disse Violet.

– Ah nã... – nem tiveram tempo de ouvir a reação da garota, pois Violet a puxou para fora do escritório e fechou a porta com uma velocidade assustadora.

Benedict e Sophie se beijaram, e mais, e mais. Só pararam por entender que o escritório de Lady Bridgerton não era um local adequado para a cópula, infelizmente.

– Mais tarde, no meu quarto – ele disse.

Nosso quarto – corrigiu ela.

~

Sophie não podia acreditar que aquele era seu quarto. Evidentemente a decoração era extremamente masculina, mas nunca em sua vida poderia imaginar que voltaria a ter um quarto tão luxuoso e confortável novamente. Uma cama de dossel, com o brasão da Casa Bridgerton na cabeceira e madeira esculpida, uma obra de arte. Cortinas azul royal pendiam das janelas e harmonizavam perfeitamente com os detalhes dourados do quarto principal da propriedade. Além disso: armários, um espelho imensos, colchão confortável, lençóis de algodão edifício com uma quantidade absurda de fios, cobertores confortáveis, uma lareira luxuosa. Tudo perfeitamente organizado e pensado. Ela estava amando sua nova vida.

Mas o luxo não era a única coisa que agradava Sophie naquela situação. O homem de peito nu deitado ao seu lado na cama também era um sonho realizado. Ele era forte e carinhoso, decidido e atencioso. Benedict mesclava perfeitamente o homem de certo público com o artista sensível. Ele era o sonho de todas as mulheres da alta sociedade e Sophie deveria saber que haveria retaliação após seu casamento com uma reles arrumadeira. Por Deus, e se Araminta estivesse em Londres? Mas, agora não era hora de pensar nisso, ela deveria pensar nele, em seu amor e na vida que irão construir juntos. Isso bastava para Sophie.

Benedict, aquele homem, tinha tudo a perder e arriscou tudo por ela. Ele a amava, ela o amava, mais que paixão e desejo, mais que a vontade exacerbada de uma união carnal constante possibilitada por um casamento. Eles se entendiam, Sophie era como Benedict e Benedict era como Sophie. Suas almas eram conectadas e isso faria tudo ficar, isso faria tudo dar certo. Pois, no fim das contas, tudo não passa de uma questão de compreensão.

O Novo Visconde (uma história Bridgerton) Onde histórias criam vida. Descubra agora