Capítulo 17, ou uma querela de influentes

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– Com todo o respeito, ou não. A única pessoa neste recinto que não tem um sangue nobre é a senhora. Já que sendo uma alpinista social, nunca teve qualquer ligação genuína com uma família da alta sociedade. E, minha esposa, muito pelo contrário, é filha do Conde de Penwood – falou Benedict.

Sophie estava perplexa, jamais pensou que Benedict seria capaz de ser rude com alguém. Aparentemente uma circunstância realmente faz um homem. E que homem. Seu marido estava completamente encharcado, correra na chuva como o perfeito cavalheiro que realmente era, aparentando ter saído das páginas de um conto de fadas, para resgatá-la. Estranhamente nenhuma das coisas que ela havia lido mais cedo a incomodavam. Benedict estava ali, ele havia corrido para finalmente destruir o império de perversidade de Araminta e se aquilo não era a prova de que ele a amava, Sophie não sabia o que era.

Araminta estava estática, tentando processar o que estava acontecendo. O conde de Kent realmente havia chamado-a de "alpinista social"?

– Ah, claro, senhor Bridgerton... – começou Araminta, mas logo foi interrompida por Benedict.

– Para você é Lorde Kent.

– Claro, e qual será seu próximo passo? Jogar sujo até consegue um ducado, assim como conseguiu seu condado?

Benedict cerrou os dentes e travou a mandíbula.

– Jogar sujo? – indagou o Bridgerton.

– Ora, todos sabemos que seu irmão matou o Duque de Hastings e que sua irmã, a Princesa Daphne, nunca o perdoou por isso e jamais perdoará. O senhor se aproveitou da vontade de vossa majestade a rainha de sempre estar certa, e casou Daphne com um príncipe – ela fez uma pausa. – É claro, Lorde Kent, que isso não foi tudo, o senhor sabia que a rainha jamais aceitaria a parente de um mero visconde como membro de uma das famílias reais mais importantes da Inglaterra, família essa cujo sangue corre nas veias dela. Então, para finalizar seu planinho mequetrefe o condado veio junto.

Sophie estava parada, aparentemente em estado de choque. Será que ela realmente achava que Benedict fez tudo aquilo de forma premeditada? Que usara Daphne daquele jeito? Não, ele poderia muito bem conviver com Aramintas da vida julgando seu caráter, mas não poderia viver com Sophia Maria Beckett Bridgerton, a Condessa de Kent, sua esposa, a mulher que ele mais amava no mundo, achando que ele era um espécie de monstro interesseiro.

Ora, sua desgracada! – Benedict rugiu.

Araminta recuou e lhe lançou um olhar condescendente

– Vai me bater, seu aproveitador, articulador?

– Ah, de forma alguma, Lady Penwood. Eu jamais levantaria um dedo. Nem mesmo para a mais infame das mulheres de toda a Inglaterra.

– Patético – disse ela revirando os olhos.

– Ora, vamos ver quem é o aproveitador? – começou Benedict. – Vejamos, a senhora já foi casada com um mercante bem rico, mas ele magicamente morreu. Deixando-a com duas filhas, pobres garotas. Foi quando a oportunidade de sua vida surgiu! Lorde Penwood estava solteiro. Então, a senhora seduziu-o e se casou com ele. Enfim, tinha tudo o que queria, dinheiro, posição, influência. Oh, não. A senhora não tinha influência, nem na sociedade, nem sobre o conde. Por quê? Porque o coração dele já tinha uma dona, e não de forma apaixonada, não. Lorde Penwood era completamente dedicado a Sophie, e você, sua insignificante não pode lidar com o fato de que só era um plano para manter o bem estar da menina depois que ele se fosse. Mas, o que te corrói mais? O amor dele por Sophie, ou o fato de você não ter conseguido lhe dar filhos? Me pergunto isso sem...

Antes que Benedict pudesse terminar a palavra Araminta correu em sua direção, perdendo todo o seu controle e avançando violentamante.

Pare! – gritou Benedict. – Ou você quer que eu chame um guarda e lhe conte que você roubou o dote de Sophie?

Seu pedaço de merda mimado! – berrou Araminta.

Neste momento o chefe da guarda da cadeia apareceu no corredor.

– Que bagunça é essa aqui? – disse o oficial.

– Esta mulher está claramente fora de seu juízo e está acusando minha esposa de crimes que ela não cometeu! – exclamou o conde. – Além de estar tentando me agredir, é claro.

– E quem é você? – indagou mais uma vez o oficial.

Benedict encarnou sua postura mais austera e o olhou de cima a baixo.

Benedict Bridgerton.

– Benedi... – o homem parou no meio da frase. – O senhor é Lorde Kent?

Benedict apenas assentiu.

– Me perdoe, eu não tive a intenção de ofendê-lo, Lorde Kent. Então, então esta mulher é a condessa de Kent? – disse ele apontando para Sophie na cela.

– Se é minha esposa, presume-se que sim! – respondeu Benedict sem paciência, ele já não suportava mais ver Sophie naquela situação.

O homem então pegou um molho de chaves em seu bolso e abriu a cela.

– Não, não, não! Esta mulher é uma criminosa! – gritou Araminta. – Como pode soltá-la assim? Ela é uma ladra, ladra! Eu sou a condessa de Penwood, eu era esposa do falecido conde de Penwood. Eu sou mais importante, eu sou mais relevante. Eu!

Benedict se aproximou dela e sussurrou uma coisa em seu ouvido. Araminta se calou imediatamente.

– Coitada, acho que ela esqueceu das vantagens de estar tão perto da realeza – disse Benedict.

– O senhor quer que eu a prenda? – indagou o oficial.

– Não precisa, ela vai parar de incomodar, não é Araminta? E nunca mais vai chegar perto da minha esposa de novo, nunca!

Araminta assentiu e saiu correndo, um pouco aterrorizada. O oficial terminou de destrancar a fechadura e Sophie finalmente estava livre. Ao invés de esperar que sua amada saísse da cela, Benedict correu para dentro do quarto penitenciário, como ele havia chamado mentalmente para aliviar o peso do local, e beijou-a apaixonadamente. O amor entre os dois era tão verdadeiro e tão latente que o próprio guarda notou que estava emocionado e Sophie teve a mais plena certeza de que nada daquilo que ela pensava que fosse verdade era realmente verdade. Benedict jamais seria capaz de traí-la.

– Eu te amo – disse Sophie.

– Eu te amo mais – disse Benedict.

– Eu acho que disso eu não posso discordar – afirmou Sophie e os dois saíram andando abraçados, juntos e sorrindo.

O Novo Visconde (uma história Bridgerton) Onde histórias criam vida. Descubra agora