Capítulo XVIII

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" Nossas vidas começam a terminar no dia que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam.
Martin Luther king

Na aula de hoje , um aluno , apareceu com o braço quebrado , há duas semanas atrás venho acompanhado de um olho roxo, curiosamente, a Megan , mãe dele, também, muita coincidência, quando perguntei disse que haviam caído na escada, vivia com o padrasto, pois , o pai legítimo foi comprar uns cigarros e sumiu, isso foi tudo que sabia até aquele momento.

A violência doméstica, vive disfarçada por aí, no entanto, o corretivo cobre, as roupas largas também, impossível não falar do machismo, quando se toca neste assunto, desde pequenas, nós mulheres fomos instruídas, do que fazer e não fazer. Lave, passe, cozinhe e cuide dos filhos, esta foi a lei dos anos 50, e ainda impregnado na sociedade.

Então, muitas de nós tornaram-se cientistas, entretanto, fizeram muitas descobertas e foram substituídas por nomes masculinos, e muitas outras acabaram deixando de lado os sonhos, ocupando pelo o dos afazeres domésticos e quantas coisas ficaram por descobrir, inúmeras.

Basta pesquisar um pouco fomos ter direito ao voto em 1932, até mesmo na democracia da Grécia, antiga, não tínhamos o direito de participar das decisões, no iluminismo, começamos a buscar nossos direitos e ainda hoje recebemos 12% a menos, tudo isto influencia sim a violência, como aquele ditado popular" Em briga de marido e colher não se mete a colher.", a partir daí que deu início aos maus tratos, mortes e a delegacia da mulher, uma baita conquista no Brasil, mas quase ninguém entende porque algumas retiram a queixa e voltam, poucas condições financeiras, o preconceito no mercado de trabalho e a famosa pergunta na entrevista: " seus filhos não irá atrapalhar no trabalho?", ou , " muda a foto do currículo, parece muito independente e cheia de si, por isso, te chamei , somente, por curiosidade".

Simplesmente, não podia deixar tudo aquilo como estava, a chamei para um canto.

- Qualquer coisa liga pra mim tá.- anotei meu número no papel, entregando-a.

- Mas...- devolvendo-o por medo dele descobrir e descontar a raiva nela.

- Tudo bem... Não precisa falar nada, já sei...- a abracei e ela começou a chorar, um misto de não saber que reação ter perante a situação e medo de morrer.

- A culpa é minha, sempre faço tudo errado.

- Não é sua culpa de forma alguma, precisa sair dali, salvar seu filho , foi o padrasto dele não foi que o bateu?- alcançando uma cadeira.

- Não posso dizer.- já confessando a verdade.

- Entendo sua necessidade de esconder, não precisa explicar nada, faz um favor sai de lá, pois a próxima vez pode não ter a oportunidade de sair viva.

- A senhora não entende, Ricardo , é muito perigoso, toda noite dorme com uma faca debaixo do travesseiro, é sério.

Os danos na alma desta mulher era profunda demais, resultado dos apertos contra a parede, o tapa na cara e as torturas psicológicas do tipo: " Quem irá querer você, já se olhou no espelho?", " Trabalhei o dia inteiro e o você o que faz , uma porcaria de janta." Quando se dão conta a vontade de viver foi embora levando nas malas a autoestima.

- Vem morar comigo eu os protejo, não tenho medo de nada, minha casa é daqui à quatro quadras, traga suas roupas e vem pra cá, assim que bater, voltamos juntas, quero ajudar , não há a possibilidade de ficar só observando.

- Ontem ele pediu desculpas, prometeu mudar.- com os olhos inchados de tanto chorar.

- Veja, é este o futuro que tu sonha em dar pro seu menino, tu sabes que não vai mudar, arruma suas coisas e vem comigo pra nossa casa, caso assim, queira chamar.

- Por que está nos ajudando?- mantendo o foco nas crianças, brincando na educação física.

- Já vivenciei.- apertando suas mãos.

- Tá bem!- por um momento feliz- vou arrumar as coisas, obrigada de coração.- dando um beijo no rosto.

Fiquei esperando-a mais não apareceu, de repente foi 15:00, 16:00, e finalmente bateu pra sair e nem rastro de Megan. Após isso, Fernando esperou 30 minutos, como não dei sinal resolveu entrar, expliquei-lhe tudo.

- Vamos levá-lo á sua casa, antes de tudo pega o endereço dela, vou verificar o que aconteceu.

Peguei a bolsa entrei correndo no carro, "de novo não", mentalizava comigo mesma, coloquei Joaquim no banco de trás.

- Por que minha mãe, não venho me buscar, prof.?- havia medo em sua expressão , terror, mais especificamente.

Nós nos entreolhamos, procurando alguma resposta.

- Bom... ela pediu , mas, é só hoje.- respondi tentando acalmá-lo.

- Prof. não sei.- ficamos em silêncio pois não sabíamos o que dizer.

- Ei, garoto- comovido- tudo vai ficar bem.

Assim que chegamos liguei a TV e o Nando foi ver porque ela não venho.

Para sempre, CharlieOnde histórias criam vida. Descubra agora