Senti o corpo de Bianca ficar tenso quando os braços de Isabela me deram um abraço desengonçado, para logo em seguida beijar meu rosto.
— Você veio sozinha de São Paulo?
A expressão era de enfado, enquanto lutava para que os saltos agulhas não afundassem no solo. Encontrava-me bastante surpreso e temeroso, Isabela dificilmente aceitava uma resposta negativa e minha vontade era de saber como Monteiro aprovou isso. O grande propósito dela era fazer tudo que desejasse e não perdia a oportunidade de mostrar a proteção do pai sobre seus caprichos.
— Ah! Gui, estava cansada das suas promessas. Além disso, minha mãe está um saco com a ladainha de sempre — ela disse, cruzando os braços — Primeiro ela apoia minha viagem para Los Angeles e depois faz aquele escândalo de que eu preciso de um curso superior, pois não os terei para sempre.
Isabela tinha um intento que se limitava a gastar o dinheiro de Monteiro. Porém, se negava a aceitar conselhos.
— Sabe que Vera Lúcia está certa. Você já não é nenhuma criança e precisa tomar decisões.
Bianca continuava em silêncio, mas a tensão não dissipava.
— Até você? Isso eu não aceito, Gui — ela reclamou, focando seus olhos em Bianca — Pelo visto tem feito más escolhas.
— Isabela! — Minha repreensão foi facilmente ignorada.
— Você é o que dele, afinal?
— Bianca Moura, a namorada — respondeu, estendendo a mão para Isabela que desconsiderou o gesto — Só estou curiosa sobre o porquê de tanta rispidez, Isabela.
— Não sou fã de roceiras, querida — ela articulou — Agora pode me ajudar com as malas, Gui? Estou exausta com a viagem e temos muito que conversar, especialmente o motivo para meu pai estar tão irado.
Esfreguei o maxilar, incomodado com a situação. Não havia motivos para Isabela ser tão arisca com Bianca.
— Você passou do limite, Isabela! Peça desculpas.
— Sério? — Ela perguntou com zombaria, olhando minha namorada de cima para baixo com desprezo.
— Deixa, amor — Bianca pediu, segurando meu rosto — Prefiro ser uma roceira que trabalha de sol a sol com honestidade a ser uma filhinha do papai que não sabe nem pentear o próprio cabelo — argumentou encarando minha irmã — Você desconhece o poder dessas palavras hoje, talvez amanhã você acorde para a realidade.
— Já estou satisfeita com a minha realidade, querida — Isabela rebateu — Espero você lá dentro.
Respirei fundo, enquanto a peralta apontava para minha casa.
— Como conheceu essa serpente? Tão preconceituosa! — Bianca olhava em sua direção — Eu só consigo sentir pena — disse pasma — Quem é o pai de Isabela? E por que está furioso contigo?
Tomei sua mão entre as minhas, beijando seus dedos. Eu não queria dizer dessa maneira, nós ainda precisávamos ter uma conversa franca. Bianca merecia conhecer tudo sobre as fases cruciais da minha vida.
— É o Monteiro — respondi — Mas, não faça outra pergunta, por favor.
— Oh, meu Deus! Aquela garota está interessada em você — Bianca ofegou, dando alguns passos para trás e colocando as mãos sobre a cabeça — Quantos estragos esse homem ainda deseja, Guilherme? Acabei de sentir ciúmes de Isabela e agora descubro que é sua irmã. O pior é que ela nem sonha com essa hipótese!
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Em Um Gesto
RomanceNinguém era capaz de entender o amor por suas raízes. Bianca não se importava com as implicâncias, apelidos ou preconceitos - tudo que desejava era trabalhar no que acreditava - por isso, ao escolher o curso de Medicina Veterinária, optara pelos ani...