Décimo Capítulo: Bianca

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O final de semana com Maraísa havia sido resumido com a noite de sexta-feira e início da manhã de sábado, pois eu levava ao pé da letra a ameaça de Guilherme e a última coisa que desejava era uma cena. Imagina o que meu pai faria quando Maraísa dissesse que um peão me sequestrou após cumprimentá-la? No mínimo Álvaro pegaria emprestado a espingarda do senhor José e iria atrás de mim.

— Muito pensativa para o meu gosto — mamãe disse, continuando a trançar meu cabelo.

— Estou sentindo-me como uma escala — reclamei, comprimindo os lábios — Quando disse que viria me visitar, fiz tantos planos e até suportaria algumas horas assistindo um filme romântico e dramático.

— Mas eu estou aqui — ela afirmou, segurando em minhas bochechas; uma mania que até hoje não gosto.

— Sei e daqui a pouco irei despachá-la para São Paulo, isso é uma violação do manual materno. Vou ter que conversar seriamente com Gabriel, ele insiste em roubá-la de nós.

Quando Álvaro e Maraísa disseram que o convidariam para o casamento, tentei com o aeroporto uma maneira de não permitir que viajasse. A maior preocupação era que  ficassem até o ano novo e depois roubassem Maraísa por causa da revista. O pior de tudo foi o castigo, o primeiro de muitos em minha espetacular infância.

— Priscila comentou sobre um touro marrento.

Grande novidade! Minha amiga era uma fofoqueira de primeira instância.

— É uma brincadeira entre mim e meu supervisor, Guilherme é um homem legal — disse tentando transparecer credibilidade. Legal? Era uma palavra inaceitável para descrever qualquer ser humano.

— E Caio? Você não disse nada sobre seu namorado.

E realmente não havia nada para ser dito, ele apenas mandou uma mensagem de madrugada para avisar que o trabalho científico o impedia de socializar conosco.

— Ele está ocupado, mas garantiu que viajaremos juntos até Ribeirão Preto na próxima semana.

— Seu pai queria muito um almoço para conhecer os pais dele.

Se até lá estivermos juntos.

— Vou sugerir em breve.

Maraísa abraçou-me, fitando nosso reflexo no espelho.

— Lembra do seu primeiro namorado?

Gemi internamente, nem com o passar dos anos eu conseguia entender o pane em meu cérebro. Número um era um rapaz bonito e conhecido na cidade por ser filho de um importante vereador.

— Eu gostaria de esquecê-lo, mãe — respondi com muxoxo.

— O que eu quero que você entenda, Bianca, é que não pode mudar as pessoas. Os defeitos do outro não veem num pacote separado.

— Não quero desaparecer com os defeitos de Caio — eu não estava sendo totalmente sincera — Só desejo que ele se importe mais com nosso namoro, não quero chegar aos trinta anos e ser uma mulher sozinha.

— Não seja precipitada, Bianca — minha mãe pediu.

— Eu sei, mas sabe quantos vinte e cinco de julho cairá em um sábado pelos próximos anos?

Maraísa riu, descansando as mãos em meus ombros.

— Tudo tem seu tempo.

— Exatamente! — Disse, levantando — Agora necessito de um café da manhã e levá-la ao aeroporto. Mas, tem que prometer ficar mais uns dias comigo na volta.

Em Um GestoOnde histórias criam vida. Descubra agora