Décimo Nono Capítulo: Guilherme

10.8K 909 35
                                    



— Me conta logo o motivo para estar tão nervoso, filho. E nem tente negar, eu conheço você para saber que algo o atormenta.

Balancei a cabeça, confuso com seu olhar autoritário. Eu bem que poderia fingir que estava tudo em ordem, mas como mentir para sua própria mãe de um jeito convincente? Em vinte e oito anos e nunca consegui inventar uma doença que me mantivesse longe da escola. Dona Gislene sempre soube quando arrumava uma briga e nem sempre o fofoqueiro era o olho roxo.

— Desiste, mãe!

Ela arrastou a cadeira e sentou com braços cruzados, a sobrancelha arqueada:

— Quero saber por que um advogado tem ligado. Agora, Guilherme!

Cocei a cabeça, desconfortável. Se dependesse de Benedito e eu jamais a situação de Leotie ganharia novos espectadores. Não com a condição atual! Nós havíamos conseguido o parcelamento da dívida e quitado a primeira, mas ainda existia o problema das demais e sobre como arrecadaríamos o valor sem deixar outras pendências.

— A senhora lembra dos documentos que Rubem pediu que assinasse? — Perguntei direto e ela maneou a cabeça, pensativa — Então, eles são o começo dessa tempestade, dona Gislene.

— Uai, estávamos tentando conseguir um empréstimo para comprar aquelas terras onde funcionava o hipódromo. Na época Conrado fez um preço bom — minha mãe argumentou, colocando as mãos sobre os joelhos.

— Ele nos enganou, mãe. Durante o tempo que ficou responsável por nossas financias Rubem agiu por nossas costas.

Ela se levantou, a mão na cintura:

— Por que?

Levantei-me também, desviando da mesa para abraçá-la. Eu não queria que sentisse culpa, na verdade eu deveria ter batido o pé e continuado tocando a fazenda.

— Não sei, dona Gislene,  agora estou tentando negociar nossa dívida — encostei o queixo em sua testa — Vamos encontrar um caminho para tudo isso, Silas é um homem esperto quando o assunto são números e Frederico é bom de papo.

— Se eu não tivesse assinado, Guilherme, parecia tão certo as informações.

— Não fala besteira, mãe — pedi, esfregando suas costas com ternura — Eu prometo que não vamos perder nenhum hectare, tem que se manter firme, ouviu dona Gislene? Só posso continuar com esse jeito durão se a senhora estiver ao meu lado — articulei, beijando sua têmpora — Somos uma dupla, certo?

Minha mãe suspirou, tomando meu rosto entre suas mãos:

— Primeiro menti para seu avô e agora estamos pagando por ter confiado numa pessoa tão baixa. Eu nunca aprendo, filho? — Admitiu triste, os olhos marejados.

— Não fale asneiras, mãe! Eu vou arrumar um jeito de acertar tudo.

***

Na terça-feira não tive motivos para ir até Belo Horizonte, contentando-me nas ocupações de Leotie. Depois de ajudar na ordenha e no resfriamento do leite até que viessem buscá-lo, reiniciei a vacinação dos potros. Ainda precisava dar minha resposta a Conrado sobre a doma de seus cavalos quarto milha. Não era segredo para ninguém essa minha paixão, mas me comprometer no momento era uma tarefa difícil.

— Contei, patrão, que Priscila me passou o número do celular? — Nathan perguntou com o peito estufado — Fala alguma coisa.

Franzi o cenho, retirando a sela de Preciosa:

Em Um GestoOnde histórias criam vida. Descubra agora