Sétimo Capítulo: Guilherme

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Não foi nenhuma surpresa o desagrado que Bianca sentia por estarmos no mesmo carro. Eu a observava de soslaio, enquanto ela buscava olhar para todas as direções, exceto para mim.

— Você prefere que eu leve a caminhonete depois? Conheço um excelente mecânico.

Bianca encheu a boca de ar e deu de ombros.

— Talvez seja um problema na bateria, é mais comum do que imaginamos — continuei tentando manter uma conversa, os faróis iluminavam a estrada de terra.

— Não precisa ser gentil, Guilherme, às vezes o silêncio é um ótimo companheiro.

Apertei o volante, pisando no acelerador.

— Eu só estou sendo educado, Bianca!

— Uau! — Ela exclamou, sorrindo — Finalmente parou de me chamar pelo sobrenome, terei que continuar tratando-o de maneira fria para que diga meu nome. Não é algo que me agrade.

Foi inevitável não sorrir:

— Então, posso cuidar da caminhonete?

— Agradeço a boa vontade, mas meu mecânico é muito ciumento — ela respondeu, utilizando um tom desconhecido para mim — Eu até acho que isso foi obra dele.

— Por acaso vendeu uma bateria estragada?

Bianca meneou a cabeça em descrença.

— Quando resolvi ir a Ipatinga procurei a oficina, eles estavam ocupados e a revisão teria que ser adiada para outra semana — ela disse, suspirando — Usei todos os argumentos possíveis, mas Neto não me deu escolha. Acabei procurando outra oficina e ele me acusou de traição, ainda jogou uma praga.

— Uma história bizarra — falei, rindo — Não acredito nessas coisas.

Bianca olhou-me com aborrecimento, cruzando os braços.

— Você jamais entenderia, Guilherme, é muito cético para um matuto.

— Sabe que posso abandoná-la aqui e voltar à fazenda sem remorso — retruquei sem muita convicção de minhas palavras — Além disso, você é de longe uma patricinha da cidade.

— E como chegou a esse julgamento? Você não conseguiria dormir e sentiria culpado ao me deixar aqui — ela disse, curvando o tronco para frente e respirando fundo.

— Ainda está sentindo mal?

Bianca arregalou os olhos, antes de crispá-los:

— Pensei que fosse errado ouvir a conversa dos outros, sabia. Mesmo que seja o patrão, Guilherme.

— Não estava bisbilhotando, mas conheço Nathan e sei que ele não ficaria preocupado caso não fosse importante.

— Tudo bem, não estou realmente doente é só um mal-estar passageiro. Amanhã estará tudo em ordem e você poderá me obrigar a lavar todos os currais e até a capinar.

— Certo, doutora. Irei me lembrar dessas atividades.

Eu sabia que não havia sido apropriado colocá-la para cuidar sozinha dos cavalos, mas Bianca tornava-se irritante quando seus olhos insistiam numa acusação sem fundamentos. Nas horas que passamos juntos, ela vivia aproveitando as ocasiões para fazer um comentário seva, especialmente na presença dos empregados. De alguma maneira surreal, sentia-me ameaçado e intrigado.

— Posso fazer uma pergunta? — Ela pediu após um breve silêncio.

— Não prometo responder.

— Cuidar da fazenda sempre foi sua prioridade?

Em Um GestoOnde histórias criam vida. Descubra agora